Houve um recuo no Instituto Espanhol Giner de Los Rios, no Dafundo, e o conselho escolar decidiu, esta sexta-feira, alterar os horários de jornada contínua, passando a hora de almoço a ser às 14h00 e com uma duração de 30 minutos. A polémica estalou em setembro quando, dois dias antes do início do ano letivo, os pais foram informados de que a escola passaria a ter jornada contínua, habitual em Espanha, para os alunos a partir dos 11 anos — entrada às 8h20 e saída às 15h15. Pelo meio, desaparecia a hora de almoço e apenas estavam contemplados dois intervalos, de 15 minutos cada. Muito encarregados de educação, como o Observador noticiou na altura, rejeitavam esta alteração já que diziam que os filhos acabavam por só conseguir almoçar às quatro da tarde, quando chegavam a casa.

A mudança decidida agora aproxima-se das exigências dos pais, mas ainda não totalmente. “Ficou-se hoje com a sensação de que tudo ficou resolvido, mas na verdade a mudança não foi substancial. Os alunos continuam a ter apenas 55 minutos de pausa, entre recreios e refeição, passam a sair 5 minutos mais tarde, e passa a haver hora de almoço às 14h00, com duração de 30 minutos. Se pensarmos que há 450 estudantes a servir-se do refeitório, não sei como todos terão tempo de fazer a refeição. Vai ser fisicamente impossível”, conta ao Observador Javier Olivares, um dos três representantes dos pais no conselho escolar (apenas dois têm direito a voto) e o único a opor-se à proposta aceite pela maioria.

A hora de saída da escola era “uma linha vermelha na negociação” e da qual os professores não estavam dispostos a abdicar, conta.

Na votação, Javier Olivares absteve-se por não concordar nem com o horário atual nem com o que estava a ser votado. O outro membro da AMPA (Asociación de Madres y Padres de Alumnos) com direito a voto foi um dos seis favoráveis à mudança. Havia ainda um terceiro elemento, eleito em dezembro, que não teve permissão para votar já que há um diferendo com o instituto sobre esta questão. A direção recusa-se a reconhecer os resultados da Assembleia Geral de Pais, de 17 de dezembro, na qual Mafalda Seoane foi afastada do cargo de presidente.

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No conselho escolar estão representados alunos, pais, professores, direção, pessoal administrativo e um representante da missão diplomática espanhola em Portugal, o único que não esteve presente.

Para Javier Olivares esta solução aprovada ainda está longe de ser a ideal e acredita que foi graças “à pressão informal” das autoridades portuguesa e das notícias publicadas nos media ibéricos que houve este recuo da escola pública espanhola que tem licença para lecionar em Portugal. Apesar de estar sediada no Dafundo, Algés, responde ao Ministério de Educação espanhol.

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“Eu pretendia votar uma outra proposta, mas o diretor do instituto proibiu a votação porque não contava da ordem de trabalhos. No entanto, há abertura para que seja votada num próximo conselho escolar. O que propus era a criação de uma comissão, que juntasse todos os interessados, para elaborar um novo horário que respondesse aos interesses de todos e tivesse o acordo da comunidade educativa, ao contrário deste que nos foi imposto”, explicou ao Observador.

Um dos pontos de partida, explica, era conseguir que os estudantes tivessem uma hora inteira de almoço. No entanto, sublinha que não pretende condicionar futuros acordos.

No imediato, Javier Olivares não prevê que haja novas alterações aos horários e acredita que serão os que foram aprovados esta sexta-feira a vigorar até ao final do ano letivo. Mas garante que os pais vão continuar a lutar por aquilo que consideram ser os horários que melhor servem os interesses dos seus filhos.

Esta semana, na Comissão de Educação no parlamento, o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, questionado pela deputada centrista Ana Rita Bessa, afirmou que as informações que tinha recebido da embaixada espanhola era de que o assunto já estava resolvido com os encarregados de educação.

Javier Olivares diz que, nessa altura, ainda nada era definitivo. Agora, o passo seguinte será os horários serem aprovados por Madrid e, no máximo até 28 de janeiro deverão estar implementados. Mudanças de acordo com a vontade dos pais só deverão acontecer no próximo ano letivo, depois de ser aprovada a comissão propostas por Olivares, e caso haja consenso entre toda a comunidade educativa.

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