Adrien Broner queria terminar o combate e ser o principal protagonista. De certa forma, até conseguiu esse objetivo mas não pelas razões desejadas. O americano já se tornou campeão de boxe em quatro categorias diferentes mas o combate com Manny Pacquiao, para onde partia com os índices de tagarelice em alta nas conferências e demais entrevistas, não correu bem. Pelo menos era a opinião de todos… menos do próprio. “Fui eu que ganhei, claro. Toda a gente viu que fui eu que ganhei o combate. Controlei sempre, ele estava sempre a falhar”, atirou no final. De forma inevitável, as redes sociais encheram-se de memes a brincar com essas palavras que tentavam fugir ao óbvio – o filipino segurara de forma imperial o título de meio-médios da Associação Mundial de Boxe (AMB). “Foi um roubo. Não sei mais o que fazer para ganhar em Las Vegas”, ainda reforçou mais tarde. E lá voltaram as reações em peso, entre a incredulidade e o gozo por Broner não querer aceitar o óbvio.

Os números não deixaram dúvidas e a decisão por unanimidade dos árbitros ainda menos: 117-111, 116-112 e 116-112. Como frisou o El Mundo, Pacquiao, campeão mundial em oito categorias diferentes, pode já não ter a mesma explosão de outrora aos 40 anos mas continua a um nível muito elevado. De verdadeiro campeão. Um campeão que foi apoiado na MGM Grand Garden Arena por mais de 13 mil espetadores e outros milhares e milhares na sua terra natal, onde existem inúmeras concentrações de fãs sempre que Manny combate nos Estados Unidos (e já lá vão quase 20 anos desde que se estreou).

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Foi uma vitória em toda a linha do filipino que, boxe à parte, passou pelo exército, foi cantor, joga basquetebol numa equipa que lhe pertence, é ator e tem uma trajetória ascendente na política, a ponto de ser considerado o principal favorito à presidência do seu país no próximo ano. Mas se dentro de ringue foi assim, fora dele na sua antecâmara em nada ficou atrás: Pacquiao chegou ao ringue ao som do “Eye of the Tiger”, que ficou célebre na saga de Rocky Balboa interpretado por Sylvester Stallone.

“Dei o meu melhor na preparação e todo o treino que fiz funcionou. Queria forçar ainda mais no final mas o meu treinador disse-me que estávamos à frente e que não havia pressas. A boa saúde é a chave de alguém com 40 anos e quero ainda melhorar mais o meu desempenho”, comentou no final Manny Pacquiao, antes da frase que ficou como grande soundbyte da noite: “Digam ao Floyd [Mayweather] que volte aos ringues, estou disposto a fazer um combate com ele se quiser”.

Manny Pacquiao. Aos 40 anos, o Pacman das Filipinas luta de luvas calçadas para chegar a Presidente

O americano, campeão mundial invicto que está reformado e recentemente foi fazer um combate de exibição ao Japão frente a um campeão de kickboxing que foi mais entretenimento do que outra coisa, deslocou-se a Las Vegas, assistiu a tudo e no final ainda foi cumprimentar o filipino mas já na MGM Grand Garden Arena não se tinha mostrado muito entusiasmado com a possibilidade de reeditar o “Combate do Século” de 2015. “Continuam a perguntar-me sobre o Manny Pacquiao… Ele agora tem é de ganhar ao Adrien Broner, da minha parte ando a viver uma vida boa e cheia de saúde”, comentou à chegada. No final, “The Money” ainda foi convidado para subir ao ringue e falar sobre o possível combate mas recusou aquele que teria sido o momento da noite.

https://twitter.com/mannypacquiao/status/1086839558719758337

Mais tarde, Leonard Ellerbe, CEO da Mayweather Promotions, deu a estocada final nessa possibilidade de reencontro entre dois dos maiores campeões mundiais de sempre do boxe. “O Floyd não tem interesse em voltar aos combates. Nem sempre se trata de uma questão de dinheiro, nesta altura não tem nem motivação nem desejo”, resumiu.

Será um combate do século ou uma luta entre o bom e o vilão?

De recordar que, em maio de 2015, Mayweather e Pacquiao protagonizaram aquele que ficou conhecido como o “Combate do Século”: depois de cinco anos de avanços e recuos nas negociações, o duelo gerou um total a rondar os 350 milhões de euros de receitas (e com bilhetes na MGM Grand Garden Arena que rondam os 3.200 e os 20.300 euros…) e teve entre outros pontos a presença de Jamie Foxx para cantar o hino e de celebridades como Donald Trump, Clint Eastwood, Robert De Niro, Michael Jordan, Tom Brady ou Denzel Washington na assistência. O americano venceu por decisão unânime dos três juízes (116-112, 116-112 e 118-110) mas soube-se depois que o filipino estava limitado no ombro direito, o que lhe retirou qualquer hipótese de poder ter outra prestação sobretudo nos últimos rounds, geridos da melhor forma por “The Money” até ao triunfo.

Os combates mais marcantes de sempre, de Johnson a Mayweather com Ali, Frazier, Rocky e Foreman pelo meio

Coincidência ou não, depois de ter deixado uma mensagem de agradecimento à mulher, à família, a todo o staff que trabalha consigo e aos milhares de fãs, Manny Pacquiao colocou agora como pinned tweet um inesperado encontro que teve com Floyd Mayweather numa festa no Japão em setembro do ano passado, altura em que o americano lançou algumas provocações ao adversário dizendo mesmo que iria voltar aos ringues frente ao filipino, com a mensagem “50-1 #NoExcuses”, numa farpa também para o registo invicto de 50 triunfos de “The Money” que pretende terminar. Será que o desafio é aceite?

https://twitter.com/mannypacquiao/status/1040956990090969090