“Em Trânsito”

O novo filme do alemão Christian Petzold  (“Bárbara”, “Phoenix”) adapta um livro da escritora Anna Seghers e passa-se em Marselha, nos nossos dias, que é ao mesmo tempo a Marselha da II Guerra Mundial, de onde muitos refugiados tentam sair antes que cheguem as tropas alemãs que invadiram a França. Esta justaposição de tempos históricos resulta numa aposta totalmente perdida, porque nunca verosímil, nem como exercício de abstração, nem como realidade alternativa. Tal como não colhe a intenção de fazer um paralelo entre a situação dos migrantes ilegais que querem hoje entrar na Europa, e os refugiados que a procuravam deixar quando da invasão nazi, porque são situações completamente diversas em todos os aspetos e logo incomparáveis. Junta-se a isto o facto de Franz Rogowski, no papel de um homem que roubou os documentos a um morto para se poder escapar para os EUA, ser um péssimo ator.

“Serenidade”

Matthew McConaughey interpreta o principal papel desta fita, a terceira realização do argumentista britânico Steven Knight, o autor de”Locke” e de séries de televisão como “Peaky Blinders”. “Serenidade” parece ser um típico policial de série B, onde a personagem de McConaughey, o capitão de um barco de recreio para pesca em alto mar, é tentado pela ex-mulher (Anne Hathaway) a matar o rico e brutal novo marido desta (Jason Clarke), mas vai-se lentamente transformando numa história de envolvência fantástica, mais estranha e complexa do que aparentava. Mas acontece que Knight não tem “métier” cinematográfico que chegue para rodar esta história de modo suficientemente organizado e claro, e “Serenidade” torna-se num daqueles filmes de argumentista que pode ter parecido muito bom e muito engenhoso no papel, mas que posto em imagens, redunda mal alinhavado, confuso e pouco satisfatório.

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“Green Book — Um Guia para a Vida”

Este filme de Peter Farrelly foi buscar o título ao livro The Negro Motorist Green Book, editado por Victor Hugo Green entre 1936 e 1966, e que ajudava os viajantes negros, na era da discriminação racial nos EUA, sobretudo nos estados do Sul, a encontrar restaurantes, alojamentos e locais de diversão onde não fossem segregados. Baseia-se também num facto real. Em 1962, o culto e sofisticado pianista negro Don Shirley (Mahersala Ali) foi em digressão com o seu trio ao Sul dos EUA, e levou consigo, como motorista e guarda-costas, o vivaço e desembaraçado Tony “Lip” Vallelonga (Viggo Mortensen), um italo-americano da Bronx que trabalhava como “segurança” em clubes noturnos e estava desempregado. “Green Book — Um Guia para a Vida” foi escolhido como filme da semana pelo Observador, e pode ler a crítica aqui.