Alec Baldwin, coberto em maquilhagem laranja, com os lábios para fora, as mãos junto ao peito e uma peruca loira, tornou-se numa personagem icónica da televisão norte-americana. O ator imita regularmente o presidente dos Estados Unidos da América no programa de comédia Saturday Night Live, na NBC. Depois do último sketch, Donald Trump voltou a criticar o canal e o programa através do Twitter e agora o ator tem medo de que a segurança da sua família esteja comprometida.
Nothing funny about tired Saturday Night Live on Fake News NBC! Question is, how do the Networks get away with these total Republican hit jobs without retribution? Likewise for many other shows? Very unfair and should be looked into. This is the real Collusion!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) February 17, 2019
O comentário de Donald Trump no Twitter — “Como é que os canais conseguem mostrar estes ataques ao Partido Republicano sem quaisquer consequências? […] É muito injusto e devia ser investigado” — surgiu depois de Alec Baldwin abrir um episódio do programa parodiando o discurso em que o Presidente declarou emergência nacional para poder ter fundos para construir o que falta do muro na fronteira com o México.
O Presidente dos EUA acrescentou depois, sempre em letras maiúsculas, que “OS MÉDIA TENDENCIOSOS E CORRUPTOS SÃO INIMIGOS PÚBLICOS!”. É uma classificação habitual de Donald Trump para os críticos.
O ator começou por responder também através do Twitter, perguntando se um Presidente em funções o qualificar como “um inimigo público” era considerado uma ameaça à sua segurança, e à da sua família. Depois, numa entrevista ao podcast Dworkin Report, desenvolveu o sentimento: “[Donald] Trump envia sinais às pessoas, não necessariamente sobre o que fazer, mas sobre como se devem sentir, e isso é o início. Ao princípio faz com que as pessoas se zanguem, ao princípio faz com que as pessoas fiquem agitadas e amargas, é daí que nascem os atos”.
I wonder if a sitting President exhorting his followers that my role in a TV comedy qualifies me as an enemy of the people constitutes a threat to my safety and that of my family?
— HABFoundation (@ABFalecbaldwin) February 18, 2019
Alec Baldwin disse nunca ter temido pela sua segurança, nem pela da sua família, até agora. Mas o pedido de uma investigação ao programa, e de consequências para o canal, fizeram o ator ponderar. Não sobre um ato direto do governo, mas sim pelas possíveis reações de apoiantes do Partido Republicano e de Donald Trump.
Os comentários do Presidente Americano geraram críticas de políticos e jornalistas. O democrata Ted Lieu sublinhou que “o que torna a América grande é que as pessoas se podem rir do Presidente sem consequências”. O correspondente sénior do New York Times para a Casa Branca, Peter Baker, lembrou que “nenhum outro Presidente, em décadas, ameaçou publicamente um canal por o parodiar”. A União Americana pelas Liberdades Civis respondeu ao comentário do Presidente aludindo à proteção constitucional à liberdade de expressão: “Chama-se a Primeira Emenda”.
It’s called the First Amendment. https://t.co/vlOXOkR2Gq
— ACLU (@ACLU) February 17, 2019