“O cinema de animação é a arte portuguesa mais premiada”, quem o diz é Fernando Galrito, diretor artístico e um dos fundadores da Monstra, em entrevista ao Observador. O responsável pelo festival, que regressa a Lisboa no próximo mês, realça a criatividade e o talento nacionais, afirmando que “o futuro do setor está assegurado”. “Infelizmente não temos capacidade económica e logística para fazer mais, mas o que fazemos é bom, muito bom. Não exagero se disser que é considerado o melhor se faz no mundo.”

À boleia da Monstra – Festival de Animação de Lisboa é hoje inaugurada no Museu da Marioneta a exposição “A Magia dos Estúdios Aardman” estúdios britânicos responsáveis por filmes como “A Ovelha Choné”, “A Idade da Pedra” ou a “Fuga das Galinhas”. Até 21 de abril vai poder 47 marionetas, algumas com mais de um metro de altura, 8 cenários e vários srtoyboards que ajudam a perceber os bastidores dos filmes de animação mais conhecidos e admirados em todo o mundo.

Nesta 18ª edição, o festival vai homenagear o cinema de animação do Canadá, “um dos países onde esta arte é mais forte e cultivada, e também onde estão reunidas todas as condições para a realização de filmes e muita experimentação”. Serão exibidas 15 sessões de filmes do país convidado, entre os trabalhos de realizadores como Norman Mclaren, Frédéric Backou Caroline Leaf, e uma retrospetiva da National Film Board of Canada, a grande produtora de cinema independente canadiana que este ano completa 80 anos de vida. Os realizadores irão apresentar cada filme, mas também terão a oportunidade de explicar o seu processo criativo através de workshops, masterclasses e talks. Homenageado será também Satoshi Kon, o realizador japonês que faleceu em 2010 deixando uma obra peculiar e realista. O festival irá repor quatro longas metragens da sua autoria, produzidas entre 1997 e 2006.

Algumas das personagens criadas pelos estúdios Aardman

A competição internacional de longas-metragens será composta por 7 filmes, 6 dos quais serão estreias nacionais. Neste rol, Fernando Galrito destaca “Funan”, a película premiada que abre o festival, e que será explicada pelo compositor e sound designer, mas também a longa “Dilili a Paris”, do realizador francês Michel Ocelot. “Um filme inspirado nos anos 30 e 40, onde os novos artistas cheios de ideias arrojadas abundavam, mas cuja essência permanece bem atual, uma vez que são abordados temas como as novas escravaturas ou a relação entre géneros”, explica o diretor. Na competição de filmes portugueses, já confirmado está “Agouro”, de Vasco Sá e Diogo Doutel, realizado no ano passado, uma animação invernosa que revela um trabalho impressionista.

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A banda desenhada dará nas vistas na retrospetiva “A BD no Cinema de Animação”, composta com cinco longas-metragens inspiradas nas histórias do marinheiro Corto Maltese, personagem criada por Hugo Pratt. A ligação entre as duas artes parece comum e quase inevitável. “Muitos realizadores de filmes de animação tiveram a sua origem na banda desenhada ou na ilustração. É uma coisa natural, há uma contaminação muito positiva”, explica Fernando Galrito. Também a poesia é um dos pontos de partida para quem faz este tipo de cinema, prova disso é exibição de filmes baseados nas obras de poetas franceses contemporâneos, cuja narrativa vai poder ver-se num grande ecrã. O coletivo Lisbon Poetry Orchestra vai marcar presença na Monstra para um concerto com poesia e cinema de animação, cujos filmes serão exclusivos de alunos da Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha.

A música e a mais recente tecnologia interagem num momento muito especial, onde a peça “As Quatro Estações”, do compositor italiano Antonio Vivaldi, sobe a palco e será tocada ao vivo pela Escola Superior de Música de Lisboa, enquanto que alunos das universidades de animação de Tóquio executam um software que permite sincronizar imagem e música em tempo real. “Será a segunda vez que esta tecnologia, desenvolvida em parceria com a Yamaha, é apresentada mundialmente.”

Os mais novos não ficam de foram da programação, já que o cinema de animação viaja até 100 escolas dos concelhos de Lisboa, Almada, Sintra, Barreiro, Salvaterra de Magos ou Ferreira do Alentejo, à boleia das sessões Monstrinhas. Ao todo, serão exibidos 26 filmes com dobragem em português para alunos da pré-escolar, 1º e 2º ciclo e do ensino secundário. As crianças até aos três anos também poderão ter o primeiro contacto com os filmes de animação neste festival e de forma gratuita. Já nas cerca de 90 curtas pensadas para toda a família, exibidas aos fins de semana, o diretor artístico chama a atenção para a estreia nacional do filme “Tito e os Pássaros”, que fala sobre o medo infantil.

O Monstra – Festival de Animação de Lisboa vai ocupar as salas do Cinema São Jorge, Cinema City Alvalade, Cinema Ideal e da Cinemateca Portuguesa — Museu do Cinema, depois de no ano passado ter recebido mais de 62 mil pessoas. Os bilhetes já se encontram à venda.