Quase metade das crianças cabo-verdianas com menos de cinco anos sofrem de anemia, segundo um estudo apresentado esta segunda-feira, numa percentagem superior à classificação da Organização Mundial de Saúde e da meta governamental de diminuição da prevalência em 20%.

Segundo os resultados preliminares do Terceiro Inquérito Demográfico e de Saúde Reprodutiva (IDSR – III), apresentados pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE), 43% das crianças cabo-verdianas de 6 a 59 meses ainda são anémicas, uma redução relativamente a 2005, que era de 55%.

O estudo revelou que a anemia leve representava 48% da anemia geral em 2005 e 53% em 2018, enquanto a anemia moderada representava 49% da anemia geral em 2005 e 45% no ano passado.

A anemia grave é relativamente baixa em Cabo Verde, de 1,7% em 2005 e 0,5% em 2018, ainda segundo o inquérito.

Desde 2017 que as crianças cabo-verdianas com menos de cinco anos estão a tomar um suplemento vitamínico com ferro (Vitaferro) e as autoridades preveem uma diminuição de 20% da prevalência da anemia no país.

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A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica de “um problema grave de saúde pública” qualquer prevalência de anemia acima dos 40%.

Em declarações à agência Lusa em outubro, o ministro da Saúde, Arlindo do Rosário, disse que a avaliação da campanha de distribuição de Vitaferro ainda está em curso, mas os primeiros sinais demonstram “um impacto positivo”. O Vitaferro é um conjunto de vitaminas e minerais que é colocado na comida das crianças a partir dos seis meses de idade e até aos cinco anos.

A anemia pode levar a um desenvolvimento cognitivo inadequado e a um pior desempenho escolar”.

Segundo os resultados preliminares do IDSR-2018, a taxa de cobertura vacinal aumentou no país, passando de 74% em 2005 para 83% em 2018.

A recolha de dados para o inquérito foi feita por 18 equipas nos 283 distritos de recenseamento do país, entre fevereiro e maio, tendo sido entrevistados 6.741 agregados familiares com uma taxa de respostas a nível nacional de 98%.

Depois do último há 13 anos, este foi o terceiro inquérito do tipo realizado no país, que revelou ainda dados sobre fecundidade, contraceção, vacinação, moralidade das crianças, aleitamento materno e VIH/SIDA.

Os resultados preliminares indicam “progressos significativos” em Cabo Verde ao longo dos últimos anos, quanto aos indicadores demográficos e de saúde.

Durante a apresentação, o presidente do INE, Osvaldo Borges, disse que se trata de uma “operação estatística delicada e de extrema importância” para o país.

O responsável sublinhou o facto de um último inquérito ter sido realizado em 2005, dizendo que o INE já tinha “vergonha” pelo facto de as organizações nacionais e internacionais referirem a dados de mais de 10 anos e que não estavam atualizados.

O coordenador técnico do inquérito, Orlando Monteiro, disse aos jornalistas que um desafio importante para o INE será seguir e avaliar os indicadores e elaborar o inquérito de cinco em cinco anos, pelo menos até 2030, ano estabelecido para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

O ministro da Saúde, Arlindo do Rosário, também ressaltou a importância dos resultados do inquérito, mas salientou que colocam “desafios importantes” ao país, nomeadamente no que diz respeito a manutenção da sua perenidade e das metas em todos os setores.

Além do Governo cabo-verdiano, a realização do inquérito contou com parceria e financiamento do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e apoio técnico da Organização das Nações Unidas (ONU).