10 mil dólares em maquilhagem, dezenas e dezenas de assistentes pagos ao dia, milhões gastos em hotéis (incluindo 1,5 milhões no Trump International Hotel) e quase 26 milhões de dólares pagos a uma empresa de uma amiga de Melania Trump, contratada para fazer um documentário que nunca chegou a ser realizado. Dois anos depois da tomada de posse de Donald Trump, em Washington D.C., o The New York Times revela como se gastaram 107 milhões de dólares na preparação da festa, mais do que o dobro dos antecessores. A lista de despesas é “ultrajante”, considera o principal responsável pela primeira tomada de posse de Barack Obama.

Os montantes não foram revelados oficialmente mas o jornal norte-americano conseguiu reconstituir a fatura milionária a partir de documentos a que teve acesso e entrevistas a pessoas que participaram nas preparações.

Só em maquilhagem para 20 assistentes (femininas) no dia do evento gastou-se 10 mil dólares, quase nove mil euros ao câmbio atual. E um staff de várias dezenas de pessoas recebeu 30 mil dólares em pagamentos ao dia, além de ter hotel e viagens totalmente pagas pelos milhões que a campanha de Trump obteve em donativos privados, designadamente de algumas das maiores empresas norte-americanas (AT&T, Bank of America e Pfizer foram algumas delas). Estas despesas são reveladas numa altura em que as autoridades estão a escrutinar a origem dos apoios e a tentar perceber se houve donativos feitos por estrangeiros (o que é proibido nos EUA) mas que poderão ter sido canalizados por cidadãos norte-americanos.

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Na Union Station gastou-se quase um milhão de dólares em arranjos florais com mais de dois metros de altura, além de esculturas cobertas de musgo e outras decorações. E foram desperdiçados 6,4 milhões em lotes de quartos de hotel que acabaram por não ser necessários, seja porque os convidados acabaram por não vir seja porque alguns convidados acabaram por tratar do alojamento pelos seus próprios meios. Havia, ainda, a intenção de criar um centro para jornalistas que estava orçamentado em 1,2 milhões de dólares (cerca de um milhão de euros) mas que acabou por não existir.

Além destes gastos significativos mas relativamente banais, a despesa mais intrigante — pelo menos, aos olhos de pessoas que lideraram ou participaram na organização de tomadas de posse anteriores — diz respeito aos 26 milhões que foram entregues à empresa de uma amiga de Melania Trump, chamada Stephanie Winston Wolkoff. A amiga de Melania e a empresa que esta criou com um sócio, a WIS Media Partners, foi originalmente contratada para recolher matéria para um documentário cujos direitos seriam, depois, vendidos a uma distribuidora.

O material terá sido recolhido — e ainda existe –, mas o documentário acabou por nunca ser feito (e, muito menos, vendido a quem quer que seja), revela o The New York Times. Mas a WIS Media Partners acabou, de alguma forma, por se tornar a principal entidade que aparece na “fatura” da organização. Recebeu 26 milhões de dólares, parte dos quais terão sido pagos a outros fornecedores, mas esse valor não inclui os 1,6 milhões de dólares pagos à própria Stephanie Winston Wolkoff por uma “comissão de supervisão”.

Wolkoff ficou conhecida pelo staff por se ter imposto de forma prepotente, ameaçando frequentemente outras pessoas de que bastaria uma chamada com o seu telemóvel — para a filha de Trump, Ivanka, ou o próprio Trump — para que fossem imediatamente despedidas.

Contactada, a amiga de Melania garante que partilhou essa comissão com outros gestores da empresa, mas Steve Kerrigan, que liderou a preparação da primeira tomada de posse de Obama, diz que essa comissão equivale a um quarto do que foi pago, no total, ao staff de 450 pessoas que trabalharam nesse evento. A Casa Branca acabaria por cortar todas as relações comerciais com Stephanie Wolkoff, em fevereiro de 2018, quando foi revelado o valor que a socialite e conselheira de moda tinha recebido pelos seus serviços na preparação da cerimónia de tomada de posse de Trump.

Se Kerrigan considera estes gastos “ultrajantes”, Greg Jenkins, que participou na segunda tomada de posse de George W. Bush, não é menos taxativo: “Nunca ouvi falar em ninguém que tenha recebido este tipo de dinheiro por uma festa de tomada de posse, nunca”.