A Infraestruturas de Portugal realizou uma inspeção à Estrada Nacional 236-1 — que viria a ficar conhecida como “Estrada da Morte” depois de lá terem morrido 47 pessoas do incêndio de Pedrógão Grande — nove dias antes do fogo, mas não encontrou nenhum problema no troço onde morreram as vítimas, noticia a SIC.

De acordo com a estação televisiva, o resultado da inspeção foi uma carta, enviada três dias depois do fogo à Ascendi, empresa responsável pela estrada, na qual são referidas nova situações nas quais é necessário intervir. Dessas, apenas duas situações se referem a manchas de árvores inclinadas para a estrada — e nenhuma naquele troço.

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Segundo o especialista em incêndios florestais Xavier Viegas, que coordenou o relatório encomendado pelo Governo sobre aquele fogo, explicou à SIC que este relatório da Infraestruturas de Portugal apenas identificava os mínimos necessários à segurança da circulação rodoviária, sem ter em consideração o risco de incêndio.

Xavier Viegas lembrou ainda que, apesar de as bermas da estrada estarem limpas, na zona onde ocorreram as mortes havia “pinheiros do outro lado do rail de proteção”, sem respeitar a distância mínima entre as árvores e a estrada.

Ainda de acordo com a reportagem da SIC, a Infraestruturas de Portugal confirmou ter realizado a inspeção no dia 8 de junho de 2017, menos de duas semanas antes do incêndio que deflagrou em 17 de junho, e assegurou que a Ascendi cumpriu as obrigações “no que se refere à manutenção vegetal”.

A Infraestruturas de Portugal sublinhou ainda que a fiscalização, naquela altura, competia a entidades entre as quais se incluem a GNR, a PSP, a Autoridade Nacional de Proteção Civil, a Autoridade Florestal Nacional, as polícias municipais e as autarquias, mas não a IP.

[Veja a reportagem do Observador em vídeo sobre a “Estrada da Morte”]

Xavier Viegas lamenta a “falta de sensibilidade” para o problema dos incêndios, sublinhando que as entidades apenas olham para as suas especialidades. “Neste caso, uma gestora de estradas cuida da circulação dos carros. Pelo país, vemos muitas vias nesse estado, até mesmo autoestradas. Não creio, não é possível que todas as estradas possam ser limpas e sejam espaços completamente seguros. Mas, pelo menos, devem evitar-se aquelas situações que possam pôr mais em risco a vida das pessoas”, afirmou o especialista.

É preciso, adianta Xavier Viegas, a criação de clareiras de segurança em vários pontos das estradas, uma vez que não é possível limpar toda a extensão da rede rodoviária.

O relatório foi apresentado em tribunal, durante a fase de instrução, por Rogério Mota, responsável pela assistência e manutenção da Ascendi, que está acusado de 34 crimes de homicídio por negligência.