O Presidente da República defende que é preciso ser “equilibrado, justo e inteligente na forma de reação” aos movimentos xenófobos, que aproveitam momentos em que as questões da segurança aparecem na agenda mediática para reforçarem a mensagem “populista”. Perante os casos de insegurança em vários bairros da Grande Lisboa, Marcelo pede aos responsáveis políticos e a cada pessoa que não participem na criação de um “clima de radicalização”, porque “ninguém ganha com isso”.

O repto foi lançado por Marcelo Rebelo de Sousa numa aula que decidiu dar a estudantes do Liceu Passos Manuel, em Lisboa, na resposta a uma questão colocada por uma aluna. O Presidente da República lembrou que “em todas as comunidades há conflitos sociais. E em comunidades mais diversificadas e onde há problemas económicos e sociais, os conflitos são maiores”.

Em declarações transmitidas pela SIC Notícias, Marcelo lembrou que nos “anos piores da crise” se via crianças a irem para a escola “sem o mínimo de alimentação”, em muitos casos por virem de famílias afetadas pelo desemprego. Sublinhando que as tensões “não existem só no bairro A ou no bairro B”, Marcelo lembrou que “de quando em vez, há intervenções policiais” e tanto há intervenções “nas Avenidas Novas, como há intervenções nos Olivais ou em Benfica ou nos sítios mais diversos — umas são mais notícia e outras são menos notícia e umas são mais felizes e outras são menos felizes”. E Marcelo lembra que, “no dia a dia, não é notícia aquilo que é mais feliz e corre melhor”.

“Como em tudo o que é humano, as instituições como as forças de segurança têm, também, em situações de intervenção e stress, têm momentos melhores e momentos piores”. Isto apesar das “regras”, como da “proporcionalidade” — “o problema está na aplicação das regras, porque estamos perante instituições constituídas por seres humanos”. Marcelo defendeu, porém, que a sociedade portuguesa é uma sociedade atenta, não é uma sociedade que não escrutina as forças de segurança. A reação pública (e disciplinar) que houve nos casos de excessos que houve mostra que não há “laxismo” quanto a essa matéria. “Comparando com outros países, isso não acontece”, atirou Marcelo.

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“Não há sociedade sem forças de segurança”, defendeu o Presidente da República, acrescentando que “tudo o que seja diabolizar ou divinizar, tudo o que forem posições radicais dum lado ou de outro são posições extremas e que não convidam à convergência”. Por isso é que “a minha intervenção foi conciliadora e de convergência”, explicou. “Como em tudo na vida, acho que não se deve generalizar, que é dizer ‘toda a polícia ou todas as forças de segurança corresponde à atuação de A ou B”. Qualquer generalização é “injusta”, atirou.

O Ministério Público está a apurar quem atuou mal, responde por isso e tem-se visto que o Ministério Público não irá proteger uns ou desproteger outros”.

É preciso ser “equilibrado, justo e inteligente na forma de reação”, sob pena de “alimentar aquilo que até agora não existe em Portugal, que é um partido, um movimento ou uma força que apareça com posições de intolerância e a defender o uniculturalismo — isso não pode ser”.