Os cães de raças portuguesas não estão “na moda”, em parte devido a serem maioritariamente “raças funcionais”, de grande porte, e exigirem espaço que muitas residências não têm, o que leva a que atravessem “alguma crise”.

Para dar “mais visibilidade” às raças autóctones, o Clube Português de Canicultura (CPC) decidiu mudar a grande exposição anual de raças portuguesas de cães (que durante muitos anos se realizou a 10 de junho, na Feira Nacional da Agricultura, em Santarém) para o PET Festival, que decorre entre esta sexta-feira e domingo na FIL, em Lisboa, sendo o sábado dedicado aos cães portugueses.

Portugal tem 11 raças de cães autóctones, num total de 25 mil exemplares conhecidos, segundo dados facultados à Lusa pela Direção-Geral de Veterinária, que admite desconhecer o “efetivo real” por “falta de comunicação da morte” de animais pelos proprietários.

O desconhecimento do efetivo real de cães de raças portuguesas é igualmente admitido pela presidente do CPC, associação responsável pelo registo inicial e pela inscrição no Livro de Origens, formalidades que decidiu isentar do pagamento de qualquer taxa desde 2014. Porém, segundo Carla Molinari, isso não impede que muitos criadores continuem sem registar as ninhadas.

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Reconhecendo que as características das raças portuguesas possam explicar em parte que estas estejam a “atravessar alguma crise”, Carla Molinari referiu à Lusa que as que se encontram “em pior situação” são as que têm menor visibilidade internacional, como é o caso do cão Castro Laboreiro.

Segundo a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária, as raças portuguesas reconhecidas são o Cão Barbado da Terceira, o Cão da Serra da Estrela, o Cão de Água Português, o Cão de Castro Laboreiro, o Cão de Fila de S. Miguel, o Cão de Gado Transmontano, o Cão de Serra de Aire, o Cão do Barrocal Algarvio, o Cão Perdigueiro Português, o Cão Podengo Português e o Cão Rafeiro Alentejano.

De acordo com os registos do CPC, raças como o Perdigueiro, o Cão de Água, o Podengo Grande de pelo cerdoso, o de Gado Transmontano têm registado alguma subida, e o Rafeiro do Alentejo e o Serra da Estrela de pelo curto alguma estabilidade.

Contudo, o Barbado da Terceira, o Serra de Aires, o Serra da Estrela de pelo comprido, o de Fila de S. Miguel, o Podengo Pequeno de pelo cerdoso e o de pelo liso, o Podengo Grande de pelo liso, o Podengo Médio de pelo liso e o de pelo cerdoso e o Castro Laboreiro encontram-se “em descida”.

Carla Molinari lamentou que as raças portuguesas não sejam tão “acarinhadas” pela população como outras que estão “na moda”, mas reconheceu que o facto de serem na maioria “raças funcionais, de trabalho”, de grande porte, é um fator limitador.

Na estratégia de preservação das raças autóctones, o CPC tem procurado dar “visibilidade internacional”, numa “aposta de futuro”, já que é “impossível criar cães sem poder vender”, disse.

As raças com maior expressão internacional são atualmente, além do Podengo, o Cão de Água, sobretudo nos países escandinavos, ou o Serra da Estrela, “também muito bem colocado em alguns países da Europa”, a que se juntam alguns Serra de Aire ou mesmo o Barbado da Terceira, apesar de este não ser ainda reconhecido pela federação internacional.

“É muito importante este interesse”, disse, salientando o facto de o livro das raças de cães portuguesas editado pelo CPC ser bilingue (em português e em inglês).

Frisando a ausência de subsídios, Carla Molinari afirmou que aqueles que querem continuar a desenvolver uma raça têm de vender “dois ou três cachorros de uma ninhada”, mas considerou ser “ridículo falar de comércio” nesta área, salientando que muitos criadores acabam por dar ou trocar os animais.