O investigador do Instituto Oriente Luís Cunha considerou esta segunda-feira que Portugal tem sabido “usar os seus trunfos de pequena potência” no plano político e diplomático com a China, apesar das relações “assimétricas” com o gigante asiático.

“Historicamente estamos a falar de um relacionamento assimétrico entre potências com um peso muito diferente, mas Portugal tem conseguido fazer valer os predicados de uma pequena potência, tem sabido afirmar-se” perante a China, assinalou Luís Cunha em entrevista à Agência Lusa, por ocasião dos 40 anos de relações diplomáticas entre os dois países.

O investigador destacou que “as pequenas potências têm a sua utilidade e os seus trunfos” e que Portugal “tem sabido jogar muito bem no plano político-diplomático com a China”, numa relação pouco ingénua e que tem beneficiado os dois países.

“A política chinesa rege-se muito por uma fórmula de win win e penso que se aplica a esta relação“: uma “amizade secular” de que ambas as partes têm retirado vantagens significativas, segundo Luís Cunha. “Não sejamos ingénuos, a China tem uma estratégia bem definida que passa pela afirmação económica e interesses geopolíticos”, sublinhou, considerando que “há que responder com inteligência” a esse pensamento.

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Luís Cunha reconhece que, “em Portugal não houve debate sobre as possíveis consequências geopolíticas do investimento chinês”, mas acrescenta que a Europa “tem noção desta estratégia” e começa agora a adotar posições formais em relação à falta de escrutínio relativamente aos investidores.

A aproximação económica à China aconteceu a partir de 2005, altura em que foi assinado um acordo de parceria estratégica com a China, que só começou a ter aplicação prática a partir de 2011.

“A China aproveitou estratégica e inteligentemente a crise europeia para investir em ativos” e foi “uma preciosa ajuda” para Portugal nesse período, recordou o académico e autor de diversos livros sobre aquele país, considerando que a crise económica “acabou por ter um efeito positivo, funcionando como “catalisador nas relações bilaterais”.

Portugal e China atravessam atualmente “um período áureo”, do ponto de vista económico e político e dos interesses bilaterais, mas Luís Cunha salvaguarda que as exportações são ainda “muito insignificantes” e que “há uma margem muito grande para desenvolver as relações comerciais e económicas”.

Os dois países assinaram uma “parceria azul” que contempla a colaboração em projetos de investigação e comerciais no âmbito da economia do mar e Luís Cunha assinala que poderá também haver interesse da parte chinesa “em questões de ciência e tecnologia” ligadas ao Açores.

“Neste momento (…) a China não terá muito mais por onde investir em termos de ativos estratégicos, vamos passar para uma nova fase” em que poderão assumir mais importância infraestruturas como o Porto de Sines, indicou o investigador.

O governo português já assumiu que vê Sines como uma infraestrutura “instrumental” para a iniciativa chinesa “Faixa e Rota”, um programa que contempla 900 mil milhões de dólares e visa reativar as antigas vias comerciais entre a China e a Europa através da Ásia Central, África e Sudeste Asiático.

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