A Nova Companhia apresenta, a partir quarta-feira, na sala Estúdio do Teatro da Trindade, em Lisboa, a peça “Boudoir — Sete Diálogos Libertinos”, uma encenação de Martim Pedroso a partir de “A Filosofia na Alcova”. O espetáculo apresenta-se como uma forma de “celebrar a liberdade do corpo e do pensamento na sociedade contemporânea”, refletindo a sexualidade frente ao conservadorismo e moralidade católica do texto de Marquês de Sade, publicado em 1795.

Para maiores de 18 anos, a peça adapta o texto de Sade que estava “sempre na gaveta” de Martim Pedroso, contou à Lusa o ator e encenador, quando da estreia no Porto, em outubro último. Num livro “muito complexo”, principalmente por um trabalho visual de pormenor que descreve contactos sexuais entre as personagens, o híbrido entre o romance e o lado filosófico, além de diálogos quase teatrais, é levantada a questão sexual “contra tabus” mas também “um discurso sobre a liberdade em vários níveis”.

“Seja no corpo, na liberdade de expressão ou na liberdade de escolha sexual, até dos gostos dentro do sexo, e apela à diversidade a todos os níveis na sociedade, o que é altamente pioneiro para a altura, em que se vivia na monarquia”, refletiu.

A “convicção de que a religião católica era a causadora de muita repressão e hipocrisia”, ligada ao poder instalado, está bem patente na obra, que se revela ainda bastante atual “por causa de todas estas viragens assustadoras para uma direita fascista”.

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Martim Pedroso lembrou a eleição de Jair Bolsonaro para Presidente do Brasil como uma questão que transformou os “Diálogos” “quase numa campanha antifascismo, porque nunca [se está] livre de também ter de viver com isso”.

Este texto, para mim, é quase um ex-libris dessa vontade de continuar a fazer e continuar a ter voz, e de alguma maneira lutar contra a opressão e tudo aquilo que nos impede de continuar a fazer arte”, acrescentou

Além da libertação sexual e de ultrapassar barreiras societais que atentam à liberdade, “Filosofia na Alcova” reflete também sobre a questão feminista “e a condição da mulher”. Entre fantasias sexuais e um questionamento dos limites libertinos frente à aristocracia francesa, Sade “propõe uma nova ordem mundial indo ao limite da libertinagem”, refere a apresentação do espetáculo, a partir de uma família de libertinos que compõem as personagens da peça.

O trabalho mais prático de encenação da obra reflete também a “questão muito interessante do pudor, porque todos temos pudor e somos moldados por uma ideia do que é ou não aceitável”, e para os atores parte de “muita disponibilidade”, tanto física como intelectual, além de uma procura de autoconhecimento. Na relação com o público, fica o desafio de “fazer com que o público pense e excite o cérebro, mas também o sexo, e procurar esse lado mais físico”, apontou o encenador.

Interpretam Flávia Gusmão, João Gaspar, João Telmo, Maria João Abreu, Margarida Bakker, Martim Pedroso, Pedro Monteiro e Sofia Soares Ribeiro. A cenografia é de Rueffa, os figurinos de David Ferreira e João Telmo e a música de Carlos Morgado.

A peça vai estar em cartaz na sala Estúdio do Trindade até 10 de março, com espetáculos de quarta-feira a sábado, às 21h30, e, aos domingos, às 17h00.