Salários de cerca de 90 euros por mês. Semanas de 54 horas de trabalho, por vezes com dias que começam às oito da manhã e só terminam à meia-noite, onde o salário se estica e passa a valer pouco mais de 40 cêntimos por hora. Objetivos “impossíveis” de alcançar, como o de coser duas mil peças de roupa por dia. Insultos por parte dos superiores e muitos problemas de saúde, como dores de costas.

É esta a vida das mulheres que produzem as t-shirts de uma campanha a favor da igualdade de género, lançada pela banda Spice Girls, como descobriu o jornal The Guardian. “Não recebemos o suficiente e trabalhamos em condições desumanas”, resumiu uma das trabalhadoras da fábrica no Bangladesh, que produz as camisolas para a campanha #IWannaBeASpiceGirl (Quero ser uma Spice Girl). As condições económicas destas mulheres são tão más que, ironicamente, uma das trabalhadoras que falou ao Guardian contou como ela própria não consegue comprar a roupa necessária para os seus filhos:

É inverno, os meus filhos precisam de roupas quentes, mas nos últimos meses tenho-lhes dito para esperar, porque ainda não tenho dinheiro para as comprar”, declarou uma das trabalhadoras da fábrica.

As t-shirts em causa — que têm escrito nas costas as palavras “justiça de género” — custam cerca de 20 euros. O dinheiro angariado com a sua venda será entregue à associação Comic Relief. A campanha tem como objetivo “defender a igualdade das mulheres”, como se pode ver na página da associação britânica.

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O cantor Sam Smith foi uma das celebridades a juntar-se a esta campanha (D.R.)

Agora, graças à investigação do Guardian, é possível perceber que as camisolas são fabricadas, na sua maioria, por mulheres que recebem salários abaixo do limiar da subsistência no Bangladesh, e cujas condições de trabalho são tão exigentes que muitas desmaiam a meio do dia. A fábrica que as produz pertence a um ministro do Governo do Bangladesh.

Segundo o Guardian, “não há qualquer indicação de que as celebridades estivessem a par das condições da fábrica” e um porta-voz da banda apressou-se a esclarecer que as Spice Girls estão “profundamente chocadas” com esta notícia. A Comic Relief também disse ao jornal estar “chocada e preocupada”. Contudo, a empresa responsável pela fábrica, a Interstoff Apparels, diz que as denúncias apresentadas pelo jornal britânico “simplesmente não são verdade”, não dando mais pormenores.