O fundador da gigante das telecomunicações chinesa Huawei, Ren Zhengfei, rejeitou esta quarta-feira as acusações de espionagem feitas à sua empresa e negou que o regime chinês recorra à sua tecnologia para espiar os usuários.

Nenhuma lei na China requer às suas empresas que instalem ‘backdoors’ (um programa malicioso que permite o acesso e controlo de qualquer dispositivo, sem o conhecimento do usuário), e a Huawei nunca recebeu qualquer pedido, de qualquer governo, para fornecer informações de forma indevida”, afirmou Ren Zhengfei.

Durante uma rara conferência de imprensa com jornalistas estrangeiros, na sede da empresa em Shenzhen, sul da China, Ren lembrou que a “Huawei serve três mil milhões de usuários, em 170 países, e tem um bom histórico de segurança”. Ren garantiu que a empresa está “comprometida” com os seus clientes em questões de proteção da privacidade.

O presidente da Huawei afirmou que, apesar de “amar” o seu país e “apoiar” o Partido Comunista Chinês, “não agiria no sentido de prejudicar qualquer outro país ou indivíduo”.

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O empresário, de 74 anos, disse ainda sentir “muitas” saudades da sua filha Meng Wanzhou, diretora financeira da empresa. Meng foi detida, em Vancouver, a pedido dos Estados Unidos, por suspeita de que a Huawei tenha exportado produtos de origem norte-americana para o Irão e outros países visados pelas sanções de Washington, violando as suas leis.

Diretora financeira da Huawei acusada de fraude. Meng fica em liberdade condicional

A executiva foi, entretanto, libertada sob fiança por um tribunal canadiano, e aguarda que as autoridades norte-americanas apresentem um pedido formal de extradição.

Como cidadão chinês, aprecio a proteção consular que o governo chinês ofereceu para salvaguardar os direitos e interesses [de Meng]. Acredito que o sistema legal no Canadá e nos EUA é aberto e justo e chegará a uma conclusão imparcial”, disse Ren.

Sobre o futuro da Huawei, o fundador admitiu que a empresa terá que reduzir um “pouco” as expectativas, já que “não é bem recebida em alguns mercados”.

A Austrália e a Nova Zelândia baniram as redes de Quinta Geração (5G) da Huawei por motivos de segurança nacional, após os Estados Unidos e Taiwan, que mantém restrições mais amplas à empresa, terem adotado a mesma medida. Também o Japão, cuja agência para a segurança no ciberespaço classificou a firma chinesa como de “alto risco”, baniu as compras à Huawei por departamentos governamentais.

Fundada em 1987 por Ren Zhenfei, um ex-engenheiro das forças armadas chinesas, a Huawei é hoje o maior fabricante global de equipamentos de rede e tem escritórios em Lisboa, onde conta também com um centro de inovação e experimentação. Segundo a AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal), desde 2004, a firma chinesa investiu 40 milhões de euros em Portugal.

Durante a recente visita a Lisboa do Presidente chinês, Xi Jinping, foi assinado entre a Altice e a Huawei um acordo para o desenvolvimento da tecnologia 5G em Portugal, apesar de também a União Europeia ter assumido “estar preocupada” com a empresa e com outras tecnológicas chinesas, devido aos riscos que estas colocam em termos de segurança.

As redes sem fio 5G destinam-se a conectar carros autónomos, fábricas automatizadas, equipamento médico e centrais elétricas, pelo que vários governos passaram a olhar para as redes de telecomunicações como ativos estratégicos para a segurança nacional.

A Huawei é também o primeiro ator global chinês no setor tecnológico, tornando a empresa politicamente importante, à medida que Pequim tenta transformar as firmas do país em importantes competidores em atividades de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros elétricos.

A empresa emprega 180 mil pessoas e as vendas superaram os 100 mil milhões de dólares, em 2018.