Davi Alcolumbre, senador de 41 anos do partido Democratas (DEM), foi eleito este sábado presidente do Senado brasileiro, depois de uma sessão caótica e prolongada que envolveu até acusações de fraude.

Foram precisas 26 horas de debate e votação, entre sexta-feira e sábado (oito horas só neste último dia), para que a câmara alta chegasse a um consenso. Eleito com 42 votos a favor, enfrentou ainda a abstenção de quatro dos 81 senadores, entre eles Renan Calheiros, outro dos candidatos à presidência do Senado que acabou por desistir por não confiar no processo de eleição.

No primeiro discurso como presidente da câmara, Alcolumbre garantiu que Calheiros “terá o mesmo tratamento que os demais partidos devem ter”, independentemente do que aconteceu durante esta eleição, e que não trará “revanchismo” para aquela câmara, segundo conta a Folha de S. Paulo. “Estamos aqui para servir o povo brasileiro e não para nos servir dele”, prometeu o novo presidente perante os restantes senadores.

A sessão foi, como define a edição brasileira da revista Exame, “caótica”. Para começar, não houve acordo entre os senadores sobre a forma da votação: o voto deveria ser secreto ou não? A maioria estava a favor da segunda hipótese, mas o regulamento do Senado prevê que tem de haver unanimidade para uma decisão dessas ser tomada. O juiz do Supremo Tribunal, Dias Toffoli, acabou por ter de intervir e decretar o voto secreto.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

De seguida, e após os discursos dos vários candidatos — dos quais Renan Calheiros, presidente do Senado de 2013 a 2017, era o favorito —, fez-se uma primeira votação. O resultado, contudo, foi de 82 votos no total, mais um do que os 81 senadores que têm assento na câmara. O erro gerou acusações de fraude e fez com que a votação tivesse de ser repetida.

Contudo, Renan Calheiros anunciou então a sua desistência, por considerar que o processo foi “deslegitimado” por vários senadores terem tornado público a sua intenção de voto, por exemplo através do Twitter. Um deles foi Flávio Bolsonaro, filho do Presidente Jair Bolsonaro, foi um desses senadores, apesar de inicialmente ter dito que não iria tornar público o seu voto.

Renan Calheiros criticou a atitude de Bolsonaro filho e de outros. “Retiro a minha candidatura, porque entendo que o Davi não é o Davi, é o Golias. Davi sou eu. Ele é o Golias, atropela o Congresso”, afirmou sobre o senador judeu. Contudo, há quem diga que Renan poderá ter retirado a candidatura ao perceber que, afinal, não teria os votos necessários, como os que lhe tinham sido prometidos pelo PSDB, como explica o site Metrópoles.

Davi é que acabou por revelar ter astúcia política ao conseguir coligar os votos dos adversários de Calheiros e os aliados do Governo Bolsonaro. Para isso terá ajudado o apoio do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, também membro do DEM e braço direito do Presidente. De acordo com a Globo, Lorenzoni terá ajudado a costurar esse apoio.

Davi Alcolumbre é um dos mais jovens senadores a assumir a presidência do Senado. Com apenas 41 anos, começou a sua carreira política na cidade onde nasceu, Macapá (estado de Amapá), como vereador. Dois anos depois, abandonou o mandato para se candidatar ao cargo de deputado federal, tendo obtido três mandatos consecutivos na Câmara dos Deputados. Em 2014, foi eleito senador.

Segundo a revista Veja, ainda em Macapá, Alcolumbre esteve envolvido num escândalo ao ser acusado pelo Ministério Público Eleitoral por suspeitas de pressão sobre funcionários da Secretaria Municipal de Saúde de Macapá para que participassem em ações de campanha suas em plena hora de expediente.

Quem já deu os parabéns ao novo presidente do Senado foi Jair Bolsonaro, que destacou o “desafio” que Alcolumbre terá pela frente de “transformar em ações o sentimento de mudanças que a população expressou nas últimas eleições”. “O Brasil tem pressa!”, acrescentou o Presidente.