Treze dias depois da queda, no dia 26 de janeiro, Julen foi finalmente retirado do buraco de 71 metros de profundidade onde tinha caído. A equipa de resgate teve de construir um túnel paralelo para conseguir aceder ao menino sem correr o risco de o soterrar. Mas a verdade é que já estava coberto com um tampão de terra compacta, com cerca de 60 centímetros, e é isso que agora intriga as autoridades.

A questão começa logo com o próprio furo. Primeiro, Antonio Sánchez, dono da empresa que realizou a perfuração, não tinha qualquer autorização para o fazer, refere o jornal El Mundo. O empresário disse à Guardia Civil que tapou o buraco com pedras. David, dono do terreno e primo de Julen, disse que o buraco estava aberto. O Serviço de Proteção da Natureza (Seprona) está a investigar se movimentos de terra provocados por trabalhos feitos na região poderiam ter desviado a pedra com que Antonio Sánchez terá tapado o poço.

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Certo é que o menino caiu no poço e daí surge a segunda questão: como se formou um tampão compacto por cima de Julen? O tampão pode ter-se formado pelo acumular de terra e outros materiais que se soltaram das paredes do poço durante a queda e por areia que terá caído durante os primeiros esforços do pai e dos familiares do menino para o tirarem do buraco.

Um dos pontos realçado por Manuel Regueiro, presidente do Colégio de Geólogos da Espanha, ouvido pelo jornal El Español, é que as paredes do poço eram formadas por quartzito e que os detritos que cobriram o menino eram dessa natureza. A queda de Julen, de 12 quilos, ao longo de 71 metros terá atingido uma grande velocidade o que justifica que a colisão com as paredes do buracos levasse a que se soltassem pedaços — e também podem justificar o “traumatismo cranioencefálico severo” identificado na autópsia.

O geólogo considera que terra e areia fossem uma fração menor da composição do tampão. O que terá acontecido é que, com a queda violenta, os pedaços de rocha se tenham soltado e partido em pedaços de vários tamanhos. E terá sido esta composição do tampão que tornou difícil a sua retirada e obrigou as equipas de resgate a escavar um túnel paralelo.

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A Guardia Civil recolheu amostras do tampão para averiguar a sua origem. Além disso, o ministro do Interior espanhol, Fernando Grande-Marlaska, já anunciou que haverá uma investigação à perfuração e às condições que levaram à morte da criança. As autoridades vão averiguar se está em causa um crime de homicídio por negligência, que pode ser punido com uma pena entre um a quatro anos de prisão, noticia a TSF. Certo é que os trabalhos não tinham autorização, falta saber quem não cumpriu com a lei: a empresa que fez o furo, o dono do terreno ou ambos.

Mais, a família da criança pode pedir uma compensação financeira pelos danos causados e o Estado espanhol pode reclamar os custos do resgate do menino que terão chegado aos dois milhões de euros.

Atualizado às 10 horas com a composição do tampão e possíveis processos.