Nesta quinta-feira, dia em que se decidirá o futuro de Rui Rio à frente do PSD, crescem os comentários dentro do partido enquanto se escolhem fileiras. Prosseguem os debates sobre o modelo da votação de confiança ao líder, com apoiantes e críticos a dividirem-se num ponto: deve a votação ser secreta ou feita de braço no ar? Pedro Duarte, crítico de Rui Rio e há muito considerado possível dirigente futuro do partido, deixa um aviso em entrevista ao jornal Público e à rádio Renascença: “Permitir que os seus próximos — e isto é dramático — andem a defender que a votação não deve ser de forma secreta é assumir a sua fragilidade, é assumir que não sairá nunca bem de uma situação destas. A perceção que temos é que se está a tentar ganhar na secretaria”.
Não acredito que a votação não venha a ser por voto secreto. Se assim não for, esse momento seria o da morte política do dr. Rui Rio, não teria cara para enfrentar os portugueses no dia a seguir”, referiu o antigo líder da JSD.
Além dos avisos a Rui Rio sobre a legitimidade que uma eventual votação favorável não terá se não houver voto secreto, Pedro Duarte diz, no Público, que “o PSD não está a conseguir encontrar um rumo para o país e tem dificuldade em galvanizar os portugueses” e que o sucessor de Passos Coelho “não mostra capacidade para renovar quadros, renovar ideias, para ouvir pessoas de cariz diferente. Tem-se afunilado num buraco que tenho dificuldade em perceber qual é”. Pedro Duarte diz mais: defende que “há uma maioria dos militantes que está desiludida com o dr. Rui Rio“, acusa-o de ter tornado o PSD “muleta” do PS e afirma que se fosse conselheiro nacional do PSD votaria contra a moção de confiança ao líder. Porém, “não teria nenhum prazer em ir à reunião”.
A oposição de Pedro Duarte a Rui Rio no PSD não é exatamente uma novidade. Em agosto do ano passado, o antigo dirigente da Juventude Social-Democrata foi um dos primeiros a desafiar a liderança de Rio, com uma entrevista ao semanário Expresso onde pedia que o PSD mudasse “de estratégia e de liderança tão cedo quanto possível”.
Pedro Duarte pede saída de Rui Rio e diz-se “preparado” para ser líder do PSD
Na entrevista ao jornal Público, Pedro Duarte não só mantém as críticas a Rio, como considera “prematuro” dizer se apoia Luís Montenegro — antigo chefe da bancada parlamentar que pediu eleições diretas no PSD e se assumiu candidato à liderança do PSD– e se ele próprio virá a ser candidato à presidência do partido. “Um colega vosso perguntava-me se estava a ponderar candidatar-me. Não sei se vamos ter diretas. Enquanto não chegarmos a esse momento, é prematuro”.
Pedro Duarte não afasta, contudo, uma candidatura à presidência do partido, caso a moção de confiança a Rui Rio não seja aprovada a e este decida promover eleições diretas internas antecipadas: “Neste momento não posso afastar nada. Isto não é uma feira de vaidades ou concurso de afirmação de personalidades. Tem de ser um projeto coletivo em prol do país”. Em agosto, ao Expresso, Pedro Duarte dizia-se “preparado para liderar uma nova estratégia no PSD e uma nova esperança para o país, em nome do interesse nacional”.
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“Histórica” do PSD apoia Montenegro: “Deve ser o líder sem qualquer dúvida”
Já se sabia que Conceição Monteiro, uma das mais antigas militantes do PSD, não é propriamente fã de Rui Rio: afinal, a “histórica” do partido apoiou publicamente Pedro Santana Lopes nas eleições diretas que consagraram Rio como presidente dos sociais-democratas. Esta quinta-feira, em entrevista ao jornal i (apenas disponível em versão impressa), Conceição Monteira declara-se abertamente do lado de Montenegro: “Deve ser o líder sem qualquer dúvida”.
Conceição Monteiro recebeu-o em sua casa, onde lhe expressou o seu apoio. O jornal cita ainda o advogado e antigo membro da Comissão Política Nacional do PSD Jorge Bleck, que refere: “Se há dez por cento dos presentes que pedem voto secreto, tem de ser obviamente voto secreto. Não há outra alternativa. E tudo o resto é golpe.”
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Há confiança em Rio? Eis o que vai acontecer no Conselho Nacional do PSD
O Conselho Nacional do PSD, órgão máximo do partido entre Congressos, decidirá se mantém a confiança política na direção de Rui Rio, depois de Luís Montenegro ter desafiado o líder a convocar eleições diretas.
A questão política poderá ficar ensombrada pela polémica jurídica, depois de nos últimos dias apoiantes e opositores da direção terem trocado argumentos sobre a forma de votação da moção — voto secreto, braço no ar ou até nominal.
A reunião, com início marcado para as 17h, num hotel no Porto, arrancará com o discurso do presidente do partido, Rui Rio, que justificará perante os conselheiros os seus argumentos em favor da manutenção da confiança da direção, que vai a meio do seu mandato.
Segue-se um período de intervenções que deverá demorar várias horas (está prevista uma interrupção dos trabalhos para jantar).

Rui Rio saberá hoje se os conselheiros nacionais do PSD confiam ou não no seu projeto para o país (@ Rodrigo Antunes / LUSA)
Encerradas as inscrições, será o momento de votação, determinando o artigo 68.º dos estatutos do PSD que “as moções de confiança são apresentadas pelas Comissões Políticas e a sua rejeição implica a demissão do órgão apresentante”.
Será neste ponto que a discussão poderá aquecer, com dois requerimentos distintos sobre a forma de votar o texto: um dos críticos de Rio que pedirão a votação secreta e outro já assumido pelo antigo presidente da Assembleia da República Mota Amaral que pedirá o voto nominal.
A votação nominal não está prevista nem nos estatutos do PSD nem no regulamento do Conselho Nacional, que estabelece que as votações neste órgão se realizam, em regra, por braço no ar, com três exceções: eleições, deliberações sobre a situação de qualquer membro do Conselho Nacional e “deliberações em que tal seja solicitado, a requerimento de pelo menos um décimo dos membros do Conselho Nacional presentes”.
O presidente do Conselho Nacional, Paulo Mota Pinto, tem remetido qualquer discussão sobre “a condução dos trabalhos e a votação” para a própria reunião, só se pronunciando “perante os conselheiros reunidos”.
A reunião da “clarificação”, como tem sido apelidada por muitos notáveis do PSD, acontece menos de uma semana depois de o antigo líder parlamentar Luís Montenegro ter desafiado Rio a “não ter medo” e convocar eleições diretas antecipadas — em que seria candidato —, na passada sexta-feira.
A reação de Rio chegou um dia depois, no sábado: “A minha resposta é não”, disse o presidente do partido, que anunciou, contudo, que iria sujeitar a sua direção a uma moção de confiança.
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Montenegro acusou Rio de ter falhado em toda a linha no primeiro ano do seu mandato, e justificou a candidatura com o objetivo de “salvar o PSD do abismo”.
Na resposta, o presidente do partido acusou o antigo líder parlamentar de “golpe palaciano” e de estar a prestar um serviço de “primeiríssima qualidade ao PS e António Costa”.
A decisão sobre o destino da moção de confiança estará na mão dos 136 membros do Conselho Nacional, metade eleitos, e quase outros tantos por inerência.
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