O Presidente venezuelano Nicolás Maduro acusou o presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, de ter encomendado a sua morte, na sequência do ultimato de que foi alvo para marcar eleições no país e no reconhecimento do seu adversário político Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela pelos Estados Unidos. Em entrevista à agência de notícias estatal russa RIA Novosti, citado pela Reuters, Maduro afirmou:

Trump deu sem nenhuma dúvida uma ordem para me matarem e disse ao governo da Colômbia e à mafia colombiana para me mataram.”

Os ataques diplomáticos entre a Venezuela e os Estados Unidos da América são antigos, remontando aos tempos do antecessor de Maduro, Hugo Chavez. Em agosto do ano passado, quando foi alegadamente alvo de uma tentativa de atentado, Nicolás Maduro imputou a autoria do sucedido ao regime colombiano e ao seu presidente, Juan Manuel Santos. As tensões entre o regime de Maduro e a presidência de Donald Trump aumentaram quando o conselheiro de segurança de Trump, John Bolton, foi fotografado com um caderno no qual estava inscrito “5000 tropas para a Colômbia”.

Nicolás Maduro acusa Juan Manuel Santos de ordenar ataque. Colômbia nega envolvimento em atentado

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Nesta entrevista à agência de notícias russa RIO Novosti, Maduro voltou a recusar marcar eleições presidenciais, algo que foi ultimado a fazer por vários países, incluindo Portugal. “Seria muito bom realizar eleições parlamentares mais cedo, seria uma boa forma de discussão política, uma boa solução pelo voto popular”, apontou o sucessor de Chavez. Porém, “as eleições presidenciais ocorreram há menos de um ano, há dez meses”, pelo que entende não haver necessidade de novo voto popular para a presidência. A legalidade e legitimidade dos últimos processos eleitorais na Venezuela são disputadas pela oposição a Maduro e por organismos internacionais.

Não aceitamos os ultimatos de ninguém no mundo, não aceitamos chantagens. As eleições presidenciais tiveram lugar na Venezuela e, se os imperialistas querem novas eleições, devem esperar por 2025″, avisou.

O Presidente da Venezuela reiterou ainda a sua vontade de dialogar com a oposição e afirmou que as negociações podem ser mediadas por outros países.

As declarações de Nicolás Maduro em entrevista à agência de notícias estatal russa RIA Novosti surgem em plena crise política, que se agravou a 23 de janeiro, quando o líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro.

Golpe de Estado, guerra civil ou transição? Seis respostas para perceber o presente e o futuro da Venezuela

Maduro disse à RIA Novosti que está “disposto a sentar-se para conversar com a oposição em prol da paz e do futuro da Venezuela”. A Rússia é um dos países que apoiam Maduro e que se ofereceu para mediar o conflito.

Já na segunda-feira, num encontro no palácio presidencial de Miraflores, com diplomatas que regressaram de diferentes sedes consulares e da embaixada venezuelana nos EUA, Maduro expressou a sua disponibilidade para negociar com a oposição.

“Estou pronto, uma vez mais, para onde for, iniciar uma ronda de conversações, diálogo, negociações, com toda a oposição venezuelana, com um só objetivo: a paz, o entendimento e o reconhecimento mútuo”, disse, então.

As palavras de Maduro são tornadas públicas precisamente nesta quarta-feira, dia para o qual Guaidó convocou os venezuelanos para realizarem ações de protesto nos escritórios, casas, postos de trabalho e transportes públicos.

As longas horas que viraram a Venezuela do avesso

Através de um vídeo que publicou na sexta-feira na rede social Twitter, Juan Guaidó convocou uma grande manifestação para esta quarta-feira e para o próximo sábado, apelando aos venezuelanos para realizarem as ações de protesto, entre as 12h00 e as 14h00 horas locais (entre as 16:00 e as 18:00 horas em Lisboa).

A autoproclamação de Juan Guaidó, de 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados Unidos, depois de ter prometido formar um governo de transição e organizar eleições livres.

Nicolás Maduro, de 56 anos, no poder desde 2013, recusou o desafio de Guaidó e denunciou a iniciativa do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos.

A UE fez um ultimato a Maduro para convocar eleições nos próximos dias, prazo que Espanha, Portugal, França, Alemanha e Reino Unido indicaram ser de oito dias, findo o qual os 28 reconhecem a autoridade de Juan Guaidó e da Assembleia Nacional para liderar o processo eleitoral.

A repressão dos protestos antigovernamentais da última semana causou 35 mortos, de acordo com várias organizações não-governamentais.

Petróleo, ouro e poder: como Maduro comprou os militares e garantiu (até ver) o seu apoio

Esta crise política soma-se a uma grave crise económica e social que levou 2,3 milhões de pessoas a fugirem do país desde 2015, segundo dados da ONU.

Na Venezuela, antiga colónia espanhola, residem cerca de 300 mil portugueses ou lusodescendentes.