Simone Inzaghi não era propriamente um avançado ao nível do seu irmão, Pippo, que brilhou sobretudo na Juventus e no AC Milan onde chegou a ser treinado por Massimiliano Allegri, mas ainda fazia alguns golitos na Serie A, entre Piacenza, Sampdoria, Atalanta e Lazio, o clube com quem sempre teve a ligação mais forte e onde começou a carreira de treinador nas camadas jovens antes de assumir em 2016 o conjunto principal. Era móvel, inteligente, com sentido posicional. Ele, melhor do que ninguém, sabe como pode ser complicado travar um avançado – e se for um Cristiano Ronaldo, ainda pior. Mas nem por isso parecia ser uma grande preocupação da formação romana, a acreditar nas palavras do técnico no lançamento do encontro.

“Vamos defrontar a equipa mais forte de Itália. Precisamos de uma exibição especial e teremos de entrar totalmente focados porque a formação da Juventus é muito intensa nos primeiros 20 minutos. A partir daí, é tudo cabeça, coração e pernas”, disse o antigo internacional italiano (três jogos pela squadra azzurra), ciente dos bons arranques de partida da Vecchia Signora. Essa parte do plano foi cumprida e respeitada. Aliás, aos 20′, quando Lulic tentou mais um cruzamento na esquerda que saiu muito longo, os visitantes não tinham sequer feito uma abordagem ao último terço contrário. Mas não ficou por aí.

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Até esse momento, uma jogada de Joaquín Correa, a passar por meio mundo antes do corte para canto de Rugani, tinha sido o lance de maior perigo (11′); a partir daí, houve um remate perigoso de Parolo sozinho na área num erro claro de marcação para defesa de Szczesny (37′) e a grande oportunidade de Immobile, que conseguiu fazer passar a bola por cima do guarda-redes polaco antes de Rugani conseguir ainda esticar a perna e desviar para novo canto (43′). Nos descontos, em saídas de bola simples e sem grande pressão, Alex Sandro e Chiellini deixaram passar a bola por baixo do pé para fora da linha lateral. Dois exemplos da noite desinspirada da Juventus, que perdeu ainda por lesão antes do intervalo o central Bonucci.

Quando aos 25′ Cristiano Ronaldo aproveitou uma reposição de bola de Szczesny para pedir à equipa para subir no relvado, o português teve a intervenção com maior significado no decorrer do primeiro tempo. Nenhum remate, nenhuma assistência, só alguns toques na bola e sempre demasiado longe da área, quase no meio-campo. Além da maior timidez ofensiva dos laterais, Dybala era uma sombra do costume e Emre Can continuava a somar erros atrás de erros. Era preciso alguém como, por exemplo, Pavel Nedved, o “Anjo Loiro” que passou por Lazio e Juventus e é hoje vice-presidente para o futebol dos bianconeri. Alguém que transportasse bola, que arriscasse a meia-distância, que trouxesse criatividade, que desse critério às ações ofensivas.

Em poucas palavras, a ideia depois do intervalo era simples: dificilmente a Juve poderia estar pior do que na primeira parte. Mas esteve mesmo, por incrível que parecesse: já depois de um remate de Luís Alberto à entrada da área que passou a rasar a baliza dos visitantes, a Lazio inaugurou mesmo o marcador na sequência de um canto marcado pelo brasileiro na esquerda que foi desviado de forma inadvertida por Emre Can para a própria baliza (59′). E o cenário só não se tornou ainda mais negro porque Immobile, isolado em velocidade na área, tentou colocar tanto a bola que saiu muito por cima.

Allegri, que já tinha queimado uma alteração na primeira parte com a lesão de Bonucci, lançou Bernardeschi no lugar de Matuidi e esgotou as substituições com a entrada do português João Cancelo para o lugar de Douglas Costa, procurando outra qualidade nas laterais ofensivas para servir as unidades mais adiantadas. Em vantagem, os visitados tomavam conta do encontro com Luís Alberto a brilhas nas ações ofensivas e Milinkovic-Savic a provar mais uma vez o porquê de ter meia Europa interessada no seu passe mas já se sabe como é quando do outro lado está a Juventus: Bernardeschi avançou pela esquerda, Dybala fez o primeiro remate para defesa incompleta de Strakosha e Cancelo, na recarga, encostou na área para o empate (74′), naquele que foi também o primeiro golo do internacional português pelo conjunto de Turim.

Foi um golpe complicado de gerir para a Lazio, que não estava propriamente muito à vontade em termos físicos depois de todo o desgaste acumulado ao longo da partida. Tão complicado que a Juventus conseguiu mesmo agarrar no controlo da partida, teve outra capacidade nas aproximações e criou oportunidades para conseguir a reviravolta, como um cabeceamento de Emre Can aos 82′ no seguimento de um cruzamento da esquerda de Cristiano Ronaldo. A dois minutos do final, o improvável aconteceu: João Cancelo sofreu penálti e Ronaldo, que na semana passada falhara um castigo máximo com o Chievo, chamou a si a conversão e apontou o 2-1 que garantiu nova vitória aos bianconeri, agora com 11 pontos de avanço sobre o Nápoles e 18 do Inter.