A demora no anúncio do vencedor das eleições presidenciais na República Democrática do Congo (RD Congo) está a criar um clima de suspeição no país, com vários congoleses a acreditar numa manipulação favorável ao partido no poder.

Desde a votação, a 30 de dezembro, o Governo cortou o acesso à Internet para evitar especulação nas plataformas sociais sobre o vencedor das eleições, tendo ainda bloqueado frequências de algumas estações de rádio, medidas que não impedem o debate no terreno. “Somos os eleitores, sabemos em quem votámos e sabemos que a oposição venceu”, disse Huber Mende, um professor de 55 anos, à agência Associated Press.

“Apenas os nomes de Martin Fayulu ou Felix Tshisekedi podem ser aceites. Se os resultados oficiais não refletirem a verdade, haverá uma crise”, acrescentou o professor, num quiosque onde estavam cerca de duas dezenas pessoas que concordaram com as declarações.

Os “resultados falsos” serão tomados como “uma declaração de guerra contra o povo”, referiu Heritier Bono, taxista de 25 anos, à AP, acrescentando que uma possível reação não se faria apenas sentir em Kinshasa, cidade capital congolesa.

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No sábado, a Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI) da RD Congo anunciou “um atraso” na divulgação dos resultados, frustrando uma parte da população, que já vira as eleições serem adiadas em mais de dois anos.

As eleições gerais de 2018 eram vistas por muitos como uma hipótese de a RD Congo ter uma primeira transição de poder pacífica desde a sua independência, em 1960. A Conferência Episcopal Nacional do Congo (Cenco) afirmou ter encontrado um “claro vencedor” através dos dados recolhidos pelos seus mais 40.000 observadores no terreno, uma atitude que o partido no poder criticou, apelidando a instituição religiosa de “anarquista” e de “intoxicar a população”. De acordo com a regulamentação eleitoral, apenas a CENI pode anunciar resultados das eleições.

As eleições na RD Congo, com 21 candidatos presidenciais, não se realizaram em todo o território, uma vez que a CENI decidiu adiar para 19 de março o ato eleitoral nas cidades de Beni, Butembo e Yumbi, devido à epidemia do Ébola e aos conflitos dos grupos armados.

Nesta região, atua o grupo armado Forças Democráticas Aliadas, que tem desenvolvido várias ações, o que afeta as operações de socorro às vítimas do vírus Ébola. Inicialmente previstas para 2016, as eleições de 30 de dezembro tinham sido adiadas duas vezes.