A Guarda Nacional venezuelana bloqueou esta quinta-feira a viagem de uma caravana de deputados da oposição a caminho da fronteira com a Colômbia, obrigando os parlamentares a sair do autocarro e a manter um breve confronto com os militares.

Segundo vídeos difundidos nas redes sociais, elementos da Guarda Nacional Bolivariana lançaram gás lacrimogéneo e foram empurrando a comitiva no túnel de La Cabrera, que une os Estados de Aragua e Carabobo.

Numa das gravações, é possível ver o deputado Richard Blanco a pedir, aos gritos, aos funcionários que permitam a passagem da comitiva e a perguntar se encontram com facilidade alimentos e medicamentos.

Na entrada de La Cabrera um grupo militar parou-nos com um comboio, mas vamos ultrapassar as armadilhas”, afirmou mais tarde em declarações que tiveram eco na televisão ‘online’ VPI.

Outras imagens mostram os deputados a atravessar a pé o túnel, mas de imediato autocarros nos quais se faziam transportar usaram o sentido inverso para ultrapassar o bloqueio.

No mesmo túnel, um camião foi travado e, de acordo com algumas informações, elementos da Guarda Nacional Bolivariana tentaram furar os pneus com facas.

Isto é uma tentativa de homicídio, não é possível os nossos polícias chegarem a isto. Este trabalho também o estamos a fazer para vocês”, declarou a deputada Mariela Magallanes citada pela agência Efe.

Os deputados partiram na manha de quarta-feira de Caracas, capital do país, com destino ao Estado de Táchira, fronteiro com Colômbia, para liderar a entrada de ajuda humanitária que se acumula na cidade colombiana de Cúcuta e que servirá para aliviar a crise que o país enfrenta.

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O confronto desta quinta-feira acontece numa altura em que se aproxima a data-limite (sábado) anunciada pelo autoproclamado Presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, para a entrada de ajuda humanitária internacional no país.

Segundo a agência espanhola de Notícias EFE, pelo menos três autocarros com deputados opositores do regime de Nicolas Maduro estão esta quinta-feira a viajar de Caracas para a fronteira oeste da Venezuela, para participarem na operação de entrada de medicamentos e alimentos da ajuda internacional oriunda dos EUA, na fronteira com a Colômbia.

Na comitiva, com cerca de cem pessoas, viaja Juan Guaidó, segundo um elemento da equipa do autoproclamado Presidente interino da Venezuela.

Os média venezuelanos reportaram que, entretanto, as autoridades policiais mandaram parar os autocarros, para verificar documentos e fazer fotografias, antes de os deixar seguir em direção à fronteira.

Na terça-feira, Juan Guaidó prometeu que no sábado fará entrar a ajuda humanitária em território vezuelanos, “por ar, por mar e por terra”, contornando o bloqueio determinado pelo governo de Nicolas Maduro, que afirmou não autorizar a ajuda humanitária oriunda dos EUA.

Esta quinta-feira, o deputado Simón Calzadilla afirmou a uma estação televisiva venezuelana que Guaidó estará no comando da caravana que assegurará a entrada dos apoios internacionais.

Tenha plena certeza de que no domingo centenas de milhares de venezuelanos receberão sua merecida ajuda humanitária e estaremos mais perto de começar a levar nosso país adiante”, disse o parlamentar.

Uma parte da ajuda humanitária está armazenada em Cúcuta, na Colômbia, e os deputados da oposição querem introduzi-la na Venezuela, no sábado, numa operação que mobilizará milhares de cidadãos.

Nicolas Maduro recusa receber essa ajuda, oriunda dos EUA, dizendo que é “um presente podre” e uma “armadilha”, para justificar uma intervenção militar norte-americana na Venezuela.

A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de janeiro, quando o líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro.

Guaidó, 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados Unidos e prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres.

Nicolás Maduro, 56 anos, no poder desde 2013, recusou o desafio de Guaidó e denunciou a iniciativa do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos.

A maioria dos países da União Europeia, entre os quais Portugal, reconheceram Guaidó como Presidente interino encarregado de organizar eleições livres e transparentes.

Esta crise política soma-se a uma grave crise económica e social que levou 2,3 milhões de pessoas a fugirem do país desde 2015, segundo dados da ONU. Na Venezuela residem cerca de 300 mil portugueses ou lusodescendentes.