O presidente da Assembleia Nacional da Venezuela e auto-proclamado presidente interino do país diz que está a “fazer todos os possíveis” para “salvaguardar a comunidade portuguesa na Venezuela” e “não só”. Em entrevista à RTP, Juan Guaidó lembrou, contudo, que “na Venezuela houve 700 mil mortos em 15 anos” e que “Caracas é hoje a capital mais violenta do mundo”.

Guaidó enalteceu a comunidade portuguesa por ter trazido “um grande desenvolvimento” à indústria e comércio da Venezuela — e ao país em geral. No entanto, apontou, o objetivo é salvaguardar toda a gente no país — não só os portugueses, mas também “a comunidade italiana, a comunidade espanhola e também os venezuelanos, que estão a ser perseguidos”. “Os nossos aborígenes e os nossos indígenas no Sul estão a ser massacrados para serem integrados em grupos irregulares como o Exército de Libertação Nacional e em grupos terroristas que além do mais vão comprar armas à Colômbia”, sublinhou.

O opositor de Maduro reiterou ainda que “a situação na Venezuela é muito crítica” e que “a situação humanitária é muito grave”.

A declaração de Guaidó sobre a comunidade portuguesa durante a entrevista à RTP surge depois de o número dois do partido de Nicolás Maduro, Diosdado Cabello, ter dito que o Governo português está a “pôr em perigo a vida dos seus cidadãos” por ter reconhecido Juan Guaidó como Presidente interino da Venezuela.

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“Governos como o de Espanha e Portugal, que apelam abertamente a uma intervenção militar na Venezuela e que são capazes de reconhecer um indivíduo que segundo eles é Presidente, que pedem o seu reconhecimento e que pensam que podem fazer um ultimato à Venezuela, estão a pôr em perigo a vida dos nacionais portugueses e espanhóis. Não há bombas que digam: esta bomba só mata chavistas“, declarou Cabello, alertando para os perigos de uma intervenção militar dos Estados Unidos no país.

Na Venezuela, antiga colónia espanhola, residem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes.

Governo de Portugal “está a pôr em perigo a vida dos seus cidadãos”, avisa número dois do chavismo

Intervenção militar dos Estados Unidos sim, se for necessário

Também esta sexta-feira, o presidente do parlamento da Venezuela, Juan Guaidó, disse que, se necessário, pode autorizar uma intervenção militar dos Estados Unidos para forçar Nicolás Maduro a deixar o poder e a acabar com a crise humanitária no país.

“Nós faremos o que for necessário. Essa é, evidentemente, uma questão polémica, mas fazendo uso da nossa soberania, do exercício das nossas prerrogativas, faremos o que for necessário”, disse Guaidó, numa entrevista à France Presse, depois de questionado se usaria os seus poderes legais como Presidente interino para autorizar uma possível intervenção militar.

A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de janeiro, quando o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro.

Guaidó, 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados Unidos e prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres. Nicolás Maduro, 56 anos, no poder desde 2013, recusou o desafio de Guaidó e denunciou a iniciativa do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos.

A maioria dos países da União Europeia, entre os quais Portugal, reconhece Guaidó como Presidente interino encarregado de organizar eleições livres e transparentes.

A repressão dos protestos antigovernamentais desde 23 de janeiro provocou já 40 mortos, de acordo com várias organizações não-governamentais. Esta crise política soma-se a uma grave crise económica e social que levou 2,3 milhões de pessoas a fugirem do país desde 2015, segundo dados da ONU.