Os últimos anos do Benfica nas competições europeias têm sido algo duros. Depois de duas derrotas em duas finais consecutivas da Liga Europa, a melhor campanha europeia dos encarnados foi já em 2015/16, quando chegaram aos quartos de final da Liga dos Campeões, onde acabaram eliminados por um Bayern Munique que cairia nas meias-finais com o Atl. Madrid. Daí para cá, uma temporada até aos oitavos de final da Champions e a desastrosa época passada (seis derrotas em seis jogos). Este ano, na fase de grupos da liga milionária, as expectativas não eram animadoras e o 5-1 em Munique com o Bayern deixava antever uma reedição do ano passado. O terceiro lugar no grupo garantiu a Liga Europa e os sete pontos conquistados garantiram o estatuto de cabeça-de-série no sorteio dos 16 avos de final. O adversário era o Galatasaray e a primeira mão terminou com uma inédita vitória na Turquia (1-2).

Os golos de Salvio e Seferovic em Istambul deixavam descansados os adeptos encarnados, que esta quinta-feira recebiam a equipa de Fatih Terim com a certeza de que o nulo no marcador com que o jogo começaria seria o equivalente a uma vitória. Pelo meio da eliminatória, — além da renovação de contrato de Bruno Lage –, o Benfica foi à Vila das Aves vencer por três golos sem resposta e assegurar o segundo lugar da classificação a apenas um ponto do líder FC Porto: nesse jogo de segunda-feira, Lage voltou à “fórmula Campeonato” e restaurou as titularidades de Gabriel, Samaris, Rafa, Grimaldo e André Almeida, todos poupados na Turquia. Esta quinta-feira, na receção ao Galatasaray, o treinador encarnado decidiu voltar à “fórmula Liga Europa”. Mas só em formato meia dose.

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Ficha de jogo

Benfica-Galatasaray, 0-0

Segunda mão dos 16 avos de final da Liga Europa

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Ovidiu Alin Hategan (Roménia)

Benfica: Vlachodimos, André Almeida, Rúben Dias, Ferro, Grimaldo, Pizzi (Gabriel, 83′), Gedson, Florentino, Cervi (Rafa, 59′), João Félix (Jonas, 76′), Seferovic

Suplentes não utilizados: Svilar, Corchia, Zivkovic, Samaris

Treinador: Bruno Lage

Galatasaray: Muslera, Mariano, Belhanda, Donk (Gumus, 78′), Badou, Onyekuru (Akbaba, 84′), Luyindama, Marcão, Nagatomo, Feghouli, Diagne

Suplentes não utilizados: İsmail, Ahmet, Selçuk, Sinan, Ömer

Treinador: Fatih Terim

Ação disciplinar: cartão amarelo a Marcão (4′), Jonas (90+3′), Ndiaye (90+3′)

Grimaldo era titular ao invés do jovem Yuri Ribeiro e André Almeida ocupava o lugar que foi de Corchia em Istambul mas Florentino Luís, Gedson Fernandes e Franco Cervi regressavam ao onze inicial. De resto, Ferro voltava a fazer dupla com Rúben Dias, Pizzi era o dono da lateral direita e Seferovic e João Félix os responsáveis pela frente de ataque — mesmo depois de dias de rumores e antevisões que antecipavam o regresso de Jonas à titularidade. Do outro lado, Fatih Terim poupou Nagatomo no jogo para o Campeonato e apostava esta quinta-feira num onze totalmente estrangeiro e sem qualquer jogador turco.

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O Benfica entrou mais pressionante e enquanto dono do jogo, com vontade de fazer um golo que arrumasse a eliminatória e que permitisse descansar com bola. Nos primeiros dez minutos, com um claro ascendente na luta do meio-campo e com Cervi e Pizzi endiabrados nos corredores, os encarnados estiveram muito perto do golo em três ocasiões: numa grande combinação entre João Félix e Seferovic, que acabou anulada por falta do suíço; num livre perigoso de Pizzi que passou por cima da baliza de Muslera; e ainda num entrosamento louvável entre Pizzi e Cervi, que acabou com um remate rasteiro e ao lado do argentino. Após dez minutos de maior controlo e inegável superioridade, principalmente no que toca a ultrapassar a primeira linha de pressão adversária, o Benfica tirou ligeiramente o pé do acelerador e entregou aos turcos a responsabilidade da iniciativa.

Belhanda, o melhor dos turcos durante a primeira parte, tentou abrir espaço entre os setores encarnados e lançar Feghouli e Onyekuru nas alas mas Gedson, dono de uma grande exibição nos primeiros 45 minutos, esteve sempre atento e encarregou-se de não permitir a entrada do adversário em zonas de perigo. O período de maior ascendente do Galatasaray foi subtil e não se materializou em nada, já que os homens mais adiantados da equipa turca nunca conseguiram superar a dupla Ferro-Dias, que interditou por completo o acesso à baliza defendida por Vlachodimos. Até ao intervalo, o central Marcão — que chegou à Turquia em janeiro vindo do Desp. Chaves e esteve nos lances dos dois golos do Benfica em Istambul — quase fez um autogolo, quando Seferovic tentava servir João Félix, e Pizzi fez o único remate enquadrado da primeira parte depois de uma grande jogada pela esquerda que começou com um passe genial de Florentino (e terminou com uma defesa igualmente fantástica de Muslera).

Tal como tinha acontecido na primeira parte, o Benfica entrou para o segundo tempo mais pressionante e dominador, com vontade de inaugurar o marcador e colocar um ponto final nas dúvidas que ainda restavam. Durante cerca de sete minutos, os encarnados asfixiaram o Galatasaray com um futebol entrosado e de posse, um caudal ofensivo de grande nível e transições feitas sempre pelos corredores, com Grimaldo e André Almeida a serem de forma constante o “paciente zero” dos lances. Cervi rematou na esquerda a passe de Pizzi para defesa de Muslera, Seferovic arrancou na direita e tentou assistir João Félix e Rúben Dias esteve a centímetros de desviar um pontapé de canto e fazer o primeiro dos encarnados. A bola não entrou e o Benfica fez o que havia feito antes: baixou ligeiramente as linhas e pôs gelo no jogo.

O Galatasaray aproveitou a redução de velocidade e reorganizou a construção, apanhando em duas ocasiões a defesa encarnada descompensada e mais balançada para o ataque, em lances que só não tiveram perigo porque os turcos falharam constantemente a decisão do último passe. Bruno Lage tirou Franco Cervi e lançou Rafa, numa tentativa de explorar ainda mais o espaço existente nos corredores e apelar às combinações entre o internacional português e Grimaldo e o jogo partiu, com maior desrespeito pela organização tática e com os jogadores turcos a recorrerem de forma crescente ao coração. Sem ser brilhante, o Benfica percebeu que tinha a eliminatória e a passagem aos oitavos de final completamente na mão e geriu o resultado, sem nunca deixar de olhar com bons olhos o golo mas sem arriscar investidas ofensivas que pudessem deitar tudo a perder. João Félix, que apesar de ter tido uma grande oportunidade para marcar e ter demonstrado mais uma vez que se entende às mil maravilhas com Seferovic, esteve abaixo dos níveis a que habituou os adeptos encarnados e somou o terceiro jogo consecutivo sem marcar.

Bruno Lage tirou o jovem avançado para lançar Jonas e Fatih Terim mudou a estratégia para os 15 minutos finais, sacrificando um médio para colocar mais um avançado em campo. A mudança pouco ou nada alterou na partida — para lá de uma grande oportunidade de Diagne, que permitiu a defesa da noite a Vlachodimos — e o Benfica soube manter, gerir e controlar o nulo até ao final, carimbando o apuramento para os oitavos de final da Liga Europa. Num jogo sem grandes poupanças no onze mas com grandes poupanças de esforço, os encarnados procuraram o golo mas souberam ver que mais importante do que marcar seria não sofrer. Na semana em que renovou contrato e confiança, Lage empatou pela primeira vez desde que chegou ao comando técnico do Benfica mas o resultado sem golos sabe a vitória.