No ano em que trocou a Caixa Geral de Depósitos pelo BCP, Armando Vara recebeu um bónus de 167.426 euros do banco público referentes a 2007. Esse ano marca, de acordo com a auditoria independente da EY à Caixa, o início de um período negro na história do banco público, com processos de concessão de créditos milionários que violaram — ou, pelo menos, ignoraram — os alertas de risco.

O bónus atribuído ao antigo administrador da Caixa, e revelado pelo Correio da Manhã um dia depois de arrancar a fase de instrução da Operação Marquês, consta dos autos do processo. Os mais de 167 mil euros estão referidos numa declaração de rendimentos que Vara entregou ao Fisco em 2008 e dizem respeito a prémios de gestão atribuídos ao antigo administrador do banco público em 2007.

A auditoria ao banco público, divulgada há dias, revela que é precisamente a partir de 2007, e num período que se arrasta até 2010, que se são disponibilizados créditos milionários que se traduziriam em perdas para a Caixa Geral de Depósitos. Créditos em que, como o Observador já escreveu, foram detetadas irregularidades na sua atribuição.

Em concreto, a auditoria detetou os seguintes procedimentos:

  • Operações aprovadas com parecer de análise de risco desfavorável ou condicionado e para as quais não foram encontrados documentos ou justificações para suportar a tomada de risco contra o parecer dos serviços técnicos.
  • Casos em que não foi apresentado um parecer técnico da direção de risco para aquela a operação, sem que exista justificação para tal.
  • Casos onde não foi encontrada evidência de que tenha sido levantada toda a informação necessária para fundamentar a aprovação da operação (por exemplo, estudos de viabilidade e licenças).
  • Casos em que as garantias no contrato não são suficientes para assegurar o rácio de cobertura de 120%, como estava previsto no quadro normativo.

O trabalho da EY mostra que o maior número de situações identificadas dentro destes quatro modos de atuar ocorreu entre 2007 e 2012. Nesses anos, 7% das operações analisadas foram autorizadas contra os pareceres de análise de risco desfavoráveis.

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