A oitava e última temporada de “A Guerra dos Tronos” chega a Portugal no dia 15 de abril, precisamente à mesma hora da estreia nos EUA e no resto do mundo, e a HBO Portugal estará “muito em breve” pronta a funcionar em sistemas Apple, nomeadamente iPhone e iPad. Nesta terça-feira de manhã num hotel de Lisboa, o diretor executivo da HBO Europe esclareceu as principais dúvidas levantadas na segunda-feira, quando a plataforma americana de streaming começou a operar em território português – um surpresa, já que se esperava que só na conferência de imprensa viesse a ser conhecida uma data.

“Roma e Pavia não se fizeram num dia”, foi a frase marcante de Hervé Payan para justificar problemas encontrados pelos utilizadores (falta de legendagem portuguesa em séries, baixa resolução em alguns conteúdos mais antigos). O responsável surgiu perante cerca de 50 jornalistas ao lado do diretor da Vodafone Portugal, Mário Vaz, e pelos atores Stephen Dorff (série “True Detective”) e Rodrigo Santoro (“Westworld”). “Todos os problemas que os consumidores nos fazem chegar, são corrigidos pelas nossas equipas. Haverá sempre problemas, mas às vezes também nos chegam problemas que afinal não existem”, disse.

A HBO Portugal permite aos subscritores acederem a séries de nomeada como “True Detective”, “O Sexo e a Cidade”, “Os Sopranos” ou, obviamente, “A Guerra dos Tronos”, bem como longas-metragens e documentários. Em junho, estreia-se uma nova temporada de “Big Little Lies”, com Meryl Streep no elenco, e mais tarde, sem data precisa, “Pretty Little Liars: The Perfectionists”, descrita como “uma das maiores séries de sucesso da atualidade”, soube-se durante a conferência de imprensa. Há também conteúdos dirigidos ao público infantil, “consumidores leais”, nas palavras do diretor executivo, sendo disso exemplo a série “A Porquinha Peppa” ou os filmes da saga Harry Potter.

Clássicos, novidades e documentários: 20 títulos a não perder na HBO

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Vamos disponibilizar novas séries todas as semanas”, garantiu Hervé Payan, dando outra novidade: a estreia do documentário sobre Michael Jackson, que está em preparação e tem causado polémica por alegadamente retratar o cantor como violador de menores, nos últimos anos de vida. A propósito, comentou: “Abordamos sempre todos os temas de forma séria, não fazemos barulho apenas por fazer.”

A HBO Portugal acresce a duas outras plataformas a que os portugueses já acedem, Netflix e Amazon Prime Video. Está disponível através de vários dispositivos (computador, LG TV, PlayStation 4, Chromecast) ou através da “box” da Vodafone TV, única operadora que terá o exclusivo dessa distribuição – por quanto tempo, não foi revelado. “É confidencial”, disse Hervé Payan. “O contrato tem lá uma data, posso dizer que são mais de dois anos”, afirmou o diretor da Vodafone. “Os nosso clientes, sobretudo, é que irão determinar a duração desta relação e a minha expectativa é de que seja longa”, acrescentou.

O primeiro mês de utilização é gratuito (primeiros três meses no caso dos clientes da Vodafone) e a partir o serviço custa 4,99 euros por mês para cinco dispositivos e duas transmissões simultâneas, sem contrato de fidelização. Nas primeiras horas, na segunda-feira, já havia cerca de dois mil subscritores, disse o diretor executivo, sem querer adiantar a expectativa a médio prazo. “Somos muito cuidados em relação a números, mas sabemos que quando pegar, atinge rapidamente o êxito”, acrescentou. “O que conta é a promoção e o conteúdo.”

Questionado sobre o orçamento previsto para ações de promoção em Portugal, respondeu sem hesitar:

“Milhões.” Sobre o número de postos de trabalho diretos criados pelo operação HBO em território português, foi mais económico: “Cinco no núcleo central, mas temos subcontratação de serviços em muitas áreas, essa é a nossa estratégia.”

Hervé Payan esclareceu que a HBO Portugal não tem relação direta com os serviços HBO Go e HBO Now, que existem nos EUA. “Em Portugal, temos apenas um produto, HBO Portugal, tal como em Espanha, por exemplo.”

A HBO Europe, na qual agora se integra a operação portuguesa, está hoje presente em vários países de maneira autónoma (e não através de outros canais ou plataformas já existentes, como aconteceu até há pouco tempo no nosso país). Escandinávia, Hungria, Polónia, Bulgária, Croácia, Espanha, entre outras áreas. O centro do continente, Itália, França, Alemanha, Reino Unido, etc., não tem operação direta da HBO. “A tendência é termos distribuição direta, mas ainda há contratos em vigor com terceiros. Por exemplo, com a Sky, no Reino Unido, ou com a Orange, em França”, justificou este responsável. “Não há outro obstáculo, a não ser esse.”

A HBO já está disponível em Portugal e inclui “A Guerra dos Tronos”, “Os Sopranos” e “The Wire”

Questionado sobre se a Netflix é o principal o concorrente direto da HBO em Portugal, Hervé Payan disse que “a pirataria é que é a principal concorrente”. “Temos de convencer as pessoas a evitar pirataria de séries, o que ainda não conseguimos, nem mesmo nos países nórdicos, onde as pessoas têm fama de respeitar as regras. Para as convencermos, temos de passar a mensagem de que a nossa oferta é rica e diversificada e com bom preço. Se as séries estiverem facilmente disponíveis, com preço acessível, as pessoas estão dispostas a abdicar de pirataria.”

Apesar de reconhecer a Netflix como competidor, sublinhou que “o posicionamento é diferente”.

“Insistimos na qualidade das séries, estamos no topo dessa escala. A Netflix é mais comercial, mais ‘mainstream’. Além disso, quem assina a Netflix também assina a HBO e vice-versa”, afirmou.

O facto de o preço mensal da HBO ser três euros abaixo do praticado pela Netflix não demonstra necessariamente concorrência direta, sustentou Hervé Payan. “Fazemos as nossas próprias pesquisas de mercado e estabelecemos o preço em cada país conforme as conclusões a que chegamos. O preço dos outros não nos interessa.” Exemplificou com os valores cobrados na Dinamarca, 12,99 euros, e na Roménia, 2,99 euros.

O lançamento da HBO na segunda-feira foi considerado inesperado mesmo para responsáveis da Vodafone, soube o Observador, mas para o responsável europeu da HBO tratou-se de um “procedimento normal”, porque “a estratégia tem sido, desde há vários anos, aparecer sem avisar”.

As plataformas de streaming, que a lei classifica como “serviços e comunicação social audiovisual a pedido” (ou não-lineares), estão obrigadas a incluir nos seus catálogos um mínimo de 30% de obras europeias, determina uma diretiva da União Europeia aprovada no ano passado e que já se encontra em vigor. Se isso levará a HBO a procurar parcerias de produção em Portugal, é “uma certeza”, segundo o diretor executivo. Mas não para já, pode demorar no mínimo dois anos. “Depende dos projetos, vamos procurar ativamente parcerias e esperar que nos cheguem propostas, mas são coisas que demoram. É preciso selecionar projetos, só com o argumento temos de investir um ano. Queremos conteúdos ao estilo HBO, não pode ser uma história morna, tem de causar surpresa nas pessoas”, explicou.

Os convidados especiais

Este encontro com a imprensa serviu também para promover duas séries, e daí a presença de atores. Rodrigo Santoro entra em “Westworld”, ao lado de Anthony Hopkins, Ed Harris e Evan Rachel Wood, entre outros, numa produção de Lisa Joy, Jonathan Nolan e J.J. Abrams, que se estreou em 2016 e cuja terceira temporada está a caminho. Desempenha uma personagem biónica, um “host” num parque de diversões futurista, que ele próprio não consegue definir bem. “É uma inteligência artificial, próxima do humano, e por isso é que atuamos naturalmente e não com movimentos robóticos. Muito desafiante, nunca fiz nada parecido”, explicou ao Observador.

“Em teoria, é uma série sobre o futuro próximo, mas para mim é sobre o presente, porque tudo aquilo de que a série fala, em torno da relação homem-máquina, é já o nosso presente. Os algoritmos estão aí”, destacou o ator brasileiro, que em Portugal é ainda recordado como protagonista de telenovelas. “Ao mesmo tempo é uma série sobre a violência e o livre-arbítrio, sobre o que uma pessoa pode fazer se não houver julgamento social e consequências para os seus atos.”

Também presente, Stephen Dorff é protagonista da terceira temporada de “True Detective”, estreada há poucos dias e escrita e produzida por Nic Pizzolatto. Uma série sobre casos policiais que desta vez tem início em 1980, até chegar aos nossos dias. O ator norte-americano elogiou os métodos de trabalho nas produções da HBO. “São os reis da TV”, afirmou. “Escolhem bem as pessoas, não interferem no meu trabalho coma ator, porque confiam, e deram-me a oportunidade de fazer uma das personagens mais interessantes de sempre da minha carreira, ou talvez a mais interessante.”