Passar a Palavra é o título do novo álbum de Susana Travassos, que marca uma viragem na sua música, abordando temas sociais que “têm de ser falados”, como a violência doméstica, disse a intérprete à agência Lusa.

“Houve uma viragem na minha música, comecei a cantar questões que considero necessárias na sociedade, não só sobre a própria história, como cantar sobre o que se passa à nossa volta, e dar voz a problemáticas que precisam de ser faladas e discutidas”, disse Susana Travassos à Lusa.

A cantora e compositora citou a canção que abre o CD, “Luz da Madrugada” (Fred Martins e Ana Terra), que “fala sobre as desigualdades sociais, a pobreza, e a liberdade de expressão que está em risco”. O título do álbum, Passar a Palavra, “não é por acaso”, sublinhou.

“Não Doeu” é a canção que aborda um tema mediático e atual, a violência doméstica. Luísa Sobral, autora da música e da letra, tinha prometido há cinco anos fazer uma canção para Susana Travassos, “mas sem especificar qualquer temática”. Susana Travassos ficou surpreendida, dado a “delicadeza da questão”.

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Logo ao início fiquei apreensiva, pois não é um tema fácil de se cantar, de se vestir a pele, mas achei muito pertinente, e a canção, aos poucos, foi-se revelando, e fui encontrando uma maneira de abordar o tema — que é muito complicado –, que não fosse uma agressão às pessoas; essa foi a grande preocupação”, contou

O CD é constituído por dez temas, um deles com letra e música de Susana Travassos, “Meu Pai”, e dois temas cantados em espanhol, “Mi Gitanito”, da compositora e autora espanhola Mili Vizcaíno, atualmente a residir em Lisboa, e o tango “Naranjo en Flor”, dos irmãos Virgílio e Homero Expósito.

Susana Travassos assina ainda a letra de “Luísa”, com música de Marcos Frederico, e a de “Asas de Água”, que Alisson Menezes musicou.

“Este é um CD em que os afetos primordiais têm um lugar muito especial, é um disco de regresso, e não foi por acaso que o fui gravar a Buenos Aires, pois o meu avô cantava tangos e era um apaixonado por Carlos Gardel”, disse a cantora à Lusa.

É, ao mesmo tempo, “um disco que representa um regresso a Portugal, e apesar de querer mostrar todas as referências, quis realçar a viragem na minha música”, acrescentou.

A intérprete reconheceu as referências musicais brasileiras, reflexo de dez anos em que viveu e atuou no Brasil, tendo gravado um CD com Chico Saraiva, que intitulou “Tejo e Tietê”, os dois rios que banham, respetivamente, Lisboa e a cidade de S. Paulo.

“A música popular brasileira de certa forma ficou entranhada em mim, pois grande parte da minha formação como cantora, nos últimos dez anos, foi no Brasil, onde contactei com grandes compositores e instrumentistas”, disse à Lusa Susana Travassos, afirmando em seguida: “Neste CD tinha a intenção de me desviar da canção popular brasileira, ainda assim, acho que não consigo já”, afirmou.

A intérprete destacou os temas “Luísa” e “Meu Pai”, dedicados aos pais, realçando a importância da família “que é a nossa casa”, uma casa “que quando estamos longe acaba por ficar dentro de nós”, disse.

Outro tema que referenciou foi “Mi Gitanito”, que relacionou com a sua origem raiana, sendo natural de Vila Real de Santo António, no Algarve, e pelo facto de ter antepassados andaluzes. “Valsa para 3”, com música e letra de Chico Pinheiro, é outro destaque que faz do seu álbum. Da cantora e compositora norte-americana Melody Gardot, gravou, em inglês, “Saudade”.

“Pássaro Palavra” chega ao mercado na sexta-feira e é apresentado no próximo dia 08 de março, Dia Internacional da Mulher, no auditório Carlos do Carmo, em Lagos, no Algarve.