A rutura de uma barragem em Brumadinho, no estado brasileiro de Minas Gerais, na passada sexta-feira, provocou até agora 84 mortos e 276 desaparecidos e trouxe ainda a preocupação com os animais que morreram e ou que estão presos no meio da lama. Enquanto se tenta perceber quem são os responsáveis pelo desastre, surgiu uma nova polémica: as autoridades abateram animais a tiro (alegadamente devido ao seu estado e à inacessibilidade do local) e a decisão não agradou a todos, especialmente do lado das associações de defesa dos animais, que dizem não se tratar de eutanásia, mas sim de “assassinato”.

Uma dessas associações pertence à atriz Luisa Mell, que, esta terça-feira, comentou o sucedido. “Ontem [segunda-feira], vários boatos de tiros disparados dos helicópteros em animais corriam por toda a cidade. Queríamos acreditar que eram falsos, mas não eram”, refere o Instituto Luísa Mell numa publicação no Instagram, acrescentando que “sem precisão de tiro, após dias sofrendo, muitos animais podem estar agora caídos, baleados e vivos agonizando”.

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Caos: não há outro termo para descrever o que ocorre em Brumadinho com as pessoas e animais. Ontem, vários boatos de tiros disparados dos helicópteros em animais corriam por toda a cidade. Queríamos acreditar que eram falsos, mas não eram. Do alto de helicópteros, animais estão sendo baleados. Sem precisão de tiro, após dias sofrendo, muitos podem estar agora caídos, baleados e vivos agonizando. Até snippers profissionais evitam o uso de helicóptero para tiros a distância quando podem, justamente pela falta de precisão causada pelo movimento e deslocamento do ar causado pela hélice. Mas em Brumadinho, parece que tanto faz. Enquanto estamos em campo, nos arriscando, todos nos sabotam. Entidades que se dizem “protetoras de animais” e parecem estar trabalhando com a Vale, nos criticam veladamente em grupos de WhatsApp por estarmos no meio da lama nos arriscando, nos acusando de querer apenas aparecer. Nos acusam de estarmos “destruindo provas” por tentarmos salvar vidas e mostrar a verdade que tentam esconder. Um grupo que sempre tem opinião sobre tudo, mas quase sempre está detrás de uma mesa apontando o dedo. De onde deveria haver apoio, vem criticas. No meio de tudo isso, os inocentes: os animais. Ontem, nós mesmos compramos equipamentos, tapumes, redes para os resgates. Estamos mantendo nossa equipe lá com recursos que não tempos. Ninguém ajuda, apenas tentam esconder tudo sobre os animais e mentem nas redes sociais. Não vamos parar.

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A associação criticou ainda a falta de apoio no terreno, ao afirmar que “ninguém ajuda, apenas tentam esconder tudo sobre os animais e mentem nas redes sociais”. “Até snippers profissionais evitam o uso de helicóptero para tiros a distância quando podem, justamente pela falta de precisão causada pelo movimento e deslocamento do ar causado pela hélice. Mas em Brumadinho, parece que tanto faz”, referiram, acrescentando que se tratou de um caso de “animais assassinados a tiros” e não de eutanásia.

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O Conselho Federal de Medicina Veterinária já reagiu e, em comunicado, confirmou que “sob a supervisão de uma equipa veterinária”, os animais, “que estavam atolados há quatro dias em local de difícil acesso, tiveram de ser abatidos por meio de um rifle sanitário” por não existir outra forma de aceder ao local para proceder à “injeção letal”, tal como mandam as regras.

Os animais encontravam-se num local sem condições de segurança para serem içados, presos numa área que oferecia riscos aos socorristas e sem possibilidade de acesso para intervenção de outra técnica de eutanásia”, justificou o Conselho Federal de Medicina Veterinária.

O conselho disse ainda que a escolha do método depende da espécie envolvida, da idade e do estado fisiológico dos animais, bem como dos meios disponíveis para a contenção. Explicaram que as zonas de guerra, de acidentes de grandes magnitudes ou de catástrofes naturais “são áreas cujas variáveis do ambiente não estão sob controlo do médico-veterinário” e que, “não havendo condições de segurança ou de acesso até ao animal para remoção ou contenção química por anesteséticos, o sacrifício com o uso de rifle é aceite”.

No entanto, a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil de Minas Gerais também emitiu um comunicado sobre a situação que pode ter contradições com o que o Conselho Federal informou. Apesar de não se referir especificamente ao abate a tiro, a nota enviada informa que “em nenhum momento houve autorização por parte do Gabinete Militar do Governador para o abate de animais aleatoriamente ou por métodos em desacordo com as normas”. Segundo o mesmo comunicado, quando as equipas encontram animais “que não reúnem condições para o resgate com vida e em decorrência do estado e características do local do desastre”, há uma equipa de veterinários “apta a realizar a eutanásia por meio de injeção letal”.

Ao Estadão, o chefe da Defesa Civil de Minas Gerais confirmou a informação do abate e justificou: “O que vamos fazer? Deixar o animar a sofrer? Estamos sim, com uma equipa em campo a executar esse trabalho, mas a decisão só é tomada nos casos em que não há outra opção”. Evandro Geraldo Borges disse ainda que outra parte da equipa tenta socorrer os animais “em condições de serem retirados” da lama, mas há situações em que “não tem jeito”. “Temos de fazer escolhas, de retirar as pessoas, ir atrás de sobreviventes. Tudo que está sendo feito foi pensado. É isso”, afirmou.

Até ao momento, as autoridades conseguiram resgatar 36 animais pelas autoridades. Depois de serem salvos, os animais são encaminhados para um posto onde são analisados, alimentados e recebem os primeiros tratamentos médicos.