O líder da oposição na República Democrática do Congo (RDCongo), Félix Tshisekedi, disse esta quinta-feira que será “o Presidente de todos os congoleses”, após ter sido declarado vencedor nas eleições presidenciais, segundo resultados provisórios anunciados pela Comissão Eleitoral (CENI).

“Também serei o Presidente daqueles que não votaram em mim, porém não serei presidente para uma organização, uma tribo ou um partido, mas sim das congolesas e congoleses”, afirmou, perante uma grande multidão concentrada no município opositor de Limete, um bairro da capital, Kinshasa.

O opositor fez estas declarações depois de o presidente da CENI, Corneille Nangaa, anunciar o vencedor das eleições presidenciais no país perto das 3h da manhã, hora local (2h em Lisboa), na sede do organismo em Kinshassa.

Tshisekedi ganhou com mais de 38% dos votos as eleições presidenciais de 30 de dezembro na República Democrática do Congo, e em segundo lugar ficou candidato também da oposição Martin Fayulu, com quase 35% dos votos, seguido pelo candidato apoiado pelo poder, Emmanuel Ramazani Shadary, com cerca de 24%. A taxa de participação no ato eleitoral situou-se em 47,56% — num total de 75.781 colégios eleitorais –, tendo votado mais de 18 milhões de congoleses.

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Tshisekedi, líder da histórica União para o Progresso e Desenvolvimento Social (UPDS), aproveitou também a ocasião para render homenagem ao Presidente, Joseph Kabila, que considerou como “um parceiro político e não um inimigo”. Referiu-se ainda com amabilidade aos seus rivais na campanha eleitoral, Martin Fayulu e Emmanuel Ramazani Shadary, a quem disse reconhecer “o mérito”.

Filho do emblemático líder opositor e ex-primeiro ministro Étienne Tshisekedi, o vencedor das eleições, de 55 anos, demarcou-se, em meados de novembro, do bloco comum da oposição Lamuka (“Acorda”, em língua lingala) — encabeçado por Fayulu — para liderar a sua própria coligação.

Os resultados provisórios — que ainda podem ser alvo de reclamação — deveriam ter sido publicados a 6 de janeiro, segundo o calendário eleitoral, mas a sua divulgação foi adiada sem termo, quando a CENI informou que o escrutínio não estava concluído.

A vitória de Tshisekedi chega com dois anos de atrasos e incertezas, desde que o Presidente Kabila — no poder há quase 18 anos — concluiu por lei o seu segundo e último mandato eleitoral, tendo-se prolongado no poder desde dezembro de 2016. Um novo prolongamento do seu mandato aconteceu em finais de dezembro, com uma mudança de data de 23 para o dia 30.

A partir desta quinta-feira, os candidatos e partidos têm três dias para reclamar os resultados perante o Tribunal Constitucional, que por sua vez terá uma semana para proclamar os resultados oficiais.

Comissão eleitoral da República Democrática Congo dá vitória a candidato da oposição Felix Tshisekedi

A comissão eleitoral da República Democrática do Congo informou esta quinta-feira que um dos candidatos da oposição, Felix Tshisekedi, venceu as eleições presidenciais. Tshisekedi recebeu mais de sete milhões de votos, contra os mais de seis milhões arrecadados por outro candidato da oposição, Martin Fayulu, e por aquele apoiado pelo partido do Governo, Emmanuel Ramazani Shadary, que obteve mais de quatro milhões de votos.

“Tendo obtido 7.051.013 votos válidos, ou 38,57%, é proclamado provisoriamente Presidente da República Democrática do Congo, Sr. Tshisekedi Tshilombo Félix”, disse o presidente da comissão eleitoral, Corneille Nangaa. Este resultado sem precedentes na República Democrática do Congo ainda pode ser contestado junto do Tribunal Constitucional, que tem a partir de agora 14 dias para validar a votação.

Neste momento permanecem dúvidas sobre a possibilidade de os resultados serem contestados por Martin Fayulu, que liderou as sondagens e advertiu contra uma possível fraude eleitoral.

O anúncio do sucessor do Presidente cessante Joseph Kabila, inicialmente previsto para domingo, surge na sequência de pressão internacional e num clima de suspeição entre a população, que temia uma manipulação dos resultados. Um grupo de observadores locais, Symocel, afirmou ter testemunhado 52 irregularidades “graves” nos 101 centros de voto que analisou.

A União para a Democracia e o Progresso Social (UDPS) já tinha afirmado que o seu candidato, Félix Tshisekedi, seria o “presumível” vencedor das presidenciais. Estas eleições eram vistas por muitos como uma hipótese de a República Democrática do Congo ter uma primeira transição de poder pacífica desde a sua independência, em 1960.

As eleições de 30 de dezembro, com 21 candidatos presidenciais, não se realizaram em todo o território, uma vez que a comissão eleitoral decidiu adiar para 19 de março o ato eleitoral nas cidades de Beni, Butembo e Yumbi, devido à epidemia do ébola e aos conflitos dos grupos armados.

Inicialmente previstas para 2016, estas eleições de 30 de dezembro tinham sido adiadas duas vezes. O ainda Presidenete Joseph Kabila governa desde 2001 um país rico em recursos naturais, mas marcado por crises políticas e por um conflito armado que causou milhões de deslocados.

A República Democrática do Congo é o maior Estado da África Central, com 81,3 milhões de habitantes (Banco Mundial, 2017), principalmente católicos.