Que o Campeonato Nacional de hóquei em patins, que nos últimos três anos teve outros tantos vencedores, iria ser de novo uma luta hercúlea a quatro já todos sabiam, mas poucos poderiam adivinhar que os principais candidatos tivessem tantas “escorregadelas” como aconteceu na primeira volta, com Benfica e Sporting como melhores exemplos disso mesmo: os encarnados, depois de um início onde ganharam sete pontos em nove possíveis com os adversários diretos (empate em Alvalade, vitória em Oliveira de Azeméis, triunfo em casa com o FC Porto), perderam com o HC Braga e somaram empates surpreendentes com OC Barcelos e Oeiras – o que levou à saída de Pedro Nunes; os verde e brancos, que não foram além de igualdades com Benfica e Oliveirense antes do triunfo frente aos dragões, perderam em Alvalade com o Paço de Arcos e empataram em Barcelos.

Sporting e Benfica empatam na primeira jornada do Campeonato de hóquei em patins

Era por isso que o dérbi que abria a segunda volta do Campeonato, já depois dos triunfos tangenciais de Oliveirense (Juventude de Viana, 3-2) e FC Porto (Oeiras, 5-4), assumia uma grande importância nas contas do título. Não era decisivo, não sentenciava nada em definitivo mas poderia pautar as jornadas que restam. E num encontro onde tudo aconteceu na segunda parte, os leões foram mais eficazes do que as águias nos derradeiros minutos e venceram por 4-1, numa partida com alguma polémica, muitos azuis e quase todos os golos apontados no seguimento de bolas paradas (quatro dos cinco). Para Alejandro Domínguez, selecionador espanhol que substituiu Nunes, foi também a primeira derrota desde que chegou à Luz.

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Depois de um início de jogo mais morno e sem grandes oportunidades, os dois conjuntos tiveram à vez as melhores chances do primeiro tempo através de bolas paradas mas Albert Casanovas desperdiçou uma grande penalidade (que tinha valido também o cartão azul a Henrique Magalhães) aos 9′ e Ferrant Font falhou um livre direto depois do azul a Carlos Nicolia no minuto seguinte. As defesas levavam a melhor sobre os ataques até nas situações de under play e os guarda-redes davam conta do resto, sobretudo Ângelo Girão. Houve mais Benfica, em alguns períodos o Sporting não conseguiu sequer colocar o primeiro passe para sair rápido, mas o domínio encarnado refletido também nos remates (29-12) não teve reflexo no resultado.

Não é propriamente normal chegarmos ao intervalo sem golos num jogo de hóquei e os dérbis recentes, na Luz ou em Alvalade, têm comprovado isso mesmo: pode haver mais ou menos eficácia no remate mas 25 minutos a zeros nem por isso. Todavia, seria preciso esperar muito pouco para alguém inaugurar o marcador, neste caso o Sporting: Raúl Marin, um dos reforços dos leões para a nova época que não tinha jogado na primeira parte, entrou e converteu uma grande penalidade (3′).

Alejandro Domínguez ia testando várias soluções na frente entre Adroher, Nicolia e Lucas Ordoñez (que tem andado inspirado nos últimos encontros) mas o Benfica revelava dificuldades em algo onde foi sempre forte: “inventar” ocasiões de golo. Podia marcar mais ou menos mas criava e essa foi uma das principais falhas das águias neste início de segunda volta do Campeonato, que nem no momento mais quente do jogo mudou (6′): Raúl Marin viu cartão azul por falta sobre Casanovas, Ângelo Girão saiu da baliza para protestar com o jogador do encarnados, viu também azul por essa atitude e voltou a ser sancionado pelos protestos exagerados com o árbitro João Duarte (que no limite poderiam até ter valido vermelho direto).

Ferrant foi decisivo no dérbi, com dois livres diretos convertidos apenas num minuto quase a fechar o jogo (Filipe Amorim / Global Imagens)

Ordoñez, antigo avançado do Barcelona que se mostra cada vez mais adaptado à realidade portuguesa, foi chamado para cobrar o livre direto frente a Zé Diogo mas o suplente de Girão conseguiu manter a baliza inviolável durante largos minutos em under play onde até Marin podia ter ampliado para o Sporting, falhando um livre direto após a décima falta dos visitados (11′). Pouco depois, novo caso com azul à mistura: Ferrant Font tentava sair do seu meio ringue, caiu após ter sido tocado no patim, Nicolia ainda marcou no seguimento da jogada mas o encontro já estava parado e com azul para o espanhol (por simulação ou protestos, não se percebeu ao certo). Novo livre direto, nova defesa de Zé Diogo, agora com Adroher pela frente (13′).

Os leões estiveram cerca de dez minutos sempre em inferioridade numérica, foram aguentando algumas vezes atirando mesmo a bola para o lado contrário de forma assumida para poupar energias mas acabaram por cair num erro injustificado: logo depois de Pedro Gil ter entrado na pista para colocar a partida em 5×5 muito tempo depois, Gonzalo Romero fez uma falta merecedora de novo azul sobre Carlos Nicolia e Ordoñez, na quarta bola parada do Benfica, conseguiu finalmente chegar ao 1-1 (17′). Foi a explosão na Luz com excessos à mistura atrás do banco verde e branco, onde houve muita confusão e Marin se queixou de ter levado com algo na zona do pescoço, o que obrigou mesmo os árbitros a interromperem por minutos o dérbi.

Depois de uma primeira parte muito morna (às vezes demasiadamente morna), o segundo tempo não teve uma grande melhoria qualitativa mas ligou o encontro à corrente para um final que seria também eletrizante: Nicolia, que tocou em Platero e caiu com o argentino e Girão na área, viu cartão azul (também de forma exagerada), Ferrant Font não perdoou no livre direto (22′) e, ainda dentro do mesmo minuto, aumentou para 3-1 após a 15.ª falta, em mais dois lances de génio do jovem espanhol. Dentro do último minuto, Pedro Gil fechou o resultado em 4-1 no único golo apontado numa jogada ofensiva. O Benfica terminou com 71 remates, os guarda-redes leoninos fizeram um total de 39 defesas mas houve demasiada precipitação e desinspiração nas alturas de power play, ao contrário dos verde e brancos que conseguiram fazer prevalecer o espírito coletivo e de entreajuda.

Depois desta jornada, a primeira da segunda volta, a Oliveirense mantém a liderança do Campeonato com 35 pontos, mais um do que o FC Porto, dois do que o Sporting e cinco do que o Benfica. Na próxima ronda, a 15.ª, espera-se uma jornada mais “tranquila”, com o conjunto de Oliveira de Azeméis a receber o Paço de Arcos, os azuis e brancos a jogarem no Dragão com a Juventude de Viana, os leões a defrontarem o Riba d’Ave em Alvalade e os encarnados a viajarem até Tomar. A seguir, voltam os jogos entre candidatos: Benfica-Oliveirense na 16.ª jornada, FC Porto-Benfica na 17.ª, Oliveirense-Sporting na 18.ª e FC Porto-Sporting na 20.ª. Aí, quando restarem seis jogos para o final, tudo estará mais claro em relação à luta pelo título.