A TVI suspendeu a rubrica “Diga de Sua (In)Justiça”, da autoria de Bruno Caetano, na sequência da polémica entrevista a Mário Machado, líder de um movimento de extrema-direita, que aconteceu na última quinta-feira, dia 3 de janeiro. A direção de programas decidiu suspender a rubrica em questão, tal como anunciou o apresentador Manuel Luís Goucha na noite de sexta-feira no programa da TVI “Deus e o Diabo”. A suspensão acontece por “quebra de confiança”.

O apresentador defendeu-se também das críticas, durante o programa. Disse  que foi informado do convite a Mário Machado por Bruno Caetano “a 27 ou 28” de dezembro e que não se recusa a uma conversa. “Quem viu não pode dizer que não fiz o trabalho de contraditório. Perante afirmações perigosas com as quais não pactuo, com as quais não me revejo, fiz o trabalho de desmontar aqueles argumentos. Perante o facto de ter um convidado no estúdio para conversar com ele, não me inibo de entrar num debate ou numa conversa mesmo que existam ideias perigosas veiculadas por alguém”.

Diretor de informação da TVI visa ministro da Defesa com caso Le Pen

No programa “Deus e o Diabo”, de José Eduardo Moniz, esteve também o diretor de informação da TVI, Sérgio Figueiredo. O responsável da estação quis responder ao ministro da Defesa João Cravinho, que disse que a atitude da TVI ao convidar Mário Machado não foi “muito diferente de quem ateia incêndios pelo prazer de ver labaredas”. Sérgio Figueiredo respondeu assim:

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O sr. ministro integra um governo que recusou pedir à organização da Web Summit que retirasse o convite dirigido à senhora Marine Le Pen para fazer um discurso no evento. Ao sr. ministro pergunto se esta senhora de extrema-direita francesa, que inspira movimentos xenófobos por toda a Europa, não cabe também ela na categoria dos incendiários”, apontou Sérgio Figueiredo.

O diretor de informação da TVI criticou ainda o Sindicato dos Jornalistas, que pediu à Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ) que avaliasse procedimentos disciplinares à TVI. Disse Sérgio Figueiredo: “O Sindicato dos Jornalistas em vez de separar águas e esclarecer confunde as pessoas. Ao apresentar uma queixa contra a TVI está a atacar o jornalismo da TVI quando o devia defender. Já que não o fazem, compete-me a mim fazê-lo. Como é natural e óbvio a direção de informação [da TVI] não participa nos convites a participantes de programas de entretenimento. A informação da TVI defende a democracia acima de tudo, fazendo um jornalismo independente e forte. Não há uma democracia forte sem isso”.

Para que fique mesmo claro: a informação da TVI e a TVI consideram que o modelo de sociedade que o sr. Mário Machado defende é repugnante e é abjeto. É algo que nos nossos dias representa um perigo para a sociedade. Mas quando é diagnosticado um cancro na sociedade não posso permitir que opinadores inflamados e alguns defensores da moral ataquem quem diagnostica o cancro, quem diz que ele existe”, concluiu.

“Precisamos de um novo Salazar?” ERC analisa queixas contra Mário Machado em programa da TVI

Na última quinta-feira, Mário Machado, condenado pelo envolvimento na morte do Alcindo Monteiro, assassinado no Bairro Alto em 1995, foi convidado a participar no programa “Você na TV!”. A conversa tinha como tema “Precisamos de um novo Salazar?” e inseriu-se na rubrica “Diga de Sua (In)Justiça”. Mário Machado, líder do movimento de extrema-direita Nova Ordem Social, foi ainda ao programa SOS 24, na TVI 24. A sua participação foi desde logo contestada nas redes sociais e, no mesmo dia, foram muitas as queixas que chegaram à Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC).

Também o SOS Racismo condenou a presença de Mário Machado no programa: “A decisão da TVI de convidar Mário Machado é muito mais do que uma estratégia de branqueamento do passado criminoso e nazi-racista de Mário Machado. É mais grave ainda porque denota sobretudo um inqualificável desejo de fascismo, de normalização e legitimação política e social da extrema-direita, como tem acontecido um pouco por toda a parte, no mundo em geral e, na Europa, em particular”, disse a organização antirracismo em comunicado. Recorde-se que Bruno Caetano, autor do convite a Mário Machado, defendeu em direto na estação ser necessária “mais autoridade”, associando-a a Salazar.

Manuel Luís Goucha reage a polémica com Mário Machado: “Nem eu nem a Maria branqueámos a conversa”

Manuel Luís Goucha defendeu-se pela primeira vez na sexta-feira. Numa entrevista ao jornal Público garantiu que nem ele, nem Maria Cerqueira Gomes, a nova apresentadora do formato, branquearam a conversa: “Nem eu nem a Maria branqueámos a conversa. É preciso sermos contundentes na defesa dos valores da liberdade. Eu não quero ditadores no meu país, sejam de direita ou de esquerda”.

O apresentador defendeu a mesma ideia nos primeiros dez minutos do programa “Você na TV” na manhã de sexta-feira. Assim que o formato começou, Manuel Luís Goucha aproveitou para assegurar que Mário Machado foi convidado pelo autor da rubrica “Diga de Sua (In)Justiça”, Bruno Caetano, defendendo ainda que  “todas as ideias podem ser discutidas na televisão” desde que exista o devido contraponto. Referindo-se à “acesa discussão” nas redes sociais e até na comunicação social que foi “galvanizada” durante a tarde, Goucha afirmou ainda que a opinião de “largas centenas” deverá refletir “a postura de alguém que não se deu ao trabalho de ir ver a conversa”. “Claro que as ideias de Mário Machado são perigosas”, acrescentou.

Bruno Caetano, responsável pela rubrica “Diga de Sua (In)Justiça”, também usou as redes sociais para se defender: “Para que fique bem esclarecido, quando convidei o cidadão Mário Machado ficou sempre evidente que se tratava pura e simplesmente de uma entrevista que falava das convicções deste acerca de Salazar”.