Uma equipa de cientistas norte-americanos conseguiu forçar determinados genes de rato a persistirem nas gerações seguintes, de modo a que se espalhem por uma espécie inteira. É a primeira vez que uma técnica como esta é feita com sucesso em mamíferos. Isso pode ajudar a combater doenças como a malária ou a erradicar uma espécie invasora de uma região, mas levanta problemas éticos porque obriga determinada informação genética a persistir em vez de outra. No mundo natural, a informação genética que é dada à geração seguinte é passada de forma aleatória.
Isso foi feito através de uma ferramenta de engenharia genética chamada “gene dirigido”. O que essa ferramenta faz é propagar um determinado gene (ou conjunto de genes) ao longo de uma população. Para tal, é alterarada a probabilidade que uma informação genética tem de passar para a geração seguinte. Numa situação natural, sem intervenção de cientistas, essa informação genética tinha tanta probabilidade como outra qualquer de passar para a descendência. O que o “gene dirigido” faz é alterar essa probabilidade para que a informação genética conveniente ao cientista tenha mais hipóteses de persistir nas gerações futuras do que a outra, explica o The Guardian.
De fazer bebés à medida a outras polémicas da edição genética (mas também coisas boas)
Essa técnica já tinha sido utilizada com sucesso em insetos. Mas embora os resultados dos estudos fossem promissores, os mosquitos geneticamente modificados nunca saíram dos laboratórios porque a técnica era capaz de exterminar uma população inteira desses insetos. Agora, os cientistas conseguiram provar que o mesmo pode ser feito com mamíferos ao alterarem embriões de ratos. As alterações foram feitas de modo a que as fêmeas espalhem para as gerações futuras mais rápida e eficazmente do que seria normal um gene modificado. Tentou-se fazer o mesmo com os machos para a técnica não resultou nesse caso: a introdução de “genes dirigidos” em indivíduos do sexo masculino levou ao desenvolvimento de mutações.
Quando usado para o bem, o “gene dirigido” já foi usado com sucesso para tornar inférteis os mosquitos portadores de parasitas como o causador da malária. E também já se conseguiu aumentar a resistência dos insetos a infeções por esses parasitas, tornando menos provável que passem as doenças para as pessoas que picarem.
Cientistas conseguem esterilizar mosquito que transmite a malária para garantir o seu extermínio
No entanto, esta técnica também pode ser usada para fins mais controversos: levada a extremos, esta forma de modificação genética pode erradicar espécies inteiras. Se os mosquitos desaparecessem, por exemplo, o número de animais que se alimentam deles também diminuiria e a população de espécies que serviam de alimento a esses mosquitos aumentaria.
Isso abalaria as cadeias alimentares e, em consequência, o equilíbrio ecológico.