Os mineiros encontraram o corpo de Julen quando passavam 25 minutos da meia noite em Portugal. A criança estava morta. O processo foi difícil e teve o último revés nos últimos 45 cm do troço que os oito mineiros das Astúrias escavaram à mão. Foi preciso fazer uma quarta microexplosão realizada durante as operações de resgate do bebé de dois anos que caiu no poço de Málaga, a 13 de janeiro. A detonação teve de ser “extremamente precisa”, por estar num local muito perto onde a criança estaria dentro do buraco.

A confirmação veio de Jorge Martin, porta-voz da Guardia Civil, que avançou então que já tinham sido escavados 3,35 metros, dos 3,80 da galeria horizontal para chegar a Julen Jimenez. E que havia apenas 45 centímetros a separar os mineiros do local onde Julen estaria, numa operação que já durava há mais de 30 horas sem interrupções. Faltavam apenas os últimos centímetros e aproximavam-se os momentos decisivos. O que terá provocado uma crise de ansiedade ao pai de Julen, que teve de ser socorrido, avançou o El Mundo. No local estava presente uma equipa de psicólogos para dar apoio aos pais do bebé.

Quando a criança foi encontrada, “os últimos resgatadores serão os da Guardia Civil”, acrescentou desde logo o responsável. Estes resgatadores foram quatro membros da Guardia Civil — dois de Palma de Maiorca e outros dois de Cantabria — especialistas em montanhas e espeleologia. “A precisão é essencial”, acrescentou Jorge Martin. No local a equipa completa era constituída por 26 operacionais: oito mineiros, 10 agentes da Guardia Civil e oito bombeiros.

O complicado resgate que decorre há mais de 12 dias entrava assim na reta final, com oito mineiros a escavarem os últimos centímetros dos 3,8 metros que os separava da criança. Depois de terem surgido vários contratempos que atrasaram os trabalhos: a cada nova microexplosão, e foram quatro no total, os mineiros tinham que esperar mais cerca de duas horas para poderem continuar os trabalhos, tendo em conta que era necessário esperar que fosse extraído todo o material e esperar que ar contaminado e os gases que se concentraram no túnel fossem também retirados, como se pode ver abaixo.

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A dureza do solo foi desde o início um dos entraves nas operações. O tipo de terreno complicou à partida a perfuração de um túnel vertical paralelo ao poço onde Julen caiu, dificuldades que os mineiros continuam a enfrentar na escavação da galeria que deverá dar acesso à criança. Esta madrugada, escreveu o espanhol El Mundo, a Guardia Civil realizou as primeiras microexplosões na respetiva galeria. Contudo, os mineiros escavaram os primeiros 3,35 metros apenas com recurso a martelos e explosivos.

Quando chegaram mais perto do local onde Julen estava, introduziram uma pequena câmara, através de um furo na parede, para confirmarem se a criança estava naquela parte do poço e se estava viva ou não.

A descida dos oito mineiros da Brigada de Resgate Mineiro de Hunosa começou na tarde de quinta-feira, pelas 17h30 (16h30, em Portugal), depois de estar finalmente completa a plataforma que garantia a segurança da equipa que desceu a 73 metros de profundidade para chegar a Julen. A operação foi complicada: os mineiros tinham de subir e descer aos pares numa cápsula elevatória que atravessava o túnel, construída de propósito para o resgate. Cada equipa de dois mineiros trabalhava 40 minutos, no máximo. Levavam consigo uma pá, um pequeno machado e um martelo pneumático, num peso total de 22kg.

Apesar das dificuldades que foram condicionando as operações, a equipa de resgate não perdeu o otimismo, tal como assegurou ao El Mundo o porta-voz da Guardia Civil, que na quinta-feira afirmava ainda existir “otimismo e ânimo em encontrar o local onde se encontra Julen”. Foram mais de 300 as pessoas envolvidas no resgate de Julen: mineiros, bombeiros, elementos da Guardia Civil, operários e voluntários da Proteção Civil que trabalharam sem parar de dia e noite.

JORGE GUERRERO/AFP/Getty Images

Quem foram os oito mineiros que arriscam a vida para resgatar Julen?

“Contenhamos a respiração pelos mineiros que trabalham sem descanso para resgatar o pequeno Julen, em Totálan, e esperemos por notícias”. O apelo foi feito num tweet publicado pelo centro de emergências da Andaluzia horas depois de os mineiros da Brigada de Salvamento de Hunosa começarem a descer em direção a Julen.

Os mineiros envolvidos nas operações de resgate não se consideram heróis, apenas homens que fazem parte de uma equipa mais vasta, onde também se incluem membros da Guardia Civil e bombeiros. Admitiram que estavam assoberbados pelo interesse mediático, embora reconheçam que toda a Espanha estava “pendente” do seu trabalho, à espera de resultados.

Quase duas semanas depois e com o túnel paralelo ao poço finalmente terminado, os oito mineiros entraram esta quinta-feira em ação. Ao início da tarde, a plataforma que garantia a segurança da equipa de salvamento ficou concluída para que os mineiros pudessem descer a 73 metros de profundidade e, aí, começar a escavar a galeria em direção ao pequeno Julen.

É a última fase, mas também a mais perigosa de toda a operação que dura desde o passado dia 13 de janeiro. Os oito mineiros desciam aos pares, numa cápsula de metal de cerca de 300 quilos, construída de propósito para o resgate. Cada equipa de dois mineiros trabalhav a 4o minutos, no máximo, e tinha de escavar cerca de quatro metros, na horizontal, até ao local onde acreditavam que podia estar Julen.

A equipa considerada de elite era comandada pelo engenheiro Sergio Tuñon, diretor técnico da Brigada de Salvamento de Hunosa, desde 2012, e pelo engenheiro técnico Antonio Ortega, um dos últimos a integrar a Brigada, de acordo com o jornal La Nueva España. Não é a primeira vez que Sergio Tuñon lidera operações como esta. Em 2015, comandou o resgate de um mineiro falecido em Degaña e, em 2017, de um especialista em grutas que morreu em Vizcaya. Antes, em 1995, fez parte da equipa da tragédia de Nicolasa, em 1995, quando 14 mineiros morreram na sequência de uma explosão no poço San Nicolás, nas Astúrias.

Foi nesta tragédia que morreu Eduardo Augusto Alves, o português residente em Gijón, pai de Lázaro Alves Gutiérrez, um dos oito mineiros envolvidos no resgate de Julen. Dos restantes, Jesús Fernández Prado e Maudilio Suárez são os mais experientes, com mais de 10 anos na área e várias operações realizadas.

Eduardo Alves, o português que morreu numa mina e era pai de um dos homens que resgataram Julen

Também houve novatos envolvidos no resgate do menino de 2 anos. Rubén García Ares é um dos mais jovens do grupo, embora tenha entrado na Brigada há cerca de 9 anos. Em contrapartida, José Antonio Huerta está na equipa há muito pouco tempo. Adrián Villaroel é o mais novo quer em idade, quer em anos de serviço. Todos arriscaram a própria vida para resgatar Julen e acreditaram que a noite desta quinta-feira era a última que o menino de dois anos ficava naquele poço.

A noite de quinta-feira foi marcada por uma vigília em que participaram mais de 200 pessoas. JORGE GUERRERO/AFP/Getty Images

Pais de Julen continuavam à espera de um “milagre”

A noite de quinta-feira foi de vigília para mais de 200 pessoas, com direito a várias orações e cânticos numa tenda montada junto a uma casa funerária em Totalán, em Málaga. O padre Juan José Cortés também participou na vigília e falou em nome dos pais de Julen — José e Vicky –, que ainda se mostravam esperançosos que o menino de dois anos fosse resgatado são e salvo. Citado pelo El Español, Juan José Cortés disse: “Acreditamos que um milagre é possível”.

Na vigília da última noite pediu-se respeito e espaço em nome da família de Julen. Um dos momentos mais marcantes terá sido a leitura de uma carta redigida por um preso de Valdemoro, onde garantiu que os prisioneiros estão privados de liberdade, mas não de humanidade.