Moçambique e Índia atingiram em 2018 cerca de 1,7 milhões de euros em trocas comerciais, uma subida face aos 1,5 milhões no ano anterior, e há espaço para crescer, disse à Lusa o embaixador cessante da Índia em Moçambique.

“Moçambique continua a ser um dos principais destinos do investimento indiano em África e a nossa intenção é aumentar esta parceria”, disse Rudra Gaurav Shresth, que oficialmente é designado alto-comissário, em entrevista à Lusa.

O carvão, a castanha de caju e o feijão estão entre os principais produtos que a Índia compra a Moçambique, mas os dois países devem procurar diversificar o cabaz, defendeu o diplomata.

“Estes produtos são muito importantes, mas devemos diversificar para que nos possamos proteger de possíveis variações dos preços no mercado internacional”, observou.

Para garantir a diversificação, acrescentou, o Governo indiano eliminou taxas de produtos provenientes de Moçambique, com exceção de bebidas alcoólicas e tabaco.

“Este projeto ajudou Moçambique a aumentar o nível de exportação de produtos para a Índia”, referiu Rudra Gaurav Shresth, em resposta a anseios de produtores moçambicanos.

Em 2018, a Índia registou uma superprodução de ‘guandu’, conhecido em Moçambique como feijão ‘boer’, um dos principais produtos que o país lusófono exporta para aquele país asiático – à luz de um acordo assinado durante a visita do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, a Maputo, em 2016.

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O excesso de produção na Índia, único mercado internacional deste produto agrícola moçambicano, provocou uma queda de mais de 50% no preço.

A situação levou à perda de poder de compra de muitos agricultores de Moçambique, desencadeando uma crise económica junto dos produtores, sobretudo nas províncias de Nampula, norte do país, e Zambézia, centro, segundo estudo da ONG britânica International Growth Centre.

Rudra Gaurav Shresth explicou que a situação está normalizada, avançando que, em 2018, Moçambique exportou perto de 150 toneladas para a Índia, contra 125 toneladas no ano anterior.

“É verdade que houve uma superprodução e a Índia teve de parar de comprar o produto. Mas isso não aconteceu para o caso de Moçambique, porque temos um acordo”, acrescentou.

Além de feijão, o carvão é um dos principais interesses da Índia em Moçambique, que exportou cerca de 1,5 milhões de toneladas para aquele país no ano passado.

“Apesar da redução de preços no mercado internacional, o carvão continua a ser do nosso interesse. Esperamos duplicar esta quantidade até ao próximo ano”, declarou o diplomata, acrescentando que se trata de “carvão de qualidade e que é muito importante na Índia”.

Na hora de balanço, à saída de Maputo, o diplomata vê com otimismo a relação entre os dois países, ligados pelo Índico.

“Moçambique tem registado muitos progressos”, sublinhou.

Para Rudra Gaurav Shresth, “há muitas coisas que ao nível da cooperação se podem fazer”.

O diplomata considerou que há ainda “muita falta de conhecimento sobre Moçambique, na Índia, a nível empresarial, mas a intenção é melhorar cada vez mais esta relação”.

A Índia destronou a África do Sul como principal destino das exportações de Moçambique, de acordo com o anuário de 2017 do Instituto Nacional de Estatística (INE) moçambicano.

A Índia foi o destino de 34,3% do valor das exportações, ou seja, vale 1,6 mil milhões de dólares, quase o dobro das vendas para a África do Sul, que era primeiro no anuário de 2016 e passou a ser o segundo país da lista.

Quanto às importações feitas por Moçambique, a Índia estava em quinto lugar, com 7,8% das compras ao estrangeiro, à frente de França (4,4%) e Portugal (4,2%).