A historiadora Irene Flunser Pimentel regressou à história da Polícia Internacional e de Defesa do Estado para a contar através de cinco das figuras mais marcantes da polícia política da ditadura, no livro “Os Cinco Pilares da PIDE”.

Colocado à venda na terça-feira pela Esfera dos Livros, o livro vê a autora de “A História da PIDE” acompanhar a evolução daquela estrutura com um enfoque particular sobre o “número 2” da PIDE/DGS e “para alguns o verdadeiro chefe dessa polícia”, Agostinho Barbieri Cardoso, o diretor dos Serviços de Informação Álvaro Pereira de Carvalho, o “tarimbeiro” António Rosa Casaco, que atravessou vários cargos e várias eras na polícia política, o operacional Casimiro Monteiro e o diretor dos Serviços de Investigação José Barreto Ferraz Sacchetti Malheiro.

“Acho que é fundamental falarmos das pessoas, de que forma é que elas marcaram e foram marcadas pelo seu próprio trabalho na polícia política”, disse à Lusa Irene Pimentel, lembrando as críticas de que foi alvo quando publicou, em 2008, “Biografia de um Inspetor da PIDE: Fernando Gouveia e o Partido Comunista”.

A historiadora classifica a obra como o seu “livro maldito” por ter havido muitas pessoas a considerarem errada a opção de publicar uma biografia de um membro da polícia política: “A argumentação era a de que alguém que cometeu atos de violência ou crimes de tortura sobre presos políticos deveria ser remetido ao total silêncio”, pode ler-se na introdução do livro que agora criou.

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“Fazer a biografia de alguém, com o máximo da verdade possível de ser apreendida, não ‘elogia’ o biografado, nem lhe dá imerecida importância. Pelo contrário, no caso de um perpetrador ou torturador, contribui para denunciá-lo, bem como para revelar os meios violentos que utilizou enquanto elemento de um órgão do poder ditatorial”, responde a vencedora do Prémio Pessoa em 2007.

À Lusa, Irene Pimentel justificou a escolha dos cinco elementos com o facto de querer falar da PIDE “até ao final”, ou seja, para lá do 25 de Abril: Barbieri Cardoso por ser considerado “a principal figura da PIDE”, Sacchetti e Pereira de Carvalho por estarem à frente, respetivamente, dos serviços de Investigação e de Informação, Rosa Casaco por não só ter estado “em todos os setores da PIDE”, mas também por ter chefiado a brigada que foi a Espanha matar o general Humberto Delgado e a sua secretária Arajaryr Campos, e Casimiro Monteiro, condenado pelo assassinato dos dois últimos e responsável pelo envio da bomba que matou o presidente da Frelimo, Eduardo Mondlane, em Dar-es-Salam.

Dos cinco retratados, apenas Sacchetti não está ligado às mortes de Humberto Delgado e Arajaryr Campos, pelo que foi necessário “revisitar” o crime.

Como é sublinhado no livro, a PIDE/DGS foi “um instrumento central de um regime político oligárquico, longamente assente na chefia ultracentralizada de um ditador”, tratando-se de uma “polícia que sempre defendeu o regime, cujos diretores funcionaram enquanto correias de transmissão de Salazar, que conhecia a sua atuação e confiava nela”.

Questionada sobre a importância de trazer para o presente o conhecimento acerca de acontecimentos e figuras do Estado Novo, cada vez mais distantes no tempo, Irene Pimentel respondeu que o que pode fazer, perante “negacionismo, revisionismo e sobretudo confusões” sobre o passado, “é contribuir para diminuir as confusões e explicar através da investigação com um pouco mais de complexidade o que é que aconteceu”.

“Se a história não ensina, até porque não se repete da mesma forma, ou se não ensina o que gostaríamos que ensinasse, pelo menos tenho a certeza de que será muito pior se desconhecermos o passado porque aí repetimos mesmo [os erros]”, afirmou a historiadora.