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A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça desceu à Luz (a crónica do Benfica-Boavista)

Este artigo tem mais de 5 anos

O Benfica venceu tranquilamente um Boavista que se apresentou na Luz sem treinador e sem orientação. Seferovic bisou, João Félix voltou a fazer história e Pizzi está num bom momento de forma.

Pizzi assistiu João Félix para o primeiro golo e marcou o segundo
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Pizzi assistiu João Félix para o primeiro golo e marcou o segundo

PEDRO_ROCHA

Pizzi assistiu João Félix para o primeiro golo e marcou o segundo

PEDRO_ROCHA

A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça conta a história de dois homens que lutam pelo amor de uma mulher. Um deles, o herói do conto, é perseguido por um fantasma ao sair de uma festa. O fantasma, que supostamente é um soldado germânico, foi decapitado por uma bala de canhão durante a Revolução Americana. É, portanto, um Cavaleiro sem Cabeça: um lutador que procura a vitória sem ter um instrumento fulcral para a conseguir. Esta terça-feira, no Estádio da Luz, o Boavista já não tinha Jorge Simão, ainda não tinha Lito Vidigal e visitava o segundo classificado da Primeira Liga. Sem liderança mas com vontade de procurar pontos e fugir da zona de despromoção que já morde os calcanhares, o Boavista foi um autêntico Cavaleiro sem Cabeça.

Ao contrário do que tem acontecido no último mês — pelo menos no que toca aos “três grandes” e ao Sp. Braga –, o Benfica apresentava-se esta terça-feira diante do Boavista depois de ter estado quase uma semana sem jogar. Os encarnados não entravam em campo desde a passada quarta-feira, quando perderam com o FC Porto na meia-final da Taça da Liga (1-3), e beneficiavam de algo que há muito não tinham: repouso. Bruno Lage não podia contar com Jonas, Svilar e Fejsa, todos lesionados, e convocava Florentino Luís e Zlobin da equipa B. O treinador encarnado apostava nos mesmos dez jogadores de campo que defrontaram o FC Porto na final four da Taça da Liga — com Samaris e Gabriel no meio-campo, Pizzi e Rafa nas alas e a dupla Seferovic-João Félix no ataque — e procurava regressar às vitórias depois de perder pela primeira vez com os dragões. Afinal, o próximo domingo é dia de dérbi lisboeta contra o Sporting e não só era preciso não deixar fugir o FC Porto como também manter a distância pontual para os leões.

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Ficha de jogo

Benfica-Boavista, 5-1

19.ª jornada da Primeira Liga NOS

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Rui Costa (AF Porto)

Benfica: Vlachodimos, André Almeida, Rúben Dias, Jardel, Grimaldo, Pizzi (Gedson, 82′), Samaris, Gabriel, Rafa (Zivkovic, 60′), Seferovic (Ferreyra, 75′), João Félix

Suplentes não utilizados: Zlobin, Conti, Salvio, Cervi

Treinador: Bruno Lage

Boavista: Helton Leite, Edú Machado, Neris, Gonçalo Cardoso, Talocha, Idris, Tahar (Carraça, 84′), Matheus Índio (André Claro, 74′), Mateus, Rafa Lopes (Falcone, 75′), Perdigão

Suplentes não utilizados: Bracali, Raphael, Samú, Gabriel Nunes

Treinador: Jorge Couto

Golos: João Félix (9′), Pizzi (28′), Talocha (42′), Seferovic (54′ e 73′), Grimaldo (86′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Neris (83′)

Do lado do Boavista, a visita à Luz fazia-se em período de convulsão. Jorge Simão saiu há apenas três dias, em troca direta com Lito Vidigal, e o ex-treinador do V. Setúbal só vai assumir o comando técnico da equipa no próximo jogo, no regresso ao Bessa. Significava isto que ao leme dos axadrezados estava Jorge Couto, elemento da equipa técnica que colocou Tahar no lugar do lesionado Rafael Costa e estreou Perdigão, reforço de inverno proveniente do Desp. Chaves. O Boavista estava apenas dois pontos acima da zona de despromoção e todos os jogos são atualmente autênticas finais para a manutenção das panteras no principal escalão do futebol português.

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Os primeiros cinco minutos de jogo foram uma amostra daquilo que o Benfica tentaria fazer até chegar ao primeiro golo: Pizzi, no corredor direito, bombeou duas bolas à procura de João Félix ao segundo poste e o jovem avançado só não inaugurou o marcador mais cedo porque Helton Leite se antecipou nas duas ocasiões. Aos sete minutos, porém, o bom entendimento entre os dois jogadores portugueses quase foi traído por Gabriel, que de forma inexplicável deixou Tahar completamente isolado na cara de Vlachodimos. O médio do Boavista atirou ao poste, falhou, e o Benfica soube colocar em prática a máxima que diz que quem não marca acaba por sofrer. João Félix ganhou uma falta a descair na direita e ofereceu a cobrança a Pizzi, posicionando-se de imediato no habitat natural — o segundo poste. Pizzi bateu em jeito, Félix foi mais forte do que Edu Machado e fez o primeiro golo dos encarnados na partida. A sociedade Pizzi & Félix estava bem conectada, a fazer estragos e não encontrava verdadeira oposição na defensiva axadrezada.

[Carregue nas imagens para ver alguns dos melhores momentos do Benfica-Boavista:]

A partir do primeiro golo, João Félix desceu um pouco no terreno, aproveitando a liberdade que o mais fixo Seferovic lhe oferece, e começou a abrir o livro — beneficiando e muito da alteração do 4x3x3 de Vitória para o 4x2x2 de Lage. O jovem avançado foi o melhor elemento dos encarnados na primeira parte e tornou-se o jogador mais novo do Benfica a chegar tão rápido aos cinco golos na Primeira Liga em 65 anos — para além de ter já ultrapassado o melhor registo de golos que tinha marcado enquanto profissional. Com o português de 19 anos mais recuado, o Benfica ganhou balanço e começou a explorar as costas da defesa do Boavista, sempre com passes longos à procura da profundidade de Seferovic; do outro lado, o Boavista não conseguia sair. O segundo golo encarnado era nesta altura uma questão de tempo e Rúben Dias só não inscreveu o nome na ficha de jogo porque o cabeceamento depois de um livre de Pizzi acertou com estrondo na barra da baliza axadrezada.

Descaído na direita, João Félix voltou a procurar Seferovic no lado oposto e colocou a bola já dentro da grande área. O suíço rematou, Helton Leite defendeu e Pizzi, na recarga, não falhou o avolumar da vantagem. Numa altura em que o Benfica tinha 70% de posse de bola e o Boavista tinha apenas 41 passes completos, o médio português conseguiu algo que já não alcançava há quase um ano: marcar e assistir no mesmo jogo. Perdigão, virtuoso que deixou boas indicações no Desp. Chaves, Mateus e Matheus Índio pouco ou nada conseguiam fazer para servir Rafael Lopes e passaram grande parte do primeiro tempo a jogar atrás da linha da bola, numa ação que em nada lhes é familiar.  Depois do segundo golo, o Benfica assentou na tranquilidade oferecida pela posse de bola garantida a meio-campo — assegurada por exibições competentes de Gabriel e Samaris — e desacelerou.

Mesmo com o quebrar do ritmo por parte do Benfica, o Boavista continuava com muitas dificuldades para sair a jogar e de forma apoiada, parando sempre na primeira linha de pressão encarnada e nunca encontrando espaço para lançar a velocidade pelos corredores. A equipa de Bruno Lage ia mantendo o controlo do jogo mas acabou por sofrer um golo contra a corrente, depois de um desentendimento entre Rúben Dias e Jardel que deixou Talocha com espaço e tempo para reduzir a desvantagem depois de um canto batido na direita. A superioridade e o inequívoco domínio dos encarnados iam para o intervalo abalados por um inesperado golo a dois minutos dos 45 que colocava tudo em perspetiva e abria a partida a novos horizontes. Afinal, do outro lado e mesmo sem Cabeça, estava um Cavaleiro.

No regresso para a segunda parte, Bruno Lage e Jorge Couto trouxeram os mesmos 22 mas o jogo voltou diferente. O Boavista entrou bem, com vontade de marcar o golo que carimbaria um surpreendente empate e colocar uma pressão extra nas costas dos jogadores encarnados. Perdigão, com mais espaço do que na primeira parte, foi o mais inconformado dos axadrezados chegou a rematar à baliza de Vlachodimos, ainda que a tentativa de fora de área tenha saído à figura do guarda-redes grego. Mas o Benfica teve esta terça-feira do seu lado um trunfo que tanta falta fez na passada quarta-feira contra o FC Porto: a eficácia. No primeiro lance de perigo que criou na segunda parte — novamente pelo lado direito, já que Rafa, dono do corredor contrário, passou um pouco ao lado do jogo –, o Benfica chegou ao terceiro e voltou a assumir a vantagem de dois golos com naturalidade e tranquilidade. João Félix surgiu no corredor, tirou da manga um cruzamento perfeito para o segundo poste e Seferovic só teve de finalizar. É verdade que os golos só podem ter um autor, que é aquele que de forma derradeira e final toca a bola antes de esta passar a linha da baliza. Mas tal como os filmes são feitos da realização e do argumento, também João Félix merecia ganhar Óscares por assistências como a que fez ao minuto 54.

Tal como tinha feito na primeira parte, o Benfica voltou a reduzir o ritmo depois do golo de Seferovic e procurou descansar com bola, ainda que a quebra de rendimento de Samaris tenha provocado alguns desequilíbrios que ainda permitiram ao Boavista conquistar cantos consecutivos que deixaram Bruno Lage pouco tranquilo junto à linha técnica. O maior atrevimento dos axadrezados — e, aqui, atrevimento é necessariamente uma hipérbole — deu origem a espaços onde a consolidação já era escassa e desposicionamentos onde a posição original já não era perfeita. Num contra-ataque rápido, João Félix conduziu e Pizzi e Seferovic trocaram de papéis: o primeiro rematou, o segundo marcou na recarga. O suíço bisou, voltou a cimentar aquela que é já sua temporada mais concretizadora e chegou aos 20 golos com a camisola do Benfica. Até ao fim, Grimaldo ainda iria marcar um grande golo e fazer o quinto dos encarnados e Vlachodimos ainda teve tempo para defender uma grande penalidade marcada por Mateus mesmo em cima do minuto 90.

Sem grande esforço e num ritmo quase híbrido de pára-arranca, o Benfica venceu o Boavista por 5-1 e somou a quarta vitória consecutiva para o Campeonato com Bruno Lage (além de garantir a presença de Jardel, André Almeida e Cervi, todos em risco de ver o quinto amarelo, no dérbi com o Sporting). Seferovic, que quando foi substituído protagonizou uma imagem que há meses era impensável — a saída do suíço depois de bisar para a entrada de um pouco utilizado Ferreyra –, bisou e acabou por ofuscar as grandes exibições de João Félix e Pizzi, que juntos foram os obreiros daquilo que foi o ataque quase letal dos encarnados. O Benfica assegurou o segundo lugar e fica provisoriamente a dois pontos do FC Porto e com uma vantagem de seis para o Sporting e quatro para o Sp. Braga; o Boavista, sem nunca deixar de procurar o ataque e sem nunca baixar os braços, foi Cavaleiro na Luz. Mas sem Jorge Simão e ainda sem Lito Vidigal, faltou a Cabeça aos axadrezados.

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