Depois de inquirir perto de mil executivos de diferentes marcas automóveis, a multinacional KPMG procurou responder a uma pergunta a que ninguém se atreve a dar resposta: como será a indústria automóvel em 2040?

Responder a esta questão sem ter uma bola de cristal infalível é um desafio, tanto mais que esta indústria vive dias de transição. Por um lado, por aquilo a que obrigam as normas antipoluição cada vez mais severas; por outro, pelos aguardados desenvolvimentos na tecnologia das baterias, pois sem eles o ‘sonho’ da mobilidade eléctrica, mais amiga do ambiente, pode ficar amputado pelo preço – já para não falar de uma infra-estrutura capaz de responder às solicitações massivas de carregamento. Como se todas estas variáveis não bastassem, junta-se ainda uma outra: a prometida condução autónoma que, até ver, padece de tecnologia à altura e o devido enquadramento legal.

Fruto dos inquéritos que conduziu, a KPMG elaborou o Global Automotive Executive Survey 2019, onde antecipa as principais transformações de que a indústria automóvel vai ser alvo nas próximas duas décadas. E nada vai ser como dantes.

Uma das conclusões – menos surpreendentes – é que a Europa vai perder terreno para os asiáticos. Significa isto que vamos ser invadidos por carros chineses? Não necessariamente, mas muito provavelmente.  A produção da China serve, sobretudo, para abastecer o mercado local, mas o que é lógico é que custos de produção inferiores se traduzam em produtos finais mais baratos, com tudo o que isso implica, pois a Europa não é particularmente competitiva no que toca a produzir automóveis.

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A Europa vai ou não acordar para a ameaça chinesa?

Outra das conclusões, talvez a mais interessante face ao clima de incerteza gerado pela perseguição política aos diesel, prende-se com o mix de motorizações. A KPMG antecipa que, em 2040, metade dos automóveis continuarão a ser locomovidos por motores de combustão interna, gasolina ou diesel, incluindo nesta conta os híbridos.

Por essa altura, prevê a KPMG, os eléctricos a bateria representarão 30% do mercado. Uma estimativa que, para uns, pecará pela falta de ambição. Mas que, ainda assim, só encontra fundamento numa melhoria da tecnologia das baterias, que permita aos veículos eléctricos equipararem-se em preço com os seus rivais fósseis. Ainda que estes devam continuar a ser as alternativas mais baratas nesse horizonte. Já os eléctricos movidos a célula de combustível a hidrogénio deverão reclamar quase um quarto do mercado.

Em linha com o que se tem vindo a antecipar e com a própria estratégia de vários construtores, antecipa-se que o conceito de propriedade vai sofrer um brutal abalo. Quanto mais jovem for a sociedade, menos valor será dado ao facto de possuir ou não automóvel. Terreno fértil, portanto, para as empresas que fornecem serviços de mobilidade, em vez de se concentrarem na venda da viatura.

Neste quadro, adeus concessionários. A não ser que se reinventem e que passem a assumir funções que até aqui não têm. Porque tudo indica que, quer se queira quer não, os automóveis do futuro vão ser eléctricos ou electrificados, autónomos e com múltiplos utilizadores em vez de um único dono.