O risco de ter um filho com paralisia cerebral é “muito superior” nas mães acima dos 39 anos e nos bebés prematuros, ainda que a incidência da paralisia tenha reduzido em Portugal na última década. As conclusões constam do relatório do Programa de Vigilância Nacional da Paralisia Cerebral aos cinco anos de idade, que esta quinta-feira é divulgado e apresentado em Lisboa. Este é o quarto relatório publicado em Portugal.

Estão registadas 1.719 crianças com paralisia cerebral nascidas entre 2001 e 2010 e residentes em Portugal aos cinco anos, representando 1,65% da população com cinco anos que vive no país nesse período. Há mais rapazes registados, sendo que o risco de ter paralisia cerebral até aos cinco anos é 24% superior nos meninos do que nas raparigas.

Quanto ao risco de ter um filho com paralisia até aos cinco anos consoante a idade da mãe, apresenta-se menor nas mulheres entre os 20 e os 29 anos, sendo muito semelhante aos das mulheres até aos 34 anos. Segundo o relatório, o risco torna-se “muito superior” no grupo de mães acima dos 39 anos. Também a prematuridade do bebé se associa “exponencialmente” a maior risco de paralisia cerebral.

Tendo como referência a taxa de incidência de paralisia cerebral estimadas para crianças nascidas de termo (mais de 36 semanas de gestação), o risco aumentou 4,5 vezes nos nascidos prematuros com pelo menos 32 semanas de gestação, 40 vezes nos nascidos prematuros entre as 28 e as 31 semanas e 72 vezes nas crianças nascidas com menos de 28 semanas”, refere o relatório

O documento constata que o risco de paralisia cerebral “diminui de forma clara à medida que aumenta a idade gestacional”. Conclui-se ainda que “é evidente” a redução do risco de novos casos de paralisia cerebral até aos cinco anos nas crianças nascidas em Portugal no início deste século.

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A redução do risco foi ainda mais marcante nas crianças prematuras nascidas entre as 28 e as 36 semanas de gestação, apesar de ser este um grupo de risco. “Isto deve-se à melhoria das condições de saúde das grávidas e à elevada qualidade dos cuidados oferecidos em Portugal na gravidez, partos e cuidados neonatais”, destaca o documento.

Contudo, os autores avisam que será importante verificar nos próximos anos se as mudanças comportamentais — como a maternidade cada vez mais tardia — e a crise financeira iniciada em 2008 tiveram impacto nos indicadores da paralisia cerebral.

O relatório aponta ainda para uma “grande proporção das crianças” em Portugal com formas muito graves de paralisia cerebral. As estimativas apontam para 30% a 40% das crianças com paralisia cerebral que têm formas muito graves, com “afetação funcional grave”.

A paralisia cerebral é uma perturbação do movimento e da postura devido a lesão cerebral. Pode ser ligeira ou grave e ter níveis de afetação diferentes. As causas da paralisia podem ser várias, desde incidentes pós-natais, como infeções ou complicações cirúrgicas, como perinatais, como complicações durante o trabalho de parto.

O Programa de Vigilância da Paralisia Cerebral é elaborado por um conjunto de associações e sociedades clínicas e científicas.