A permanência de Shoya Nakajima no Portimonense ao longo de, pelo menos, as últimas três janelas do mercado de transferências é algo inexplicável: o jovem japonês de 24 anos, seis vezes internacional pela seleção do Japão, chegou a Portugal e ao Portimonense na temporada passada, emprestado pelo Tokyo FC, e marcou dez golos ao longo de 33 jogos, contribuindo muito para o confortável 10.º lugar que os algarvios garantiram na temporada de regresso à Primeira Liga. O FC Porto foi o primeiro a demonstrar interesse, mas rapidamente o nome de Nakajima chegou a Inglaterra e à Premier League, onde o Leicester e o Wolverhampton eram os destinos mais prováveis.

Esta terça-feira, porém, a imprensa japonesa dá como certa a ida de Nakajima para o Al-Duahil do Qatar, clube atualmente treinado por Rui Faria, antigo adjunto de José Mourinho. Segundo a comunicação social do país asiático, o clube do Qatar, atualmente no segundo lugar do Campeonato (atrás do Al-Sadd de Jesualdo Ferreira, Xavi e Gabi), vai pagar 35 milhões de euros ao Portimonense pelo médio. Se o negócio se confirmar, Shoya Nakajima torna-se o jogador japonês mais caro de sempre — até aqui, os 26 milhões que o Parma pagou à Roma por Hidetoshi Nakata em 2001 eram o valor mais alto alguma vez oferecido por um japonês (e tornavam-no também o asiático mais valioso de sempre até 2015, quando Son Heung-min deixou o Bayer Leverkusen e se juntou ao Tottenham a troco de 30 milhões).

Como 164cm e 50 e poucos quilos de talento vergaram o Sporting em Portimão. Eis Nakajima, o japonês que queria jogar no FC Porto

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A ida de Nakajima para o Qatar — quando podia juntar-se ao um dos “grandes” do futebol português ou saltar para a Premier League — tem, contudo, bem mais para contar do que apenas números e recordes. Ora, o dono do clube de Doha é Nasser Al-Khelaifi, um empresário altamente influente no país, presidente da Qatar Sports Investments, presidente da Federação de Ténis do Qatar, presidente da Federação Asiática de Ténis para a Ásia Ocidental e dono do PSG. Nos últimos anos, o PSG tem-se visto a braços com o apertar do fairplay financeiro: as milionárias contratações de Neymar (222 milhões), Kylian Mbappé (145 milhões) e Di María (63 milhões), só para citar alguns exemplos, e a ausência de vendas que façam entrar nos cofres parisienses valores semelhantes àqueles que saem, tornam impossível equilibrar as contas do clube francês e respeitar as regras delineadas pela UEFA. A grande ambição do PSG, aliada ao poderio financeiro de Al-Khelaifi, obriga então a uma maior gestão das entradas e saídas e a uma crescente procura por formas de continuar a contratar jogadores que interessam sem que o seu valor entre para a contabilização final feita pela UEFA.

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Depois do esquema utilizado com Mbappé — o jogador foi emprestado pelo Mónaco na temporada passada e a transferência só foi oficializada já este ano, para que os 145 milhões só fizessem mossa em 2018/19 –, o mais provável é que o PSG esteja novamente a dar a volta às contas para conseguir garantir Nakajima no próximo mercado de inverno ou no verão de 2020. A ida do japonês para o Al-Duahil, clube satélite do PSG cujo dono é também Al-Khelaifi, está a ser interpretada pela comunicação social espanhola como mais uma manobra dos franceses para manter Nakajima “a salvo” e longe de outras propostas até o orçamento permitir que este integre o plantel principal do clube de Paris (numa estratégia que tem sido utilizada nos últimos anos por outras duplas de clubes, como a Udinese e o Watford e o Girona e o Manchester City).

Nakajima, que vai receber cerca de 3,5 milhões de euros por ano no Qatar, pode realizar esta quarta-feira o último jogo pelo Portimonense, na receção dos algarvios ao Desp. Chaves. Há exatamente uma semana, era notícia em Portugal que o médio japonês tinha rejeitado uma eventual transferência para o Qatar. Na altura, Nakajima disse à imprensa japonesa que “nesta fase da carreira” pretendia continuar a jogar na Europa. Uma semana depois, a mesma comunicação social do Japão dá como certa a ida do médio de 24 anos para o Al-Duahil. Resta saber o que terá mudado.