Enterrados os machados da guerra interna do PSD, a pergunta que se seguia era: o que vai acontecer aos líderes distritais que estiveram frontalmente contra Rui Rio? Esta terça-feira, houve a primeira baixa: o presidente da distrital de Coimbra, Maurício Marques, demitiu-se e, por “solidariedade”, demitiram-se os restantes membros. Mas o mesmo não deverá acontecer nas restantes, como Lisboa, Viseu ou Setúbal. Apesar de alguns deles terem dito com todas as letras, dentro da acesa reunião do Conselho Nacional que relegitimou Rio, que se demitiriam caso o líder entendesse que não poderia continuar a contar com eles depois da afronta, para já, nada disso vai acontecer. “Para nós isso é um não-assunto, fica na consciência de cada um. Já perdemos tempo demais a clarificar esse assunto, temos de nos focar na oposição ao Governo”, disse ao Observador fonte da direção do PSD.

O que aconteceu em Coimbra, portanto, não foi o início de uma avalanche. Esta segunda-feira, conforme noticiou o jornal Público, o líder da distrital de Coimbra, o deputado Maurício Marques, reuniu a comissão política distrital para apresentar a demissão. Segundo explicou depois ao Observador, fê-lo porque, “depois de ter dito, olhos nos olhos, que não tinha confiança na direção nacional do partido, achei que não tinha condições para continuar”. Demitiu-se, por isso, da presidência da distrital, e pôs-se de fora para o próximo ciclo. Segundo conta, os restantes membros da direção distrital de Coimbra, foram “apanhados de surpresa”, porque foi uma “decisão pessoal”, e “mostraram compreensão assinando também a sua demissão por solidariedade”. Foi assim que, diz, a distrital de Coimbra anti-Rio caiu em bloco.

Certo é que, no discurso que fez aos conselheiros nacionais naquelas mais de 11 horas de reunião, Maurício Marques tinha sido muito crítico, não tanto de Rui Rio, mas de alguns dos seus vices e pessoas que o rodeiam na direção do partido. “Dr. Rui Rio, venho aqui dizer-lhe, olhos nos olhos, que não é a sua confiança que está em causa. Eu a si ainda lhe comprava um carro em segunda mão. Mas já não fazia o mesmo à sua comissão política. E é essa comissão política que está hoje em causa. Eu não tenho confiança em toda a sua comissão política, porque parte da sua direção não respeitou os dirigentes, os autarcas e os militantes do PSD”, disse na altura, dentro de portas.

Discursos igualmente duros tiveram Pedro Pinto, da distrital de Lisboa, Pedro Alves, de Viseu, ou Bruno Vitorino, de Setúbal, que não foram brandos no momento de deixar claro a Rui Rio que não concordavam com ele. Pedro Alves, por exemplo, teve uma das tiradas mais fortes da noite do Conselho Nacional quando disse que, “se a hipocrisia dos que estão na sala não falasse mais alto, todos diriam na frente o que dizem nas costas: que estamos pior hoje do que estávamos há um ano”. Bruno Vitorino, de Setúbal, foi, deste leque, o que mais abriu a porta à sua própria demissão caso Rio saísse relegitimado por voto secreto (como de facto aconteceu). “Se o presidente do partido fizer essa clarificação e ganhar, e se o presidente do partido assim o entender, serei o primeiro a apresentar a demissão da minha comissão política distrital devolvendo os votos aos militantes”, disse na altura.

Hoje, ao Observador, Bruno Vitorino, que lidera a estrutura de Setúbal, explica que deixou claro na sala que seria o primeiro a sair se Rui Rio entendesse que deveria, porque não queria ser visto como uma “força de bloqueio”. Mas Rio nada lhe disse, e por isso não haverá demissão. Fonte da direção de Rio, confirma que não apontou o caminho da saída aos líderes distritais revoltosos: “fica na consciência de cada um”. E segue para bingo. No entender do líder da distrital de Setúbal, a divergência que tem com a direção do partido “não é pessoal”, é “política”, e, como tal, tendo dito o que pensava no local próprio, e tendo havido um vencedor, agora é tempo de caminharem todos na mesma direção.

O mesmo acontece em Lisboa, a distrital liderada por Pedro Pinto, que foi o timoneiro da revolta contra Rui Rio no Conselho Nacional. Apesar de ter circulado a informação de que uma ala da distrital queria empurrar Pedro Pinto para a saída, o que reina é a paz (ainda que podre). O próprio Rodrigo Gonçalves — antigo líder da concelhia de Lisboa e um dos principais adversários de Pedro Pinto na última eleição para a distrital — não concorda com a demissão de Pedro Pinto, embora admita que algumas pessoas que estiveram ao seu lado no passado já defenderam essa posição nas redes sociais. Em declarações ao Observador, Rodrigo Gonçalves defende que este é um “momento de união, de os militantes estarem todos unidos”. Para o apoiante de Rio e ex-presidente da concelhia de Lisboa, a prioridade é as distritais “estarem unidas em torno do líder” e ajudar “o PSD a ganhar eleições legislativas”.

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