A vice-primeira-ministra de Espanha, Carmen Calvo, confirmou na terça-feira perante o Senado que o governo vai aceitar a existência da figura de coordenador – ou “relator”, como a socialista preferiu designar – nas negociações entre o Executivo e os independentistas catalães. A atitude do governo de Pedro Sánchez está a ser vista como uma cedência às exigências separatistas. Sobretudo porque foi uma condição imposta pelos separatistas para darem luz verde ao Orçamento do Estado do PSOE no Parlamento. As críticas vêm sobretudo dos partidos da direita espanhola mas não só: até no seio do próprio PSOE há dirigentes que estão contra esta postura.

Durante o anúncio, Carmem Calvo considerou que esta figura não pode ser vista como “um agente de mediação”. Uma designação palavra que parece causar comichão ao governo e que a vice-primeira-ministra preferiu substituir por “relator”. Isto porque, salienta, será “alguém que pode tomar nota do desenvolvimento dos trabalhos, convocar reuniões e coordenar os trabalhos“. Mas não será moderador de uma conversa em que, acredita a governante, todas as partes estarão de boa-fé.

Perante a Câmara mais alta do Parlamento espanhol, a número dois do governo espanhol traçou o perfil do mediador que querem sentar à mesa das negociações com os defensores da independência da Catalunha. “Deve ser alguém que entenda bem aquilo de que se está a falar” e que tenha como objetivo “resolver uma grande crise territorial”.

Depois do anúncio da criação desta figura de mediador, o porta-voz do PP no Senado, Ignacio Cosidó, considerou que aceitar a existência uma pessoa que “testemunhe as negociações equivale a reconhecer que existe um conflito internacional, reconhece a soberania da outra parte e viola a Constituição.” O porta-voz popular acrescentou que esta postura é como “trair Espanha”.

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Na resposta, a vice-presidente do governo defendeu que nada se fará “fora da Constituição” e voltou a defender uma postura conciliatória e de diálogo, que garantiu ser a do executivo que representa. “Se o diálogo é um crime, então sou culpada e aguardo a minha condenação”, dramatizou Carmen Calvo.

No entanto, as críticas não se esgotam nas palavras do PP. Também o Ciudadanos considerou esta atitude de Sánchez e do seu governo uma “genuflexão” perante os separatistas, porque implica “reconhecer a soberania à outra parte, colocando-a num nível de igualdade com o Estado”. Algo que, para o partido de Albert Rivera, é inaceitável. Mas até dentro do próprio PSOE há quem esteja desconfortável com a situação. A deputada socialista e ex-porta-voz do partido, Soraya Rodríguez, pediu na terça-feira que “no diálogo entre o Estado” se respeite “a Constituição, o Estatuto da autonomia e as próprias instituições”. E sentenciou: “Nem mediadores nem relatores”.

Já o presidente da Câmara de Aragón e secretário-geral do PSOE na região, Javier Lambán, recordou que “a aprovação de um orçamento não pode legitimar atitudes que colocam em causa o cumprimento da Constituição, a unidade da Espanha, o Estado de direito ou a decência”. Um duro ataque que se junta aos dos partidos de direita, que sempre mantiveram uma postura de tolerância zero perante as exigências dos separatistas.