“No início de 2018, a economia global estava a acelerar a todo o gás, mas perdeu gás durante o ano e agora a viagem pode ser ainda mais turbulenta no novo ano.” O alerta é de Kristalina Georgieva, diretora-executiva do Banco Mundial, no relatório semestral que a instituição divulgou esta terça-feira. Uma avaliação que antecipa “nuvens sombrias” para 2019.

O crescimento económico global, estima o relatório, vai desacelerar de 3% em 2018 para 2,9% em 2019, informou esta terça-feira o Banco Mundial, que identificou vários riscos para as perspetivas económicas, destacando as tensões relacionadas com as “guerras comerciais”. Os peritos do Banco Mundial reviram em baixa as estimativas para ambos os anos em 0,1 pontos percentuais desde o relatório apresentado há 12 meses e projetaram um crescimento de 2,8% para 2020 e 2021.

“As perspetivas para a economia global são mais sombrias. As condições de financiamento global foram apertadas, a produção industrial atenuou, as tensões comerciais intensificaram-se e algumas grandes economias emergentes e em desenvolvimento sentiram uma pressão significativa nos mercados financeiros”, refere o relatório ‘Perspetivas Económicas Globais” de 2019 publicado esta terça-feira.

Os principais riscos para a economia global são a possibilidade de perturbações descontroladas dos mercados financeiros, um escalar de disputas comerciais, a incerteza política e a desaceleração em simultâneo dos EUA e China, as duas maiores economias mundiais.

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Numa apresentação em Londres, a economista Franziska Ohnsorge, uma das autoras do documento, destacou um potencial impacto de uma guerra comercial entre os EUA e China, as duas maiores economias mundiais, se avançarem com o aumento de tarifas aduaneiras. Os peritos do Banco Mundial estimam que, se todas as tarifas atualmente em consideração forem implementadas, afetariam cerca de 5% dos fluxos de comércio global e poderiam prejudicar o crescimento nas economias envolvidas, levando a repercussões globais negativas.

“Se o crescimento chinês abrandar um ponto percentual, o crescimento mundial abranda 0,3 pontos percentuais. As economias emergentes e mercados em desenvolvimento abrandariam 0,6%, quase o dobro, porque estão mais expostas à China do que as economias avançadas”, indicou. Por outro lado, se a economia norte-americana entrar em recessão, o que é considerado muito pouco provável, existem 60% de hipóteses de arrastar a economia global para o vermelho.

“O risco de uma recessão mundial é reduzido porque, por enquanto, as economias avançadas ainda estão a crescer acima das taxas potenciais, muito devido a políticas. Os EUA estão a beneficiar do estímulo fiscal que ainda está a impulsionar fortemente o crescimento este ano, mas que só deverá começar a deixar de sentir-se no próximo ano”, vincou.

O crescimento económico nos EUA vai passar de 2,9% em 2018 e 2,5% em 2019 para 1,6% em 2020, segundo o relatório, enquanto na China se espera um crescimento económico de 6,5% em 2018 e 6,2% tanto em 2019 como em 2020.

Banco Mundial revê em baixa crescimento de Angola…

O Banco Mundial reviu em baixa a previsão de crescimento económico de Angola para 2018, estimando agora uma contração de 1,8% em vez de uma expansão de 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB). A revisão, feita pelos peritos do Banco Mundial no mesmo relatório, representa uma inversão de 3,5 pontos percentuais relativamente às previsões feitas há 12 meses.

O relatório refere que Angola e também Guiné Equatorial registaram uma quebra no PIB devido ao declínio na produção de matérias-primas, no caso angolano do petróleo. Países que dependem da exportação de matérias primas sofreram não só devido à queda dos preços, mas também da confiança dos investidores devido às “vulnerabilidades externas e condições domésticas frágeis”, perfil que Angola partilha com a Argentina, África do Sul ou Nigéria.

No entanto, o Banco Mundial espera que, após uma contração significativa, Angola, tal como a Argentina e o Irão, registem uma recuperação económica gradual. Em Angola, o setor petrolífero deverá beneficiar do início de produção de novos blocos de exploração e também de reformas para melhorar o ambiente de negócios, indica a instituição.

As projeções económicas para Angola são mais otimistas para este ano, quando se espera um crescimento de 2,9% do PIB, que deverá continuar a subir 2,6% em 2020 e 2,8% em 2021, mais 0,7 e 0,2 pontos percentuais do que as estimativas anteriores, indica o mesmo documento.

No relatório de janeiro de 2018, o Banco Mundial tinha antecipado uma expansão económica 0,7 pontos mais que a estimada em junho de 2017, para 1,6% do PIB graças a “uma transição política de sucesso a melhorar a possibilidade de reformas que melhorem o ambiente de negócios”.

A contração económica de Angola, associada ao crescimento fraco da Nigéria (1,9%) e África do Sul (0,9%), é responsável pelo desempenho abaixo da média da África Subsaariana, que em 2018 deve crescer 2,7%, uma revisão em baixa de 0,4 pontos percentuais face ao previsto em junho.

Este cenário reflete “uma expansão lenta nas maiores economias da região perante um crescimento moderado do comércio, condições financeiras restritivas e preços fracos para metais e produtos agrícolas”.

Espera-se que o crescimento regional atinja os 3,4% em 2019 e uma média de 3,7% em 2020-21, “dependendo da redução da incerteza política e mais investimento nas grandes economias, juntamente com um crescimento robusto contínuo em países com recursos não intensivos”, pode ler-se no documento. O crescimento do rendimento per capita é deverá permanecer bem abaixo da média a longo prazo em muitos países, gerando pouco progresso na redução da pobreza.

Os principais riscos para os países africanos subsaarianos incluem, segundo o Banco Mundial, a “possibilidade de crescimento mais lento do que o projetado na China e na zona euro, novas quedas nos preços das matérias-primas, um forte aperto das condições de financiamento global, derrapagem fiscal, paralisação das reformas estruturais e conflitos”.

… e em alta o crescimento de Moçambique para 3,5%

O Banco Mundial reviu esta terça-feira em alta a previsão de crescimento económico de Moçambique, projetando uma expansão de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2019 e de 4,1% em 2020. A revisão dos peritos do Banco Mundial no relatório ‘Perspetivas Económicas Globais”, representa uma melhoria de 0,1 e de 0,5 pontos percentuais relativamente às previsões feitas há 12 meses atrás para 2019 e 2020, respetivamente.

Apesar de manter a previsão para 2018 nos 3,3%, o documento refere que Moçambique sofreu com a redução do investimento direto estrangeiro em 40% nos países africanos e que afetou países vizinhos, como o Zimbabué ou Tanzania e também com a descoberta de dívida pública oculta.

“Em Moçambique, o rácio da dívida pública em relação ao PIB aumentou cerca de 50 pontos percentuais desde 2013, atingindo 102% em 2018, com os pagamentos de juros subindo de 2,6% das receitas para 16,5% no mesmo período. A deterioração foi acentuada por défices crescentes, uma vez que a política fiscal permaneceu folgada num cenário de preços das matérias-primas mais baixos e crescimento moderado, e foi agravada pela inclusão em 2016 de dívida comercial externa anteriormente não divulgada”, referem os economistas do Banco Mundial.

O resultado, constatam os peritos, é que “o país está em situação de contração de dívidas, e vários pagamentos a credores externos foram perdidos”, e o facto de ter agendadas eleições presidenciais e legislativas para outubro pode dificultar uma solução.

“A incerteza política e o simultâneo enfraquecimento das reformas económicas podem continuar a pesar sobre as perspetivas económicas em muitos países. Em países que realizam eleições em 2019 (por exemplo, Malaui, Moçambique, Nigéria, África do Sul), fatores políticos internos podem por em causa o compromisso necessário para conter os défices fiscais ou implementar reformas estruturais, especialmente onde os níveis de dívida pública são altos e crescentes”, avisam. Apesar destes alertas, Moçambique mantém um crescimento económico acima da média da África Subsaariana, que em 2018 deve crescer 2,7%, uma revisão em baixa de 0,4 pontos percentuais face ao previsto em junho.