O Presidente norte-americano, Donald Trump, vai fazer um anúncio televisivo à nação a partir da Casa Branca, esta terça-feira, sobre a situação na fronteira dos Estados Unidos com o México. O anúncio surge durante uma crise nas negociações com os democratas sobre o Orçamento do Estado, que têm mantido os serviços federais em shutdown, sendo o principal problema a exigência de Trump de garantir 5,6 mil milhões de dólares para a construção de um muro na fronteira com o país vizinho.

O anúncio foi feito no Twitter na noite de segunda-feira, com o Presidente a afirmar simplesmente: “Tenho o gosto de vos informar que vou fazer um Anúncio à Nação sobre a Crise Humanitária e de Segurança Nacional na nossa Fronteira a Sul. Terça-feira à noite, às 21h Eastern [Time, fuso horário].”

Este anúncio à nação será o primeiro anúncio extraordinário à nação feito pelo por Donald Trump a partir da Salva Oval desde que tomou posse (costuma preferir a Sala Diplomática) e será seguido de uma visita oficial do Presidente à fronteira, na quinta-feira. O seu conteúdo ainda não é conhecido, mas, tendo em conta, o tema anunciado, pode ter um de três desfechos: uma explicação da posição do Presidente sobre esta matéria, um recuo face ao que tem defendido até agora ou um extremar de posições declarando estado de emergência na fronteira — o que lhe permitiria ordenar diretamente o uso de fundos na construção de um muro.

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Nos últimos dias, vários sinais foram dados pela administração norte-americana de que esse poderia ser o caminho. O vice-presidente Mike Pence reforçou a ideia de que o país atravessa uma “crise humanitária e de segurança nacional” e disse prever que o número de imigrantes a tentar atravessar a fronteira pode “aumentar drasticamente” quando a primavera chegar. Isto embora a maioria do número de imigrantes ilegais no país não tenha entrado por essa via, mas sim de forma inicialmente legal, acabando por permanecer no país para lá do tempo que lhes foi concedido no seu visto, como explicava o Washington Post em junho.

Para além disso, de acordo com informações recolhidas agora por este jornal, Trump terá abordado essa possibilidade em conversas privadas com alguns dos seus colaboradores no passado fim-de-semana. Em público, também admitiu a possibilidade: “Talvez o faça. Podemos declarar uma emergência nacional e construir [o muro] muito rapidamente. É outra forma de o fazer.” Em teoria, o Presidente pode utilizar o National Emergencies Act de 1976 para declarar o estado de emergência na fronteira, podendo assim canalizar fundos do Departamento da Defesa para aquela região. A decisão, contudo, provocaria não só um estado de tensão sem precedentes com a oposição, como poderia levar a uma série de desafios em tribunal.

Transmitir ou não transmitir, eis a questão das televisões

De acordo com fontes próximas do Presidente ouvidas pelo Politico, Trump estará algo frustrado com o que crê ser os ataques da imprensa às suas ideias e a falta de apoio à sua posição de exigência da construção do muro.

Ele está ali sentado a pensar ‘Por que raio não há ninguém a dizer coisas boas sobre mim? Por que é que não há ninguém na televisão a defender-me?'”, declarou ao jornal um ex-membro da Casa Branca.

Por tudo isto, a ideia de utilizar um anúncio televisivo à nação surge como uma tentativa de reunir apoio e legitimidade entre os eleitores.

No passado, vários presidentes discursaram a partir da Sala Oval para fazer comunicações importantes em momentos como a crise dos mísseis de Cuba (John F. Kennedy), o Watergate (Richard Nixon), a explosão do Challenger (Ronald Reagan), ou o 11 de setembro (George W. Bush). No entanto, nem sempre as televisões transmitiram os anúncios dos chefes de Estado, como recorda o Vox, lembrando um anúncio de Obama em 2014 que não foi transmitido por ter sido considerado pelas várias cadeias de televisão como “abertamente político”. Em causa estava o anúncio de várias ações executivas do Presidente sobre o tema imigração.

Por esta mesma razão, a decisão de transmitir ou não o anúncio de Trump foi automaticamente debatida com grande intensidade, inclusivamente nas redes sociais, mas as maiores estações de televisão acabaram por se decidir a favor da transmissão. De acordo com o New York Times, a decisão baseou-se na ideia de que o tema é altamente relevante, tendo em conta o facto de o país estar em shutdown, e serviu para evitar acusações de posicionamento político. Tendo em conta que este é o primeiro anúncio de Trump, será necessário dar-lhe “o benefício da dúvida”, explicou o pivô Ted Koppel.

No entanto, a oposição apressou-se a reclamar para si o mesmo tratamento. “Os democratas devem ter exatamente o mesmo tempo no ar imediatamente a seguir”, exigiram Nancy Pelosi, líder do partido na Câmara dos Representantes, e Chuck Schumer, responsável máximo do Partido Democrata no Senado. “Se as declarações anteriores [do Presidente] servem de indicação, este anúncio será repleto de malícia e desinformação”, acrescentaram.

Se o Presidente e os democratas não chegarem a acordo relativamente à questão do muro até à próxima sexta-feira, este shutdown tornar-se-á o mais longo da História dos Estados Unidos, batendo o recorde de 21 dias, registado entre 1995 e 1996, quando Bill Clinton era Presidente. Se tal acontecer, cerca de 800 mil funcionários do Estado voltarão a não receber salários.