Luís Montenegro sugere que elementos próximos de Rui Rio na direção do PSD fizeram “convites” a membros do Conselho Nacional do partido — que esta quinta-feira votam uma moção de confiança ao líder — para condicionar a decisão sobre o futuro do presidente social-democrata. “Não andei a fazer convites a ninguém, nem vou fazer convites a ninguém e sei que isso se tem passado nos últimos dias”, disse Montenegro numa entrevista à CMTV, mas recusando fazer dessa questão “um caso”.

Questionado sobre se já entrou em contacto com alguns dos 135 membros do Conselho Nacional, Montenegro procurou distanciar-se. “Não quero nem vou prometer lugares a ninguém, entendo que um conselho nacional  [não devia criar] condições para impedir uma participação plena — e reunir às cinco da tarde de um dia de semana, no Porto, não é garantir essa condição  — e não respondo a ninguém que me atacou pessoalmente com mais ataques pessoais”, sublinhou.

Mas a referência já estava feita. “Sei que isso se tem passado nos últimos dias”, disse o antigo líder parlamentar do PSD que na última sexta-feira lançou um desafio a Rui Rio para a convocação de diretas. “Consta-me que isso tem acontecido, não quero fazer disso um caso, quero que partido debata com todas lucidez”, rematou.

Montenegro queria diretas, mas a opção do líder social-democrata foi outra: Rio preferiu focar-se no Conselho Nacional, o órgão máximo entre congressos, e apresentar uma moção de confiança à sua liderança, um ano após assumir funções.

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Montenegro não esconde o desagrado com a opção seguida — “não é a clarificação, plena e verdadeira” de que o PSD precisaria, “é a opção de Rui Rio, é legitima, mas não é suficientemente forte”, defende. E avança mesmo com duras críticas sobre a possibilidade de a votação, na quinta-feira, decorrer de braço no ar e não por voto secreto.

“Seria absolutamente enfraquecedor” que o atual líder “ganhasse votação à custa de uma votação de braço no ar que pudesse servir de meio de coação, de uma expressão não totalmente livre” dos conselheiros nacionais. Isso significaria, acrescenta, que se está a “sovietizar o PSD, isso é típico dos partidos comunistas, não é típico de um partido social democrata, das tradições liberais no bom sentido do termo, de um partido social-democrata”.

“Se, num partido como o PSD, quando estão em causa escolhas de pessoas ou destituições, não há a coragem mínima, o espírito de liberdade democrático de fazer eleição por escrutínio secreto, estamos muito mal”, defendeu.

Na entrevista, Montenegro volta a ser questionado sobre eventuais ligações a ordem secretas, depois de Rui Rio ter deixado essa ideia a pairar, e voltou a negar essas ligações. “Não sou maçon, não tenho nenhuma ligação à maçonaria e devo dizer que é uma associação que se quer fazer, para ver se me criam problemas de afirmação política”, criticou.

Sobre o resultado que possa sair da votação de quinta-feira, Luís Montenegro procurou distanciar-se. “Não sou eu que estou em causa no Conselho Nacional”, começou por dizer. A ideia é esta: “Se Rui Rio vir a moção aprovada, tem um pequeno reforço da sua condição política, face à dimensão de liderar o partido e face às regras de eleição do líder”, mas não seria uma derrota porque, justifica, o partido não foi chamado a pronunciar-se de forma plena.