Há um exemplo claro de jogador que deu nas vistas em Portugal mesmo sem passar por nenhum “grande” e que é um autêntico deus no seu país pelos seus feitos futebolísticos: o egípcio Abdel Ghany. Jogou no Al Ahly, esteve no Beira-Mar entre o final dos anos 80 e o início da década de 90 ao longo de quarto temporadas, voltou Al Masry e hoje é uma espécie de sumidade daquelas que têm direito a tratamento VIP onde quer que estão e que basta falarem para ser feita lei. Depois, há Sunil Chettri. Que também passou por Portugal (neste caso sem o mínimo sucesso), que também é uma autêntica pop star do seu país e que, agora, pelo que faz dentro de campo, está a ser falado um pouco por todo o mundo por um surpreendente feito.

No arranque da Taça da Ásia – que para quem está menos familiarizado, existem dois treinadores portugueses na competição: Carlos Queiroz no Irão e Paulo Bento na Coreia do Sul –, a Índia fez história ao golear a Tailândia por 4-1, naquele que foi o primeiro triunfo desde 1964, edição em que conseguiram duas vitórias (depois disso somara um empate e seis derrotas em duas edições). Em paralelo, o avançado do Bengaluru apontou dois dos golos – e é aqui que está a outra parte a dar que falar.

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Com os golos apontados na primeira jornada do grupo A da Taça da Ásia, Sunil Chhetri tornou-se o segundo jogador no ativo com mais golos pela respetiva seleção nacional (67), atrás do português Cristiano Ronaldo (85) e superando o outro extraterrestre do futebol da atualidade, Lionel Messi (65). E só nesta prova ainda terá mais dois encontros, frente aos Emirados Árabes Unidos e o Bahrain, equipas que empataram a um golo no jogo de abertura.

“Considerando a big picture, foi um bom mas ainda pequeno começo. Mas vou falar apenas deste jogo – foi algo brilhante fazer parte do caminho que a minha equipa fez. E é ainda mais especial sabermos que fizemos o nosso país feliz, mesmo que tenha sido só um dia”, comentou nas suas redes sociais o avançado após o encontro.

Conhecido como “Capitão Fantástico”, Sunil, hoje com 34 anos, seguiu os passos da família (o pai jogou na equipa do exército da Índia, a mãe e as irmãs representaram a seleção do Nepal) e começou no futebol em pequenos torneios, tendo feito depois o final da formação no City Football Cup. Passou depois por Mohun Bagan, JCT, East Bengal e Dempo, antes de assinar pelos Kansas City Wizards, tornando-se então no primeiro indiano de sempre na MLS. Até ao final de 2008, já tinha sido eleito o melhor avançado e o melhor jogador da Liga indiana mas as experiências no estrangeiro não correram bem – não convenceu nos testes feitos no Coventry, foi impedido de assinar pelo QPR por não ter o visto aprovado, não fez qualquer encontro oficial nos Estados Unidos e, depois de regressar ao seu país, realizou apenas três jogos no Sporting, clube onde foi anunciado na semana em que os leões fecharam um acordo de entrada no mercado indiano (que pouco ou nada daria).

Sunil foi apresentado no Sporting B quando leões fecharam acordo para entrarem no mercado indiano (PUNIT PARANJPE/AFP/Getty Images)

Não se adaptou a Portugal, foi cedido por empréstimo ao Churchill Brothers e acabou por sair mais tarde em definitivo para o Bengaluru, onde ainda hoje está tendo uma época de empréstimo pelo meio ao Mumbai City. Ganhou quatro Campeonatos da Índia por três clubes diferentes (pelo Dempo em 2010; pelos Chruchill Brothers em 2013; pelo Bengaluru em 2014 e 2016), somou ainda mais duas Taças e voltou a ser reconhecido em vários anos, incluindo o último, como melhor jogador da Liga. Agora, como principal símbolo da seleção, assume o objetivo de continuar a tornar o futebol um desporto cada vez mais seguido num país onde as atenções se centram sobretudo no críquete. O feito deste domingo também ajudará a isso mesmo; para Sunil, o próximo objetivo está definido: igualar o número de internacionalizações da sua grande referência no futebol, Bhaichung Bhutia, que tem 107 jogos pela Índia, apenas mais dois do que o atual capitão de equipa.