Cerca de 30% do crédito concedido pela banca comercial angolana está em situação de incumprimento ou malparado, nível que o Banco Nacional de Angola (BNA) considera “bastante alto”, mesmo para os países da África austral.

A posição foi assumida esta quarta-feira, em Luanda, pelo vice-governador do BNA, Manuel Tiago Dias, questionado pela agência Lusa após o encerramento da Conferência sobre Financiamento ao Setor Privado, promovida pelo próprio banco central angolano, tendo referido que, para se ultrapassar a situação, é necessário o reforço e a consolidação da banca e a resolução dos “pendentes do Estado” para com o setor empresarial.

“O crédito malparado foi objeto de uma grande análise durante a apresentação feita [hoje, na conferência] pelo Departamento de Supervisão Bancária do BNA, que chamou a atenção dos participantes para o nível bastante alto do crédito malparado, que se situa na ordem dos 30%”, afirmou.

Tiago Dias, porém, referiu desconhecer qual o montante em causa, admitindo também desconhecer o “peso” do fenómeno no Produto Interno Bruto (PIB) angolano. “E é bastante alto se formos a compará-lo com aquilo que são os indicadores de países próximos de nós, os situados na nossa região [da África austral], que também viveram situações difíceis de crise a um dado momento do seu desenvolvimento económico e social”, acrescentou.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Tiago Dias indicou ser “importante” basear as soluções no diagnóstico que tem sido feito. “A génese do crédito malparado começa com a degradação dos principais indicadores da atividade económica, principalmente nos últimos anos, que fez com que o setor empresarial conhecesse dificuldades e, por consequência, alguns operadores económicos deixaram de honrar os seus compromissos para com os bancos”, argumentou.

Segundo o vice-governador do banco central angolano, as soluções podem passar pelo “saneamento de algumas empresas”, pelo “reforço e consolidação dos próprios bancos” e também pela “resolução dos problemas pendentes do Estado para com o setor empresarial.

“Mas esta é uma questão que está a ser resolvida pelo executivo, principalmente no âmbito do programa assinado com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Está previsto que o executivo regularize os atrasados que tem para com o setor empresarial”, acrescentou.

Sobre as queixas dos empresários relativamente às elevadas taxas de juro apresentadas pelos bancos comerciais em Angola, que variam entre 18% e 20%, Tiago Dias referiu que existem soluções “que devem ser encaradas em várias perspetivas”.

“Os custos de financiamento, os custos das taxas de juro. Para as baixar, obviamente que temos de continuar os esforços que estão a ser implementados para reduzir a taxa de inflação. Houve uma redução relativamente importante na taxa de inflação em 2018 (18,60%) comparativamente a 2017 (23,67%). Esse esforço deve continuar em 2019”, defendeu.

“Paralelamente a isso, há um conjunto de medidas de política monetária que são tomadas pelo banco central, e que consiste também na redução das taxas diretoras do BNA, o que, de certa forma, vai acabar por sinalizar o mercado para a redução das taxas de juro. Depois, há ainda questões estruturais que devem ser resolvidas, porque, para que os bancos concedam crédito à economia, é necessário que esses bancos também tenham recursos”, argumentou.

Por outro lado, acrescentou Tiago Dias, um dos dois vice-governadores do BNA — o outro é Rui Oliveira Mingueis –, nos últimos anos observou-se um agravamento das contas ficais, o que levou a que o Tesouro tenha mobilizado recursos para o financiamento do défice fiscal. “Isso contribuiu para que parte substancial dos recursos disponíveis fossem canalizados para o financiamento do défice e não tanto para o financiamento da atividade económica”, explicou.

Nesse sentido, Tiago Dias destacou também o “peso do Estado” na economia angolana, salientando que, como consequência das medidas que estão a ser tomadas pelo Governo de Luanda, que visam reduzi-lo através da privatização de 72 empresas, “irá permitir libertar recursos para apoiar o setor produtivo nacional”.