Em Pedorido, Castelo de Paiva, a população vive preocupada há mais de um ano. Desde o dia 15 de outubro de 2017, em que foram registados mais de 500 incêndios e perderam a vida a 50 pessoas, que a terra arde permanentemente a mais de dez metros de profundidade numa escombreira nesta localidade – as antigas minas do Pejão. O Bloco de Esquerda escolheu precisamente este local para desenvolver uma das suas ações nas jornadas parlamentares do partido, que decorrem no distrito de Aveiro entre esta segunda e terça-feira.

A líder do Bloco de Esquerda liderou a comitiva e fez-se acompanhar, entre outros, pelo líder da bancada e pelo deputado eleito por Aveiro, Moisés Ferreira. Os três bloquistas alertaram para a situação e pediram que fosse dada a devida atenção às queixas da população. “Recebemos muitas queixas sobre a falta de informação relativa à qualidade do ar. Porque vivem com esta situação há mais de um ano, mas não têm nenhuma informação sobre as medições que são feitas à qualidade do ar. A nós garantiram-nos que quando se registam problemas nas medições os trabalhos param e são retomados mais tarde. Mas à população não é dada nenhuma informação. E isso não é forma de tratar as populações que aqui vivem”, disse Catarina Martins.

O Bloco de Esquerda já tinha visitado o local, mas quis voltar a dar-lhe destaque, agora com a imprensa em peso a acompanhar os trabalhos. E, defende Catarina Martins, toda a atenção é pouca, sobretudo por se tratar do interior do país. “Creio que o facto de ser uma pequena povoação no interior faz com que tenha existido uma certa negligência na informação que não podemos aceitar”, reclamou a coordenadora do BE.

A Empresa de Desenvolvimento Mineiro (EDM) chegou cerca de um ano depois – em outubro de 2018 – para tentar apagar este incêndio que arde constantemente debaixo da terra há mais de um ano. Desde então que os habitantes de Pedorido têm visto todos os dias caras novas e maquinaria pesada a entrar na localidade, para tentar revolver a terra e apagar as combustões que ainda não cessaram e que, de cada vez que as máquinas escavam o solo, são postas a descoberto. Um trabalho moroso e que deve terminar apenas em abril.

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Segundo os técnicos que trabalham no local, as medições são feitas regularmente e existe informação relativa à qualidade do ar. Mas a divulgação nunca foi feita.

O fumo que a cada dois minutos sai do solo e se desfaz muitos metros mais acima, idêntico àquele que seria gerado, por exemplo, por uma queimada, já faz parte da paisagem diária desta terra de Castelo de Paiva. Os habitantes mostram-se preocupados e queixam-se da falta de informação sobre os danos que estas combustões podem gerar para a saúde. “Não nos dizem nada. Se isto faz mal às árvores, que estão todas secas, como é que não vai fazer mal às pessoas?”, comenta um dos habitantes de Pedorido.

Além deste aviso, Catarina Martins fez questão de alertar para o facto de haver “mais escombreiras” espalhadas pelo país. “Ninguém pode garantir que não haverá mais incêndios, esperemos que não haja tragédias, mas ninguém pode dizer que não haverá mais incêndios”, enfatizou.