O feeling não podia ser melhor. A Juventus está completamente isolada na liderança da Serie A, está nos oitavos de final da Liga dos Campeões e ainda conquistou a Supertaça de Itália na passada quarta-feira. O mesmo se poderá dizer de Cristiano Ronaldo: além de ter garantido o primeiro título ao serviço da equipa italiana, o português marcou o golo que valeu a vitória frente ao AC Milan na final disputada na Arábia Saudita e amealhou o 27.º troféu da carreira. Na receção ao Chievo, último classificado da Serie A, o feeling da Juventus e de Ronaldo não podia mesmo ser melhor.

Ainda assim, este era o primeiro jogo da segunda volta e era necessário manter um bom ritmo de vitórias para não descurar a vantagem pontual em relação aos principais rivais. Afinal, a Juventus ia encerrar a jornada 20 do Campeonato italiano e o Nápoles já tinha vencido a Lazio, o que significava que um eventual desaire dos bianconeri colocaria a equipa de Carlo Ancelotti a seis pontos da liderança. Um dia antes de ser ouvido na Audiência Providencial de Madrid, onde vai ser julgado por irregularidades fiscais e declarar-se culpado de quatro crimes, Cristiano Ronaldo foi titular no onze escolhido por Massimiliano Allegri. O treinador italiano apostou em Douglas Costa na ala direita e Bernardeschi na esquerda, com o habitual Dybala ao lado do português, e promoveu Mattia Perin, De Sciglio, Emre Can e Rugani à titularidade, em detrimento de Szczesny, João Cancelo, Pjanic (que estava castigado) e Bonucci. Mario Mandzukic, Juan Cuadrado, Benatia e Andrea Barzagli, todos lesionados, estavam fora das opções.

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Com jogos para a Taça e para a Supertaça pelo meio, a verdade é que este era mesmo o primeiro encontro a contar para o Campeonato italiano que a Juventus cumpria em 2019. Ainda antes do apito inicial, as bancadas do Allianz Arena já faziam a festa: além da apresentação do troféu conquistado na semana passada na Arábia Saudita, os adeptos da Juventus comemoraram a eleição de Cristiano Ronaldo enquanto jogador do mês de dezembro, naquela que é já a terceira vez que o jogador português vence o prémio desde que chegou a Itália. Depois do aviso no jogo em Verona — em que a Juventus só conseguiu carimbar a vitória no terceiro minuto de tempo adicional, com um golo de Bernardeschi –, Allegri sabia que era necessário entrar forte, resolver cedo e não permitir que o jogo se arrastasse até perto do apito final, motivando derradeiros minutos de aperto e sofrimento, como tem sido hábito nos últimos jogos da vecchia signora para o Campeonato.

Contudo, e sem qualquer medo ou receio, o Chievo arrancou com vontade de sair de Turim com uma surpresa no bolso. Logo aos cinco minutos, Perin aplicou-se para parar um remate de Meggiorini e a equipa comandada por Domenico Di Carlo jogou mesmo esses instantes iniciais da partida dentro do meio-campo defensivo da Juventus. A primeira aproximação dos bianconeri à baliza defendida pelo veterano Stefano Sorrentino chegou dois minutos depois, quando Bernardeschi surgiu lançado no corredor direito e cruzou rasteiro e certinho para o segundo poste: Ronaldo, sem marcação, não viu a bola partir e falhou o toque final. Sob a batuta de Bernardeschi, que cumpriu uma primeira parte de alto nível, a Juventus lançou-se para o ataque e criou desequilíbrios principalmente a partir das incursões dos extremos por terrenos interiores. E foi exatamente assim que surgiu o previsível golo.

À passagem do minuto 13, Douglas Costa recebeu a bola na linha do meio-campo, tombado na direita, lançou-se numa jogada individual e prosseguiu para a zona central do terreno, levando consigo dois defesas do Chievo, e atirou forte e rasteiro de pé esquerdo para o poste mais longínquo. Sorrentino não teve qualquer hipótese e o brasileiro marcou pela quarta vez nos primeiros 25 minutos de jogo. A confiança garantida pela inauguração do marcador concedeu várias oportunidades à Juventus, com um remate de Emre Can (24′), uma arrancada de Bernardeschi (26′), um cabeceamento de Rugani (29′) e uma tentativa de Ronaldo (33′). Não conseguindo aumentar a vantagem nos 10/15 minutos que se seguiram ao golo de Douglas Costa, a equipa de Allegri começou a cometer erros na linha intermédia e a descurar a fase inicial de pressão, abrindo espaços a um Chievo que ia mostrando um arrojo que em nada se assemelha ao de uma equipa que está no último lugar de um Campeonato.

Sem realizar uma grande exibição e depois de suster a respiração em dois momentos, com um grande remate de longe de Radovanovic (39′) e um cruzamento de Meggiorini a que Pellissier chegou atrasado por pouco (43′), a Juventus acabou por conseguir chegar ao segundo golo ainda antes do intervalo. Paulo Dybala recebeu antes da meia lua da grande área, soube defender-se de quatro defesas do Chievo e soltar de pé esquerdo para Emre Can, que dominou e atirou para o poste oposto, estreando-se a marcar com a camisola dos italianos — o golo do médio alemão concretizou uma jogada construída com 28 passes, o número mais elevado de passes num lance que deu golo nesta temporada da Serie A. Na ida para o descanso, a Juventus estava a ganhar por 2-0 sem deslumbrar e Cristiano Ronaldo apresentava-se algo abaixo do normal, com muitas perdas de bola em zonas decisivas e pouco sentido de oportunidade.

No regresso para a segunda parte, o jogo voltava tal qual como tinha ido para o intervalo: mais posse de bola da Juventus mas um Chievo atiradiço e sem vergonha que ia causando calafrios a Chiellini e Rugani quando ultrapassava a primeira linha defensiva. Logo aos três minutos do segundo tempo, Alex Sandro respondeu ao segundo poste a um cruzamento a partir da direita e viu Sorrentino roubar-lhe o terceiro golo da partida com uma grande intervenção. O guarda-redes italiano voltaria a fazê-lo três minutos depois, numa reedição de um duelo que teve lugar na partida inicial da temporada: na altura, Cristiano Ronaldo rematou cinco vezes e viu Sorrentino impedi-lo de marcar nessas mesmas cinco vezes. Cinco meses depois, Douglas Costa atirou à baliza à entrada da área e Bani intercetou com o braço. Grande penalidade e, claro, o chamado a converter foi Cristiano Ronaldo. Cara a cara com Sorrentino, o português atirou rasteiro para o lado esquerdo do guarda-redes e viu o italiano de 39 anos defender o penálti e evitar o terceiro da Juventus. Se a primeira parte já espelhava uma quebra de confiança de Ronaldo, a grande penalidade desperdiçada só confirmava que esta não era a noite do número 7 dos bianconeri.

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A Juventus tirou o pé do acelerador e o Chievo ganhou alguma confiança com a grande penalidade falhada: Di Carlo fez três substituições consecutivas, com as entradas de Stepinski, Jaroszynski e Vignato, e a equipa de Verona conseguiu intrometer-se entre os blocos adversários, principalmente pelo corredor central. Giaccherini protagonizou a melhor ocasião de golo do lanterna vermelha da Seria A, ao surgir a cabecear sozinho no coração da área, e a Juventus respondeu com duas oportunidades de Cristiano Ronaldo: numa, o português rematou contra o próprio pé; na outra, ao aparecer ao segundo poste em boa posição para rematar, atirou muito ao lado da baliza de Sorrentino. O sorriso amarelo de Ronaldo, após ambos os falhanços, espelhava a frustração do português.

Até ao final, a Juve ainda conseguiu marcar o terceiro, através de um bom cabeceamento de Rugani depois de um livre batido por Bernardeschi na esquerda, e Cristiano Ronaldo terminou mesmo a partida em branco, continuando sem conseguir marcar ao Chievo. O português esteve bem abaixo dos níveis habituais — assim como a própria equipa, que voltou a vencer graças à superior e inegável qualidade individual e eficácia mas continua a mostrar fraquezas defensivas e debilidades nas transições ataque-defesa. Ainda assim, a Juventus mantém a distância de nove pontos para o segundo classificado, o Nápoles, e 16 para o terceiro, o Inter Milão.