Alunos das escolas públicas ocuparam esta quinta-feira as principais avenidas da capital da Guiné-Bissau para exigir o fim da greve dos professores, que mantêm um braço de ferro com o Governo quanto ao pagamento de salários em atraso.

Francisco da Silva, jovem aluno do liceu Agostinho Neto, disse à Lusa que os estudantes decidiram bloquear as estradas de Bissau para demonstrar o seu desagrado com “as sucessivas greves dos professores”. “Se estão a bloquear as nossas aulas, então também nós vamos bloquear as atividades dos adultos”, cortando as circulações dos automóveis, afirmou Francisco da Silva.

Empunhando um megafone na mão, o jovem, de 18 anos, incentivava os colegas a não terem medo perante o cordão policial que se encontrava diante dos alunos que se agruparam na rotunda do mercado do Bandim, ao lado do parlamento guineense.

Vindos de todos os liceus públicos de Bissau, centenas de jovens ocuparam as avenidas Combatente da Liberdade da Pátria — que liga o Palácio do Governo no bairro de Brá ao centro da cidade — e Amílcar Cabral, que vai do Palácio da Presidência à baixa de capital guineense. Alguns entoavam cânticos como: “Deem-nos os nossos direitos” ou “Queremos ir à escola”. A polícia apenas interveio quando alguns tentaram agredir pessoas ou vandalizar carros.

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Os transeuntes, sobretudo pessoas que tentavam chegar de carro ao mercado de Bandim, questionavam os motivos do bloqueio, mas rapidamente deixavam sinais de agrado com a manifestação dos alunos. “Essas crianças estão no seu direito de ir à escola, são os nossos filhos”, disse à Lusa Enfamara Cissé, comerciante no Bandim.

Após duas vagas de greves, os professores das escolas públicas anunciaram, na quarta-feira, uma nova paralisação laboral, de 30 dias, a partir da próxima segunda-feira, para reclamar do Governo o cumprimento de uma série de acordos que possibilitaram o levantamento da última greve em dezembro. Mas, segundo os estudantes, alguns professores já não compareceram esta quinta-feira em algumas escolas públicas.

Entre os pontos do referido acordo, figura o pagamento de salários em atraso a várias categorias de professores, nomeadamente os contratados e novos ingressos, bem como aplicação efetiva do Estatuto da Carreira Docente.

Três sindicatos que representam os professores acusam o primeiro-ministro guineense, Aristides Gomes, de ordenar o bloqueamento, nas Finanças, do pagamento aos docentes que estiveram em greve no mês de dezembro. Um porta-voz dos sindicatos dos professores, Bunghoma Sanhá, admitiu a possibilidade de o ano letivo ter que ser anulado pelo Governo, a quem acusa de insensatez.