À parte do seu posicionamento político, Alexandria Ocasio-Cortez é uma visão rara dentro do Capitólio. Com vestidos e blazers que lhe assentam na perfeição, maquilhagem impecável e uma atitude que contrasta com a solenidade, muitas vezes, associada ao exercício político, nos últimos seis meses, cresceu tanto em popularidade como na capacidade de criar empatia em torno da sua imagem. Democrata e com ascendência porto-riquenha, representa, desde o dia 3 de janeiro, o 14º distrito do estado de Nova Iorque, correspondente às zonas de Bronx e Queens. Tem 29 anos, o que faz dela a mulher mais jovem alguma vez eleita para o Congresso dos Estados Unidos da América.

Até chegar à Câmara dos Representantes, foram meses de campanha. Alexandria, que cresceu nos subúrbios que hoje representa em Washington DC, estudou economia e relações internacionais na Universidade de Boston. Aí, envolveu-se naqueles que seriam, na vida política, alguns dos seus temas bandeira: a imigração, através de um trabalho desenvolvido com Ted Kennedy, senador do Massachusetts, e a realidade da comunidade hispânica no país. Desde as primeiras declarações públicas que se descreve como membro da classe trabalhadora. Em 2008, já de volta a Nova Iorque, a morte do pai deixa a família em apuros financeiros. Alexandria trabalha como bartender em Manhattan e ainda num restaurante mexicano em Union Square, tudo para complementar os rendimentos da mãe, empregada de limpeza e motorista de carrinhas escolares.

Nas primárias de 2016, fez parte da organização da campanha do senador Bernie Sanders. Dois anos depois, este viria a ser um dos primeiros a felicitá-la pela primeira vitória, em junho de 2018. “Ela assumiu toda a estrutura democrata do seu distrito e conseguiu uma vitória muito forte. Mais uma vez, mostrou do que uma política popular e progressista é capaz”, afirmou o senador.

Dos tacos para as urnas

Em maio de 2017, Alexandria Ocasio-Cortez anunciou a sua candidatura. Do seguro de saúde para todos e da proposta da “garantia de emprego” à reforma das políticas de imigração — neste campo, criticou fortemente as políticas da administração Trump e chegou mesmo a visitar um centro de detenção de crianças na fronteira com o México) e da justiça criminal, a campanha destacou-se pelo tom progressista. Mas houve outros aspetos a fazer dela uma candidata sui generis, nomeadamente o facto de parte da campanha ter decorrido enquanto ainda trabalhava na taqueria. “Durante 80% dessa campanha, trabalhei a partir de um saco de mercearia, escondido atrás daquele bar”, contou numa entrevista à revista Bon Appétit, em novembro do ano passado. “Para mim, foi especialmente forte ter trabalhado na indústria da comida enquanto estava na corrida das eleições porque não estava a recordar nenhum emprego de verão de quando era adolescente. Aquilo era a vida que estava a viver”, afirmou.

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“Como é que podes legislar sobre uma vida melhor para os trabalhadores se nunca foste um? Experimenta viver na ansiedade de não ter um seguro de saúde há três anos quando os teus dentes começam a doer. É este medo constante. Eu tenho essa perspetiva. Sinto que entendo o que está a acontecer a nível eleitoral porque tenho essa experiência”, reforçou ainda. Maria Arenas, colega de Alexandria no restaurante Flats Fix, acabou por ser a designer responsável por todo o material gráfico da campanha.

No dia 26 de junho de 2018, Ocasio-Cortez defrontou Joe Crowley nas urnas. Com um orçamento de três milhões de dólares (cerca de 2.600.000 euros) para a campanha, Crowley estava há 14 anos sem adversário nas primárias. Alexandria, uma novata, reuniu à volta de 200.000 dólares (cerca de 174.000 euros), montante proveniente, na maioria, de pequenas contribuições. “Não podes combater tanto dinheiro com mais dinheiro. Tens de combatê-lo com uma estratégia completamente diferente”, afirmou na altura, referindo-se à desvantagem financeira da sua candidatura. Feitas as contas, ganhou a corrida com 57,13% dos votos.

Cartazes da campanha de Alexandria Ocasio-Cortez para as eleições primárias © Scott Heins/Getty Images

Mesmo depois de eleita, continuou a dar que falar. Em agosto, no decorrer da campanha, excluiu os jornalistas de dois encontros com o eleitorado, ambos abertos ao público. Pouco tempo depois, contestou os números avançados por Trump, quanto às vítimas mortais do furacão Maria, que havia afetado Porto Rico há um ano. Alexandria revelou na altura que o próprio avô tinha morrido na sequência da catástrofe. Em novembro, frente ao candidato republicano Anthony Pappas, a vitória foi mais expressiva: 78%. Ocasio-Cortez contou com a apoio público de Bernie Sanders e de Barak Obama e com um vídeo de campanha absolutamente low budget, com a ajuda da família e de amigos e gravado numa loja de bebidas perto de casa.

Após a eleição final, numa entrevista ao The New York Times, Alexandria Ocasio-Cortez admitiu não ter dinheiro para alugar uma casa em Washington. “Tenho três meses sem salário até ser membro do Congresso. Então, como é que vou arranjar um apartamento? Estas pequenas coisas são bastante reais. Em dezembro, revelou ter conseguido um lugar temporário para ficar com o namorado.

Um ícone de estilo no Congresso

Em outubro do ano passado, Alexandria já estava nas páginas da Vogue, fotografada por Annie Leibovitz. Embora fosse o seu caminho prodigioso rumo à Câmara dos Representantes o principal pretexto da conversa, os apontamentos de uma imagem diferenciadora não passaram ao lado da revista norte-americana. “É como um pijama, mas adequado à política”, afirmou na entrevista, ao descrever um visual composto por um blazer Helmut Lang e um macacão preto em segunda mão. Criticada (também) por repetir opções de guarda-roupa durante a campanha, valeu-lhe a eficácia de uma amiga que lhe conseguiu uma subscrição na plataforma de aluguer de roupa Rent the Runway.

Dia 3 de janeiro, o dia do juramento no Congresso, em Washington DC ©  SAUL LOEB/AFP/Getty Images

Meses depois, dia 3 de janeiro, vestiu um fato branco, colocou umas argolas douradas e apostou num batom vermelho para o primeiro dia no Congresso. “Hoje, vesti-me de branco para honrar as mulheres que abriram caminho antes de mim e por todas as que estão por vir. Das sufragistas a Shirley Chisholm [a primeira mulher negra eleita nos Estados Unidos, em 1968], se não fossem as mães do movimento, não estaria aqui”, escreveu no Twitter no dia do juramento.

Através do que veste e da sua imagem, Alexandria passa uma mensagem poderosa, porém subtil. A candidata percebeu cedo que a forma como se apresentava aumentava a atenção da imprensa e aprendeu a usar isso a seu favor. “Ocasio-Cortez não se está a vestir para ninguém — ela faz estas escolhas para evitar a formas de comunicar tradicionais e veicular a sua própria mensagem, não a que lhe ditaram. Ela faz estas escolhas para ela própria, para a sua comunidade, para passar uma mensagem de inclusão de todas as formas que sabe”, escreveu a revista Elle.

Ainda no rescaldo do juramento, a própria admitiu no Twitter seguir a inspiração de Sonia Sotomayor, a primeira magistrada latino-americana dos Estados Unidos, nomeada por Barak Obama em 2009. “Lábios+argolas inspiradas na Sonia Sottomayor, que foi aconselhada a usar um verniz de cor neutra nas suas audições públicas para evitar escrutínio. Ela manteve o seu vermelho. Da próxima vez que alguém disser às miúdas do Bronx para tirarem as argolas, elas podem simplesmente dizer que estão vestidas como uma congressista”, escreveu.

A rotina de beleza de Alexandria Ocasio-Cortez © Instagram

Recentemente, Alexandria partilhou a sua rotina de beleza. A congressista afirmou no Instagram que os cuidados com a pele são, na verdade, um hobbie e que gosta genuinamente da vertente científica da cosmética, ao ler estudos e fórmulas de composição. Através das stories, revelou, passo a passo, os seus cuidados diários — uma dupla limpeza, primeiro com um óleo ou bálsamo desmaquilhante e depois com um gel de limpeza, um tónico sem álcool e um hidratante, de preferência com proteção solar. Ao mesmo tempo, Ocasio-Cortez aproveitou para se revelar fã da cosmética coreana.