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Ray Collins: o australiano que trocou as minas pela fotografia e também já imortalizou as ondas da Nazaré

Este artigo tem mais de 5 anos

Nasceu em Sidney, mas procura ondas de todo o mundo para fotografar. É daltónico, trabalhou numa mina, mas foi na fotografia que Ray Collins encontrou a sua paixão. Em dezembro fotografou a Nazaré.

25 fotos

(Veja a fotogaleria acima com algumas das fotografias captadas pelo fotógrafo em vários locais do mundo. As duas primeiras foram na Nazaré)

Se até 2007 alguém perguntasse a Ray Collins o que queria fazer para o resto da sua vida, fotografar ondas seria uma das respostas menos prováveis. Em primeiro lugar, porque nunca tinha tido uma câmara nas suas mãos. Em segundo, porque nunca se imaginou nesse papel. O australiano, nascido em Sidney, trabalhava numa mina de carvão quando teve um acidente de trabalho: caiu e magoou-se no joelho. A lesão obrigou-o ficar parado durante seis meses. Mas depois desse tempo Ray não voltou para a mina porque encontrou outra paixão.

“Naqueles meses não tinha muito para fazer. Andava pela internet, lia livros e depois comecei na fotografia quando comprei uma máquina fotográfica”, contou ao Observador. Antes de fotografar ondas e tornar-se num dos fotógrafos mais reconhecidos da área, foi a sua cadela que “começou por servir de musa de inspiração” para trabalhar técnicas como a luz e a profundidade, uma área que estava a conhecer ao detalhe pela primeira vez na vida. “Tudo começou a mudar à medida que o tempo foi passando. Cerca de quatro ou cinco meses depois, quando comprei uma proteção à prova de água (waterhousing) e comecei a tirar fotografias ao oceano. Adorei”, conta.

Ray Collins, de 36 anos, sempre esteve ligado ao mar, até porque, como grande parte dos australianos que nasceram na costa, aprendeu a olhar para a água de uma forma diferente desde novo. “Para ser sincero, tem sido uma das constantes na minha vida. Viver perto do oceano, acordar e poder ir para lá ou estar perto dele é algo que sempre fiz. Tem estado sempre comigo”, explicou.

Foi esta ligação ao mar que ajudou o fotógrafo a eleger as ondas como as protagonistas das suas imagens. Mas a escolha não passou apenas por aí: “Há tantos momentos que não se vão voltar a repetir e adoro o facto de poder capturar algo que não tenha sido visto antes e que não vai voltar a ser visto. É estar a congelar um momento único”, descreveu, acrescentando que “é quase anti-natura para o ser humano ter a oportunidade de olhar para um momento que normalmente dura menos de um segundo durante tanto tempo”.

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Em cerca de 12 anos de trabalho dedicado à fotografia, Ray Collins já tem dois livros — Water & Light e Found at Sea — e chegou a participar numa série da Netflix chamada “Fish People”, que retrata a rotina de seis pessoas cuja vida se desenvolve à volta do oceano. Já o dia-a-dia do fotógrafo pode começar bem cedo, às 5h, e acabar quando o último raio de sol se esconde na praia. “Gosto especialmente de fotografar de manhã na costa este da Austrália, porque o nascer do Sol é mágico: ilumina as ondas por trás e podemos ver todas as cores”, explicou ao Observador.

O australiano, que vive numa localidade chamada Thirroul, anda pelo mundo a fotografar as ondas de cada país, mas diz não contar o número locais que já visitou. Na sua lista já estão lugares como a Islândia e as ilhas Marshall, bem como os locais que visita com frequência, como a Indonésia, onde já foi 30 vezes, e o Havai, onde já esteve 20 vezes e se encontra atualmente para mais uma visita. É também difícil para Ray descrever os momentos mais marcantes que viveu, mas o fotógrafo não esquece os mergulhos com baleias, a energia dos choques na água e o descer de um penhasco na Islândia com -30ºC para fotografar ondas. “Ter uma câmara mudou a minha vida. Permitiu-me ver o mundo em formas que nunca imaginei. Conheci a minha mulher e muitos bons amigos através da fotografia”, contou.

“Podem estar na Nazaré durante 10 minutos e ficar totalmente surpreendidos”

Também na lista e no portefólio de Ray Collins as ondas da Nazaré já foram imortalizadas. O fotógrafo visitou Portugal pela primeira vez em dezembro, numa altura em que foi assistir a uma competição de bodyboard com alguns amigos, e não esquece o típico “café e pastel de nata” que provou.

No entanto, conta ao Observador, o que o surpreendeu mais foi a imponência das ondas que encontrou na Nazaré e a beleza da localidade no distrito de Leiria: “Acho que todos os recordes mundiais vão viver sempre na Nazaré, mas aquele é também um sítio lindo. Não têm de saber nada sobre surf ou sobre o oceano e podem estar na Nazaré durante dez minutos e ficar totalmente surpreendidos”.

O fotógrafo visitou Portugal pela primeira vez em dezembro e também guardou registos das ondas da Nazaré (Foto: Ray Collins)

E engane-se quem pensa que as imagens do fotógrafo são apenas tiradas entre mergulhos na água. Há momentos em que coloca simplesmente umas barbatanas nos pés e vai até determinado local ou então senta-se numa prancha de bodyboard para captar outro ângulo. “Às vezes, muito raramente, vou numa mota de jet ski ou num helicóptero para tirar as fotografias. Depende do local onde estou e o que está a acontecer naquele momento”, acrescentou. A luz e a água, refere, são as duas componentes que o inspiram mais do que tudo na fotografia.

A importância do planeamento e o detalhe que ninguém repara

Apesar de ter uma grande experiência com o mar e tudo o que ele implica, o fotógrafo sabe que corre sempre algum perigo, especialmente tendo em conta a imprevisibilidade do sítio onde capta as imagens. É por isso que nunca entra na água sem antes planear tudo o que pretende fazer e saber as condições climatéricas previstas para esse dia.

Descobri que as fotografias requerem, muitas vezes, dias ou semanas de planeamento para conseguir fazer tudo. Estamos sempre à procura de aumentar as hipóteses [de ter a fotografia idealizada], por isso temos de alinhar o tempo, a altura do ano e tudo deve juntar-se para dar as melhores hipóteses de se conseguir uma boa fotografia”, referiu o fotógrafo em entrevista ao Observador.

No entanto, conta, ser fotógrafo é também ser surpreendido com o resultado final, por muito que as condições e as ideias sejam planeadas ao detalhe. E quando se capta ondas — imprevisíveis e sempre diferentes — a possibilidade de se ser surpreendido é ainda maior. “Às vezes tenho uma fotografia na mente e aquilo com que chego a casa não tem nada a ver com ela”, contou, acrescentando que “é essa a beleza de fotografar na natureza e no exterior”.

Quando olhamos para as fotografias de Ray, há um fator que chama à atenção: a cor. Dos verdes aos azuis, passando pelos tons vermelhos do último raio de sol, as fotografias do australiano refletem o momento do dia em que uma determinada onda foi “congelada”. Mas há um detalhe que ninguém nota nessas fotografias: Ray Collins é daltónico, uma condição que o fotógrafo diz não alterar de qualquer maneira a forma como faz o seu trabalho.

“Acho que, ao ter uma deficiência numa área da forma como vejo as coisas, ganhei pontos fortes noutras áreas. Consigo concentrar-me nas texturas, contrastes e detalhes. Acho que sou mais orientado para isso do que para a cor, e talvez seja por isso que o meu trabalho é diferente”, explicou.

Existe uma mensagem ou sentimento que quer passar com as suas fotografias? O fotógrafo responde: “A beleza da arte é o que a pessoa está a ver”. “O que eu acho dela [da fotografia] é irrelevante, porque acredito que é a pessoa que está a ver que traz os seus próprios pensamentos, emoções e sentimentos”, acrescentou, referindo ainda que “a arte falha se não causar algum tipo de reação”. 

“Iria detestar que o meu trabalho daqui a 20 anos fosse mostrar como eram os oceanos antes de os poluirmos”

Em 12 anos de carreira na fotografia, Ray Collins já pode dizer que viu muita coisa, captou vários momentos e conhece o mar quase como a palma da sua mão. E é precisamente por o conhecer tão bem que decidiu mudar o rumo do seu trabalho em direção a uma maior consciencialização sobre a importância da preservação dos oceanos.

Descobri que cheguei onde sonhava e agora quero retribuir, quero trazer consciência para os oceanos e quero que as pessoas vejam o quão bonito e intocável é isto tudo, para assim podermos ajudar a preservá-lo para as futuras gerações”, explicou o fotógrafo.

Prova deste esforço são os trabalhos que o fotógrafo realizou em conjunto com a Surfrider Foundation da Austrália e com a Green Peace — “projetos que realmente estão a fazer a diferença”. É na fotografia que Ray vê uma porta de entrada para expressar a importância de cuidarmos daquilo que é nosso. E garante: “Iria detestar que o meu trabalho daqui a 20 anos fosse mostrar como eram os oceanos antes de os poluirmos com plástico. Quero destacar o quão bonito o oceano pode ser para que se crie uma discussão na forma como pensamos no uso do plástico e de itens de desperdício”.

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